Joel Batista: "Um dia de saques e pânico"

“Um dia de saques e pânico”. Essa era a manchete do jornal Folha de São Paulo” um dia após manifestação de grande repercussão, em 4 de abril, por parte do movimento dos desempregados (Comitês de Luta Contra o Desemprego) que eclodiu de forma impetuosa por causa do grande desemprego que grassava nas capitais brasileiras, particularmente em São Paulo.

Por Joel Batista*


reprodução FSP

Escaramuças entre manifestantes ocorreram por vários dias, inclusive em outras cidades do estado e outras capitais, como o Rio de Janeiro, onde supermercados, lojas e caminhões são saqueados e ônibus apedrejados.

Repressão policial

Mas foi principalmente nos dias 4 e 5 de abril de 1983 que a batalha entre desempregados, apoiados por entidades da sociedade civil de um lado e, aparatos da repressão militar, do outro, teve maior intensidade. Até as grades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual de São Paulo, foram derrubadas. Os protestos se espalharam por 40 quilômetros de ruas. Foram presos 566 manifestantes, 127 feridos. Um homem morreu baleado durante um saque no jardim São Luís.

Apoios ao movimento dos desempregados

As manifestações começaram em Santo Amaro, bairro proletário da zona sul da capital paulista com uma passeata de cerca de 2.500 pessoas que se concentraram no Largo 13 de Maio e se alastrou para outros bairros, inclusive próximo à Praça da Sé, onde fica o marco zero da cidade. Diz a FSP, do dia 5 de abril, que a manifestação foi apoiada pelo Movimento Contra a Carestia e o escritório político do então deputado federal Aurélio Peres, do PMDB, que era vinculado ao PCdoB, o que é um fato. É bom lembrar que no dia 15 de março, poucos dias antes, tomaram posse os governadores eleitos em 1982, vários deles de oposição ao regime militar, entre eles o governador Franco Montoro, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e que o então general “presidente” de plantão era João Batista Figueiredo.

Causas do desemprego

Nesta época o país estava imerso em grave recessão, sendo monitorado pelo FMI, que exigia exportações e saldos financeiros para pagar os credores externos. A inflação rondava os 150% ao ano. Depois de quase quinze anos de crescimento acelerado, em 1981 o PIB recua 4,4 % e cai para 3,4 em 1983. O desemprego, medido pelo IBGE nas seis maiores capitais, ficou na casa dos 7% entre 1983 e 1984, recorde histórico.

No dia 6 de abril o matutino FSP estampava “A violência se alastra e Montoro promete ordem”. O governador, de perfil democrático, recebeu nestes dias uma comissão dos desempregados, da qual fiz parte (era do Comitê de Luta Contra o Desemprego da zona oeste) e fez pronunciamento na TV anunciando tomar medidas para conseguir 40 mil novos empregos. Em 1988 elegemos o metalúrgico Vital Nolasco, eletricista da fábrica Metal Leve e em 2000 o condutor de veículos Alcides Amazonas como vereadores do PCdoB da capital, que fizeram vários projetos para combater o desemprego na maior cidade do país.

* é ferramenteiro, diretor executivo da Fitmetal – Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil e membro da Secretaria Sindical Nacional do PCdoB.