Casamento LGBT celebra diversidade e tolerância em Campinas
No Dia Internacional de Luta pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação (21/03), a cidade de Campinas sediou o primeiro casamento coletivo de homossexuais no estado de São Paulo. Foram dezesseis cerimônias, em iniciativa do Centro de Referência LGBT, da Prefeitura, realizadas no 3º Cartório de Registro Civil.
Publicado 22/03/2013 14:29 | Editado 04/03/2020 17:16

O advogado do CR LGBT, Regis Vascon, um dos idealizadores do evento e também um dos noivos, diz que a atividade foi trabalhosa, mas emocionante. “Trabalhosa porque exigiu um certo cuidado para que as pessoas de identidade de gênero diversificada tivessem seu nome social respeitado. Eu tive que enviar vários documentos, despachar com o juiz e fazer reuniões com o cartório para que tudo funcionasse. E foi emocionante porque eu recebi cada casal – cada noiva, cada noivo – conheci suas histórias de vida e, em alguns casos, até opinei em relação ao regime da união”.
O que significa a união legal para ele? “Para mim, não muda em relação ao amor, porque esse já existia. A mudança real é em relação aos direitos, aos direitos sociais e patrimoniais. Hoje, nós estamos construindo um patrimônio e se eu morrer esse patrimônio é dela, e é isso o que me importa.”
Kátia, esposa do Regis, viveu um período de muita ansiedade, muito nervosismo e muita correria. “Mas, agora eu estou feliz da vida, sou a Kátia Aparecida Marins Vascon, e estou realizada. Daqui para frente é só alegria”, afirma sorrindo.
Deco Ribeiro, marido de Lohren Beauty (Chesller Moreira), sente-se realizado. “A gente mora junto há sete anos, só que não era uma união oficial porque o Estado não reconhecia a nossa união. A gente era colega, amigos que moravam juntos. Hoje estamos casados, somos uma família. Ele era Moreira, eu era Ribeiro, agora somos os Moreira Ribeiro”. E isso, para ele, é uma vitória pessoal. “Eu estou vivendo com a pessoa que eu amo e vou viver com ela para sempre. É uma vitória política também, porque mostramos para o sistema, o Estado, a sociedade, que os homossexuais têm os mesmos direitos que os hetero.”
Para a noiva, Lohren, “é mais do que uma união, é a constituição de uma família. A partir de agora, eu tenho o direito, por lei, de falar que somos uma família de verdade, como tantas outras. É a construção de toda uma vida, de toda uma nova história.”
O pai de Deco, Ivan Jorge Ribeiro, sabia há quase vinte anos da opção do filho. “Como eu já desconfiava, para mim foi um alívio quando ele se declarou gay. Eu sempre encarei isso de uma maneira natural. Meus amigos todos sabem que eu tenho um filho gay. Para mim, este momento é a concretização de um sonho que o meu filho tinha e que a Lohren também tinha. Fico feliz por eles e fico feliz por mim, que estou casando o segundo filho”.
Álvaro Ernesto de Moraes Silveira, Oficial Titular do cartório, considera que momentos como esse são importantes para combater a discriminação. “Cada um tem a sua opção e essa opção tem que ser respeitada. É o que nós fazemos aqui. Já fizemos outros casamentos anteriormente, mas havia um pouco mais de dificuldade em transformar a união estável em casamento. Nós fomos o único cartório de Campinas que aceitou porque o nosso juiz corregedor, o doutor Torrano, autorizava fazer o casamento. Este cartório foi pioneiro. Nós não discriminamos ninguém. Para nós, foi uma felicidade muito grande fazer esta cerimônia. Nós estamos felizes porque todos estão felizes”.
Aline Priego, a juíza de casamento que realizou as cerimônias, considera que foi uma conquista na busca por direitos iguais. “Eu parabenizo todos os casais por essa vitória. Para mim, fazer casamentos é um prazer e eu faço isso com muito gosto. Este momento derruba barreiras, é um grande passo para toda a sociedade.”
Às 16h39, a juíza Aline encerrou a última cerimônia com as seguintes palavras: – Diante da vontade que ambas acabaram de afirmar perante mim, de vos receberdes; eu, Aline, em nome da lei vos declaro casadas!
Logo após, noivas, noivos e convidados, participaram de uma celebração, onde o CR LGBT homenageou os recém casados com poesia declamada ao som de um violinista tocando "Eu Sei que Vou te Amar", de Tom Jobim. Foi pedido um minuto de silêncio para que cada um, dentro de sua espiritualidade, pedisse benção para aquelas uniões. "A cerimônia foi muito emocionante, estou orgulhosa por estar aqui, é um evento revolucionário e histórico", comentou Malu Alencar, assessora do mandato do vereador Gustavo Petta (PCdoB). Um coquetel com os noivos estourando champanhe e brindando o casamento, encerrou a celebração.
De Campinas, Edna Madalozzo e Agildo Nogueira Junior