Assembleia sinaliza prioridade no combate à desigualdade no FSM

Milhares de mulheres vindas de mais de 100 países deram demonstrações de solidariedade pelo fim da violência doméstica, pela emancipação e empoderamento da mulher durante a Assembleia de Mulheres, no Fórum Social Mundial (FSM) na Tunísia.

Por Deborah Moreira, enviada especial do Vermelho em Túnis

Deborah Moreira/ Portal Vermelho

Este será o Fórum das Mulheres

Não foi a primeira vez que o encontro ocorreu durante o evento, mas foi a primeira vez que ele abriu oficialmente as atividades do Fórum, numa clara demonstração de que esta edição será das mulheres.

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Não havia mais lugar no amplo auditório da Faculdade de Direito, da Universidade El Manar, onde se concentram as atividades do FSM, e uma multidão ainda se amontoava do lado de fora, quando começaram os discursos das feministas.

Liège Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB, presente na Assembleia de Mulheres, na manhã de terça-feira (26), contou com entusiasmo como foi testemunhar o encontro.

“Foi um momento muito importante pelo fato de a assembleia ter precedido a marcha, o que também proporcionou uma grande concentração de pessoas no local, com a maioria esmagadora de mulheres presentes, mas também de homens de diversos países. Foi no grande auditório da Faculdade de Direito e mesmo assim não comportou todo mundo. Muitos ficaram do lado de fora. Em um clima de muita mobilização, onde as mulheres gritavam palavras pela solidariedade e em defesa dos direitos das mulheres”, recordou Liège Rocha logo depois da atividade e já a caminho da marcha de abertura do FSM, que ocorreu depois da assembleia.

Apesar do clamor pela unidade do movimento de mulheres em todo o mundo, a comunista, que também faz parte da União Brasileira de Mulheres (UBM), chamou a atenção para o fato de que não foi tirado um documento e nem se quer indicações de diretrizes conjuntas, que contribuem para avançar nas conquistas.

“Não se aprovou nenhuma resolução nessa assembleia, ao contrário da tradição nos Fóruns, que é de se aprovar uma resolução com as diretrizes para a continuidade das lutas. Foi mais um momento de expressar a luta de cada uma, com muita garra e muita vibração que clamavam pela unidade”, ponderou Liège Rocha, que participou de outras assembleias ocorridas durante edições anteriores do FSM. “O Fórum sempre teve uma presença marcante das mulheres e as assembleias de mulheres têm sido sempre nessa perspectiva da unidade da luta, da mobilização, do estímulo à participação de todas”, completou.

Raimunda Gomes, a Doquinha, secretária da Mulher da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), também esteve presente na assembleia e estima que a participação superou a expectativa dos organizadores: “Foi [um ato] muito simbólico e acredito que tenha até superado a expectativa com relação ao número de participantes. Estava lotado, ninguém conseguia mais entrar”.

A luta é a mesma: contra o machismo

Indagada sobre as bandeiras de luta feministas do mundo árabe, que são específicas, porém, não menos legítimas visto que combatem o machismo e o sexismo, Liège fez questão de salientar que as lutas das tunisianas, das sírias, das indianas, entre outros países do magreb-marschrek, são as mesmas: “O clima da assembleia, além de se colocar essa questão da solidariedade entre as mulheres também se colocou com força o combate à violência contra a mulher, já que esse é um mal que atinge a todas as mulheres do mundo e isso ficou patente, e também a questão da luta pela paz.”

Já Doquinha lamentou o fato de somente uma brasileira ter falado durante o encontro. Somente uma mulher representou o Brasil na assembleia. A trabalhadora rural Gislei Knierim, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina, que fez um discurso com fortes críticas ao agronegócio “que prejudica a produção de alimentos brasileiros e as mulheres agricultoras são as mais atingidas” pela violência. principalmente as mulheres agricultoras”. Gislei lembrou das conquistas do movimento no campo, como na América Latina, no entanto, alertou para manter firme o espírito de luta para que não haja retrocessos.

“Foi uma troca de experiência, muito salutar. Do Brasil lamentavelmente somente uma entidade pode falar. Mas, mesmo assim, acredito que passamos a visão do Brasil na luta pelo fortalecimento e empoderamento das mulheres com os movimentos sociais”, declarou Doquinha.
Representantes de movimentos feministas europeus também abordaram a problemática das que vivem e trabalham no campo, acumulando funções, mas com remuneração inferior a dos homens.

A busca pela autonomia das mulheres estava sempre sendo lembrada nos discursos, principalmente relacionada à estabilidade financeira. Entre as alternativas, foi lembrada a iniciativa popular batizada como economia solidária – criada em Bangladesh, Índia, pelo economista Mor Muhammad Yunus, prêmio Nobel.

Tanto Liège, quanto Doquinha têm a certeza de que o movimento de mulheres internacional não será mais o mesmo depois de Túnis: “Vamos voltar aos nossos países mais enriquecidos no sentido de que é possível sim construir um mundo melhor”, enfatizou a dirigente sindical da CTB.
“Está bastante presente a confluência em relação a algumas lutas, não somente específicas, como a autonomia da mulher, mas também mais amplas, como o enfretamento ao imperialismo e a luta pela paz. Tem muitas atividades promovidas por mulheres, então vai ser um fórum com a presença marcante das mulheres”, enfatizou Liège.

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