AP compromete-se com retomada do processo de paz com Israel

O presidente da Autoridade Palestina (AP) Mahmoud Abbas comprometeu-se nesta quinta-feira (4) a "dar uma chance" à retomada de negociações de paz com Israel, enquanto o líder do Hamas (que governa a Faixa de Gaza), recentemente reeleito, Khalid Mashaal prometeu trabalhar pelo final das controvérsias com o Fatah, partido que governa a AP, na Cisjordânia. 

Mohamed Abbas e Khaled Meshaal

Mashaal disse, durante uma conferência pró-Palestina no Cairo (capital do Egito), que o Hamas afirma a sua postura favorável ao término da divisão e de seus efeitos negativos, de acordo com a agência de notícias Safa.

Entretanto, indicou que o partido não renunciaria à oposição mantida à existência de Israel nem ao uso da violência, condições impostas por Israel e pelos EUA para aceitar o Hamas como interlocutor em um governo palestino. As atividades de resistência desempenhadas não só pelo Hamas mas também por outros grupos da Faixa de Gaza (bloqueada desde 2006 pelo governo israelense e vítima de constantes ofensivas militares aéreas e terrestres) têm sido usadas como justificativa por Israel para excluir o partido e culpá-lo pela violência.

“A ocupação [israelense] explora a divisão e colocou obstáculos à reconciliação [com o Fatah]”, disse Mashaal. O Hamas trabalhará pela unidade, “mas isso não significa abandonar posições fixas”.

A reeleição de Mashaal foi confirmada nesta quinta-feira (4). Ele foi escolhido por voto dentro do movimento, que é considerado um “grupo terrorista” pelos Estados Unidos, pela Europa e por Israel, e por isso excluído das ocasionais negociações de paz.

As tensões entre os partidos rivais escalaram em 2007 para confrontos violentos nas ruas de Gaza, o que culminou com a expulsão do Fatah da Faixa.

Embora os dois tenham assinado um acordo de unidade em abril de 2011, a reaproximação tem caminhado lentamente, e o Hamas abandonou recentemente o seu escritório central em Damasco (capital da Síria) para estabelecer suas bases políticas no Catar e no Egito.

O presidente Abbas, por outro lado, disse que irá congelar temporariamente qualquer ação unilateral contra Israel para “dar uma chance” às negociações de paz a serem mediadas pelos Estados Unidos, de acordo com uma fonte oficial, nesta quinta.

Entre as medidas que serão suspensas estão as relacionadas com as agências da ONU e um caso a ser levado ao Tribunal Penal Internacional contra Israel, por exemplo.

O passo unilateral dos palestinos de buscar um status mais alto na ONU em 2012 foi considerado uma “provocação” pelos EUA e por Israel, embora o reconhecimento de um Estado da Palestina (como observador não membro da ONU) tenha ganhado relevante apoio internacional, atendendo às inúmeras resoluções da própria organização, desde 1948, sobre o direito dos palestinos à autodeterminação.

O compromisso da Autoridade Palestina será de dois meses de abstenção com relação a demandas direcionadas às agências da ONU, com a visita do secretário de Estado dos EUA John Kerry marcada para este sábado (6), para a tentativa de retomar o processo de paz. 

Entretanto, a recente escalada da violência por Israel (com ataques à Faixa de Gaza, a morte de dois adolescentes em protestos na Cisjordânia e a denúncia de tortura e maus-tratos a prisioneiros palestinos, por exemplo) também foram denunciadas como graves riscos à retomada dos diálogos.

O oficial palestino ressaltou também que se Israel não congelar a construção de assentamentos em terras palestinas (uma pré-condição palestina para a retomada de qualquer conversação), a AP retomaria imediatamente as suas atividades nos organismos internacionais.

A construção de assentamentos israelenses em território palestino tem sido criticada internacionalmente como altamente prejudicial tanto para a retomada das negociações (pois elevam as tensões e desconfianças dos palestinos com relação a Israel) e, especialmente, para o estabelecimento de um Estado palestino viável.

Um expoente dessa situação foi o anúncio recente e retaliatório (ou seja, uma punição à Palestina pelo pedido de reconhecimento levado à ONU) de construções na área denominada Leste 1 (E1 em inglês), na Cisjordânia, que segundo atores internacionais impossibilitará o estabelecimento de um território contíguo na região, para a formação de um Estado da Palestina.

Com agências,
da redação do Vermelho