Música de Chico Buarque vira tema de filme em cartaz nesta sexta

A poucas semanas da sua première mundial em Cannes, em 2011, o longa de Karim Aïnouz inspirado na canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque, ainda não tinha título. O filme era chamado provisoriamente de "Violeta", em referência à protagonista. "Às vezes, é preciso fazer como muitos pais e esperar o bebê nascer para escolher o nome. É na montagem que costumo reescrever e redescobrir o filme", diz Aïnouz.

A exemplo de "O Céu de Suely" (2006) e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" (2009), o diretor e roteirista cearense procurava um título menos óbvio, mas que desse significado à história – uma mulher atordoada ao ser abandonada pelo marido, por mensagem deixada no celular.

"Caminhando pelas ruas de Berlim, vi um bar chamado Silver Future, com o slogan 'Stand on the edge of a silver future' ['Fique à beira de um futuro prateado']. Isso ficou na minha cabeça", diz. Quando reviu a cena com a sua protagonista, vivida por Alessandra Negrini, na borda de penhasco em Copacabana, veio a ideia de usar a palavra "abismo". "Mas não queria uma conotação negativa, já que a personagem não se vitimiza. Como ela se reinventa, surgiu o prateado, que também vem de encontro com as imagens das ondas do mar, à noite."

Em cartaz nos cinemas a partir desta sexta-feira (26), "O Abismo Prateado" nasceu do desejo de Aïnouz de iniciar um projeto a partir de uma música. "Foi o encontro de uma canção de sucesso com a questão do abandono, que ainda me persegue, por razões pessoais."

No filme, selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e vencedor do prêmio de melhor direção no Festival do Rio de 2011, quem sofre a experiência de ser deixada para trás é a dentista Violeta. Sua vida segue nos trilhos, com o apartamento novo em Copacabana, a rotina no consultório, o casamento e o filho adolescente. Pelo menos até o marido ir embora, sem dar explicações, além do temido "Eu não te amo mais".

A frase desencadeia a jornada de Violeta em busca de respostas e de consolo. "O filme é narrado do ponto de vista feminino. O sofrimento dela só existe por conta de uma covardia, algo mais relacionado com a subjetividade masculina, que evita o tal 'olhos nos olhos' na separação."

Fonte: Valor Ecômico (Cultura)