Wellington Duarte: os clãs do RN e a "banda voou"

 Por Wellington Duarte*

 Há uma frase que bem representa o panorama político e administrativo do RN: a banda voou. Na verdade, diante do chiste com que vem se caracterizando o (des) governo da aliança DEM-PMDB-PR, comandado pelo chefe do clã Rosado, Carlos Augusto, e gerenciado por Rosalba Ciarlini, falar em “gestão” seria atentar contra a inteligência dos mais atentos. A afasia produz caricaturas de discursos pelos gestores e seus aliados.

A seca vem assolando o estado, mas seca é algo normal dentro da zona climática local e não deveria assombrar os clãs que vampirizam o estado há décadas. O que há de novo nessa seca? Nada! A novidade é que, na atual gestão, a forma de como os clãs governam ficou escancarada.

Nas últimas semanas vimos o teatro dos clãs. Seus chefes Agripino, Garibaldi, Henrique, Carlos Augusto, Rosalba e João Maia ajustaram suas “divergências”, como, aliás, vem fazendo desde 1978, quando montaram a “paz pública”. O roteiro é o mesmo. Um clã no poder, aliado a outro clã. Perto das eleições os chefetes de um dos clãs começam a “reclamar” e ensaiam rupturas. É o caso do deputado estadual Kéops que deu entrevistas reclamando do governo e agora é dito que poderá assumir uma secretaria. Nada de novo.

O caso da seca é emblemático. Até manifestações estão sendo organizadas pelo interior como “grito pelas águas”, coisa que o sertanejo faz desde quando as primeiras cabeças de gado pisaram o semiárido local. O que se pede? As mesmas coisas que se pediam no início do século XX. O que os clãs dirigentes dizem? As mesmas coisas que os Albuquerque Maranhão e os clãs do algodão diziam. Outro fato emblemático. Em plena seca, a Secretaria de Agricultura tá sem titular há cinco meses e o governo faz de conta que está tudo tranquilo. Descaso ou omissão? Provavelmente os dois juntos.

O caos instalado no sistema carcerário, a crise dos hospitais, as interdições parciais do Centro Educacional do Pitimbu e do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (Ciad),[1]são uma amostra do “modo DEM” de governar. Obviamente, os comissionados vem e virão a público para dizer que o estado está “tomando as providências necessárias”.

Aliás, como sempre, veremos os deputados da base falarem em “potencialidades”, “desafios” e outros verbetes mais, como forma de produzir uma sensação de que estão preocupados com a situação de milhares de potiguares que vivem sob o tacão dos clãs e castigados pela seca.

A sociedade potiguar está vivenciando um festival de aberrações que deveriam servir para que começasse um amplo movimento cívico para expulsar politicamente estes clãs e arejar a nossa tão sofrida política.

*Wellignton Duarte é professor do Departamento de Economia da UFRN, mestre em Desenvolvimento Regional e doutor em Ciência Política pela UFRN. É membro do diretório estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).