José Reinaldo: Traços da situação internacional – Parte 2

Tenho reiterado que o mundo vive uma situação alarmante e perigosa. É um ponto de vista que contrasta o senso comum e se choca frontalmente com a opinião publicada nos grandes meios de comunicação. Não consigo enxergar meios tons na política das potências imperialistas, nem concebo que se possa considerá-la com neutralidade, em nome de uma falsa objetividade.

Por José Reinaldo Carvalho*

 Há situações emblemáticas em que se manifestam equívocos, até mesmo por parte de setores de esquerda, que por convicção ou medo capitulam diante de pressões de diferentes tipos. Confunde-se amplitude, multilateralidade na análise dos fatos com uma posição ambígua perante o inimigo, que passa a merecer inclusive aprovação em algumas das posições que defende.

Em torno de conflitos agudos da cena internacional, é comum a manifestação de opiniões reveladoras de desorientação e de capitulação às posições das grandes potências. As sanções ao Irã, a ação das potências imperialistas na crise síria, a intervenção armada na Líbia, a crise na Península Coreana e até os crimes do regime sionista israelense contra o povo palestino não raro recebem o beneplácito de militantes de esquerda ou mesmo de organizações desse campo político.

O fenômeno é recorrente e já foi observado em outras conjunturas políticas. Mas, com a eleição e reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, as ilusões com a possibilidade de um imperialismo benéfico aumentaram.

Hoje já se pode fazer um balanço deste período iniciado em 2008 e constatar que, pelo contrário, permanece em curso uma brutal ofensiva dos potentados internacionais e das classes dominantes retrógradas contra as liberdades e os direitos fundamentais, a soberania e a autodeterminação dos povos e nações.

O mundo está cada vez mais inseguro. Além da doutrina da “guerra ao terrorismo”, à qual a atual Administração estadunidense não renunciou, que na prática é uma doutrina genocida da guerra permanente contra os povos insubmissos, os EUA promovem a crescente militarização do planeta, subtraindo investimentos sociais, para destinar cada vez maiores recursos ao financiamento de suas aventuras bélicas. Disseminam bases militares cercando todos os continentes. O imperialismo estadunidense e seus aliados dominam os mares, os continentes e o espaço sideral, além de controlar e promover a escalada nuclear. Independentemente da facção política no poder, seu governo atua, em todas as regiões do mundo, para manter a sua hegemonia, usando para isso principalmente a chantagem e a ameaça militar. Neste sentido, aumentou o papel da Otan. Quanto à América Latina, a superpotência pretende exercer o seu poderio bélico através de bases militares e da 4ª Frota. Apesar da retórica "multilateralista" e pacifista, aumentam a agressividade e o militarismo das potências imperialistas, que se manifestam na militarização acentuada das relações internacionais, no monopólio das armas nucleares, na ameaça do uso destas armas e outras de destruição em massa, na instalação de bases militares, na hipertrofia de organizações agressivas, como a Otan, na existência das frotas navais do imperialismo estadunidense, uma das quais é a Quarta Frota, dedicada a ameaçar a segurança, a paz e a estabilidade na América Latina e Caribe.

A militarização é um dos principais traços da situação internacional e o aspecto essencial da política imperialista para oprimir os povos e assegurar os seus interesses de rapina. A Otan aumentou o número dos seus membros e ampliou sua área de operações, promove uma corrida armamentista, aumenta cada vez mais as suas despesas militares, e investe na criação de novas armas e na ampliação da sua rede mundial de bases militares. Envolve-se em numerosas operações militares em diversas regiões. A Otan ampliou a sua área de intervenção desde o início dos anos 1990. Na Cúpula de Roma em 1992, em Washington em 1999, e em Lisboa em 2010, a Otan aprovou uma nova doutrina que lhe permite efetuar intervenções armadas em todo o mundo. Pretextos como o combate ao terrorismo, ou o estabelecimento da democracia, têm sido utilizados para legitimar a extensão das operações de guerra da Otan a novas áreas geográficas. A bárbara guerra contra a Iugoslávia e a sangrenta invasão do Afeganistão foram alguns dos primeiros exemplos das consequências práticas desta nova doutrina. Recentemente, a Otan protagonizou a guerra contra a Líbia e tem-se tornado um instrumento para derrubar governos no Oriente Médio e no Norte de África. A atual intervenção militar da França no Mali, que conta com a participação e aprovação de vários outros países membros da Otan, dá continuidade à guerra de agressão da Otan contra a Líbia. Para dar consecução aos seus planos intervencionistas e de militarização, o imperialismo fomentou também a criação do Comando Africano (Africom).

* José Reinaldo é jornalista, especialista em Política Internacional e editor do Portal Vermelho