Como pensar o Maranhão com otimismo?, por Lígia Teixeira

 

Maranhão
Sempre acreditei que a conjuntura socioeconômica de um estado ou país depende tanto dos humores coletivos quanto de políticas de estado.

O grande mérito desses dez anos de governo do PT, talvez tenha sido a inserção pela via da autoestima, de milhões de brasileiros que até então se sentiam emocionalmente excluídos do projeto de desenvolvimento do país.

A mudança de autopercepção do povo brasileiro foi fundamental para as conquistas econômicas do Brasil.

Mas, o Maranhão não seguiu o mesmo curso. Os últimos dez anos, do ponto de vista da autoestima do povo, foram os mais difíceis da história do estado.

Pelo menos desde 2002, as frustrações com as tentativas mais efusivas de romper as lógicas de mandonismo local, foram se acumulando e hoje o cenário que parece prosperar é o de pessimismo e desesperança.

Entre os mais pobres, há uma espécie de embrutecimento pragmático. Sem condições de subsistência em seus municípios de origem, os maranhenses protagonizam uma verdadeira diáspora para a capital São Luís ou para municípios vizinhos, especialmente Pará, Tocantins e Goiás.

Descrentes da mudança na realidade social do estado, os que permanecem em suas cidades de origem, institucionalizaram a dependência da máquina pública, seja pela via da adesão generalizada aos programas de transferência de renda do governo federal, seja pelo fortalecimento do vínculo com chefes políticos locais.

Nas classes médias urbanas, a situação é semelhante. Protagonistas históricos dos discursos de renovação e mudança de costumes, percebe-se um esgotamento de valores ideológicos entre os maranhenses que possuem melhores índices de educação e renda.

A classe média não consegue mais operar com os tradicionais conceitos de “oligarquia”, “oposição” e “situação”. Parte da responsabilidade pela perda da dimensão desses conceitos é dos intelectuais, que encastelados na universidade, passaram a pregar uma espécie de niilismo generalizado, desistindo da ampliação do debate sobre a realidade maranhense.

O crescente processo de despolitização da política e a desmoralização das instituições democráticas locais, ardil propositalmente orquestrado pelos grupos que detém a hegemonia política e cultural do estado, homogeneizou a percepção a respeito da classe política.

A frustração com a interrupção prematura do processo de alternância do poder estadual, cujo ápice foi a cassação e posterior falecimento do ex-governador Jackson Lago, afastou ainda mais a classe média do debate público.

Vencer pelo otimismo

Atualmente há um processo de reoxigenação política dentro da própria oposição.

Com a decepcionante gestão de João Castelo (PSDB) à frente da prefeitura de São Luís e o enfraquecimento da ala histórica do PDT que liderou a oposição por 20 anos, houve espaço para a emergência das novas lideranças que tem propiciado, pela primeira vez, a organização da oposição a partir de um projeto não resultante de cisão intraoligárquica.

Esse dado é extremamente relevante e nele encontra-se a solução para a retomada do interesse público pelo Maranhão.

Aos poucos, a nova oposição vai retomando o otimismo em relação ao estado, estimulando a organização de debate para além das velhas dicotomias.

A reação do grupo político hegemônico à emergência de uma oposição autônoma, tem se dado na orquestração política de “governar pelo caos”.

O aumento desenfreado da violência, a desagregação social e a perda da dimensão de individualidade dos sujeitos, cada vez mais divorciados de uma identidade regional própria, não acontecem por acaso. Pelo contrário, trata-se de uma tentativa clara para manter o pessimismo coletivo, a ausência de interesse pelas questões públicas, e, portanto fortalecer a ideia de continuísmo.

Evitar a retomada do otimismo, tem sido, portanto, a grande estratégia para manter as coisas como estão. Basta prestar um pouco de atenção para perceber que o discurso dos meios de comunicação do sistema dominante, difundem a ideia de que depois de tantas tentativas, não se pode mais mudar o Maranhão pela via da oposição e que não podendo mudá-lo, o melhor a fazer seria deixá-lo como está.

Retomar o otimismo e vislumbrar um futuro melhor, no entanto, é uma tarefa que exige, antes de tudo, reinserir na mentalidade maranhense a ideia de pertencimento.

E para que os maranhenses sintam-se pertencentes ao estado, o pontapé inicial é expandir os interlocutores por meio da ampliação do diálogo e da inserção de novas práticas entre as lideranças políticas emergentes.

Fonte: Maranhão da Gente.