Palestina: Fayyad defende relevância e engajamento da liderança

O primeiro-ministro palestino Salam Fayyad, que pediu demissão em meados de abril, convocou a liderança palestina a “continuar relevante e engajada”. O oficial que está cumprindo o papel de gestor do governo enquanto novas eleições são planejadas, fez este apelo desde o seu escritório em Ramallah, Cisjordânia.

Salam Fayyad (Autoridade Palestina) - JPost

Em uma entrevista exclusiva e ampla para Al-Monitor, portal que acompanha e analisa as notícias do Oriente Médio, Fayyad explica a razão de sua visão otimista, apesar do pessimismo generalizado. “Um evento inesperado poderia ocasionar um grande avanço” ao capturar a atenção das pessoas, ele afirma.

“Isso poderia ser tão simples quanto um vídeo do Ahmad de Hebron”, disse, em referência a um vídeo no Youtube que recebeu alto índice de visualizações, em que um garoto de 15 anos pergunta inocentemente a um soldado israelense, que veio prendê-lo, se ele poderia adiar a detenção em um dia, pois teria um teste importante na escola.

O primeiro-ministro conta, com detalhes vívidos, sobre suas conversas com o secretário de Estado dos EUA John Kerry, e sobre sua conversa direta com o presidente Barack Obama. Com ambos, Fayyad disse ter sublinhado os aspectos práticos, deixando a discussão política para o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Fayyad fez reflexões sobre o caso dos agricultores palestinos do Vale do Jordão, dizendo aos interlocutores estadunidenses para “imaginar terem canos de água atravessando as suas terras, ouvindo o fluxo da água chegando a um assentamento judeu vizinho, mas incapaz de aceder a uma gota de água sequer para a sua própria terra”.

Construir a infraestrutura do Estado palestino sempre foi o foco de Fayyad no governo palestino. Ele pressionou a favor de um aeroporto palestino perto de Jericó (na Cisjordânia, perto do rio Jordão), e defende a necessidade de desenvolver os 65% da Cisjordânia que os palestinos são impedidos de aceder porque estão classificados de Área C pelos Acordos de Oslo (da década de 1990), controlados militarmente e com administração civil gerida por Israel.

Aparentemente, o presidente Mahmoud Abbas tem tido dificuldades em encontrar um candidato para substituir Fayyad, seja dentro do seu partido Fatah, ou de outros partidos.

Baseado em sua expectativa de um ponto de virada, Fayyad afirma que os palestinos precisam continuar vigilantes, relevantes e engajados. Ele considera um erro evitar esse potencial a favor de um comportamento complacente e pessimista.

Especulações sobre o retorno de Fayyad ao Fundo Monetário Internacional foram vividamente rechaçados pelo político, que diz ainda ter muito a fazer pela causa palestina, fazendo menção aos contatos com setores da sociedade palestina engajados na resistência não-violenta.

Fayyad diz que havia tentado, como primeiro-ministro, manter contatos com os habitantes de Jerusalém, mas foi impedido pelo governo israelense, que considera a cidade a sua capital, após a anexação unilateral da porção palestina.

"Fayyadismo"

Mesmo enfrentando pressões estruturais impostas pela ocupação israelense, seja na forma da presença de colonos, de soldados e postos de controle militar (são cerca de 600 em todo o território), ou na administração civil, que torna quase impossível, institucionalmente, o desenvolvimento palestino, Fayyad tem sido reconhecido internacionalmente por sucessos significativos, djunto com o governo palestino.

Em abril de 2011, o Banco Mundial (BM) efetivamente "certificou" a Autoridade Palestina (AP) como "bem posicionada para estabelecer um Estado a qualquer momento, num futuro próximo".

Desde então, o BM tem reafirmado tal conclusão, enquanto advertindo que "as restrições e controles israelenses (…) tem um impacto fundamental não só no crescimento econômico mas também em limitar a habilidade da AP de desenvolver suas instituições, assim como em limitar seu espaço político para ações em reformas mais profundas".

Palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza têm perdido as esperanças no processo de Oslo, do qual o "Fayyadismo" é apenas a mais recente manifestação. Em setembro passado, realizaram protestos contra os custos gerais, o que foi tomado como um sinal contrário às medidas de austeridade de Fayyad, e resumido em uma exigência pelo cancelamento dos próprios Acordos de Oslo.

Tendo chegado ao limite do que poderia ser alcançado, uma vez que a contrapartida israelense nos Acordos não são cumpridas, e na ausência de um progresso político percecptível no dia-a-dia, é natural que o precesso seja visto como uma falha.

Fayyad começou no governo como ministro das Finanças, após ter trabalhado no FMI, e tornou-se o primeiro-ministro no cargo por mais tempo, na Palestina.

Com Al-Monitor