Especialistas defendem aplicação do Estatuto da Defesa Civil 

O país ganhou legislação mais coerente com a visão preventiva a partir da vigência do Estatuto de Proteção e Defesa Civil, no ano passado. Porém, muitas medidas ainda precisam se aplicadas. Essa foi a conclusão do debate realizado pela Comissão Mista Permanente Sobre Mudanças Climáticas (CMMC), nesta terça-feira (23), sobre avanços e impasses enfrentados pelo país em relação a políticas de prevenção de desastres naturais.

Especialistas defendem aplicação do Estatuto da Defesa Civil

“Não creio que legislar tenha sido o grande desafio: o maior está por vir, quer é tornar o Estatuto uma realidade”, admitiu Daniel do Couto Silva, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

A audiência tratou ainda da preparação da participação do Brasil para a 4ª Plataforma Global para a Redução de Riscos de Desastres, coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada em Genebra (Suíça) de 20 a 24 de maio. A presidenta da comissão, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), diz que um dos um dos objetivos do evento é permitir o intercâmbio de medidas de adaptação bem sucedidas.

A intenção é debater experiências sobre “cidades resilientes” (resistentes ao choque), adaptadas a conviver com desastres naturais, que tendem a ser cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas. “Não sou nenhum alarmista, mas já temos indícios que nos mostram o aumento dessas incidências no Brasil”, afirmou Daniel Silva.

Para Daniel, intensificar as medidas de prevenção e respostas pode ser insuficiente diante de um cenário que tende a se agravar. Por isso, apontou a necessidade de adaptação dos assentamentos urbanos à convivência com a nova realidade. Ele adiantou que o MMA deve concluir, até 2015, o chamado Plano Nacional de Adaptação.

Grande avanço

Aprovado há um ano, o Estatuto de Proteção e Defesa Civil estruturou o atual sistema de prevenção e resposta a desastres, como enchentes ou secas. O texto prevê a atuação articulada entre União, estados, Distrito Federal e municípios, com participação da sociedade, para redução de desastres e apoio às comunidades atingidas.

O texto foi acoplado a uma medida provisória que tramitava na Câmara dos Deputados. Inicialmente, o relator no Senado, senador Casildo Maldaner (PMDB-SC), desejava alterar a proposta dos deputados. Um dos objetivos seria criminalizar a conduta de agente público ou privado que permitisse a ocupação de áreas de risco. Porém, para evitar a perda de prazo da MP, ele desistiu das emendas depois de o governo se comprometer a enviar ao Congresso um novo marco regulatório.

Na audiência, Maldaner informou que a nova proposta deverá ser enviada ao Congresso em maio, conforme indicações da Casa Civil. Na tramitação da proposta, ele pretende sugerir alterações que já constam de projetos de sua autoria, como a criação de fundo para a prevenção de desastres com percentuais de cada seguro comercializado no país e, ainda, de parcela da receitas das loterias federais. De acordo com Maldaner, a arrecadação pode chegar a R$3 bilhões anuais.

Para o deputado Glauber Braga (PSB-RJ), o relator que modificou a MP do Estatuto, as propostas apresentadas no texto representam grande avanço para a defesa civil no país. Entre as lacunas, ele destacou a demora na definição de cadastro dos municípios considerados vulneráveis, o que depende de regulamentação do governo.

Conscientização da sociedade

O secretário Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração, Humberto Viana, disse que o cadastramento está avançando: foram mapeados 300 dos 800 municípios considerados de risco. Ele frisou o papel da sociedade na prevenção de desastres e salientou que se deve conscientizar a respeito de atitudes prejudiciais.

“É importante saber do papel que tem quando acumula lixo na boca de lobo, quando tira a vegetação natural e desestabiliza o talude ou quando faz um puxadinho que contribui para graves consequências”, assinalou.

Para Milton Rondó, que dirige no Ministério das Relações Exteriores a Coordenação de Ações Internacionais de Combate à Fome, as políticas de prevenção devem ser inclusivas, dentro de uma visão de promoção de direitos de cidadania. Ele disse que as ocupações em áreas de risco, por exemplo, decorrem da ausência de qualquer outra alternativa para quem é pobre e não consegue comprar um terreno em área habitável.

Da Redação em Brasília
Com Agência Senado