José Reinaldo: Traços da situação internacional – Parte 3

O mundo está passando por importantes transformações geopolíticas. Alterações na correlação de forças, evolução das contradições imperialistas, ofensiva imperialista, intervenções militares, aumento da militarização, surgimento de novos polos geopolíticos, como reflexo da emergência de novos blocos econômicos e aumento da resistência e da luta dos povos são alguns dos aspectos que conformam a situação internacional marcada por crescentes instabilidade e incertezas. 

Por José Reinaldo Carvalho*

O agravamento da crise enseja o surgimento de uma nova situação geopolítica que questiona a velha distribuição do poder no mundo. Abre-se um período de transição cujos contornos não estão definidos, manifestando-se como fenômeno saliente o relativo declínio do imperialismo estadunidense. Não obstante, os EUA ainda detêm a maior força econômica e militar, assim como a maior influência política. E põe em prática ofensiva brutal para assegurar a sua hegemonia mundial. Por isso este império constitui o principal fator de instabilidade e fomento de agressões contra os povos do mundo.


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O pano de fundo das alterações geopolíticas é o conflito entre duas tendências objetivas e antagônicas entre si. De um lado, o imperialismo estadunidense e a União Europeia, com todo o seu aparato político estatal, diplomático e militar, integrado pela monstruosa máquina de guerra que é a Otan e por uma fantástica rede de bases militares e arsenais nucleares, protagonizam uma luta para manter o domínio do mundo e concentrar ainda mais o poder. De outro, desenvolve-se inexoravelmente a tendência ao surgimento de novos polos de poder político, econômico e militar, cuja expressão maior é a ascensão vertiginosa da China, com o prodigioso desenvolvimento das forças produtivas, o crescimento econômico contínuo e acelerado e a perspectiva de se tornar nos anos vindouros, na principal potência econômico-financeira do planeta. Faz parte desse fenômeno o fortalecimento do poder nacional da Rússia, depois de um momento de desagregação e de crise econômico-financeira, e a emergência de potências de dimensões médias como a Índia, o Brasil e a África do Sul – o que deu origem à formação do Brics, fator ponderável no desenvolvimento da situação econômica e política do mundo.

As decisões da 5ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Durban, África do Sul, nos dias 26 a 27 de março último, fortaleceram este traço da situação internacional. Hoje, o Brics acumula mais da metade das reservas de divisas no planeta, juntando um poderio financeiro contra o qual os tradicionais donos do mundo (EUA e Europa Ocidental) têm hoje dificuldades para se contrapor. Além disso, estas cinco nações são responsáveis hoje por mais de 21% do PIB global, fatia que pode dobrar em uma década. São países cujo crescimento contrasta com o marasmo e a estagnação que afeta os países ricos; representam, hoje, o maior mercado do planeta, constroem uma base industrial sólida, têm recursos humanos cada vez mais qualificados. Têm, juntos, quase metade da população mundial (42%) e da força de trabalho do planeta (45%). As medidas anunciadas pelo Brics fortalecem os países emergentes em face das imposições do imperialismo. Permitem a construção de agendas próprias de desenvolvimento, fomentando o crescimento, a cooperação e o comércio fora – e contra – os ditames do imperialismo, mobilizando recursos para financiar projetos de infraestrutura e o desenvolvimento sustentável. O crescimento e fortalecimento econômico e político do Brics introduzem elementos novos no redesenho do mapa do poder no planeta e constituem um dos aspectos a assinalar o declínio das posições dos Estados Unidos e da ordem econômico-financeira fundada após a 2ª Grande Guerra, em meados do século passado.

Dentro dessa mesma configuração de contradições geopolíticas e econômico-financeiras, e da luta pela desconcentração do poder mundial, pode ser apontada a constituição de outras alianças e blocos como a Organização de Cooperação de Xangai, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a União de Nações Sul-americanas (Unasul), a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), as disputas no âmbito da Organização Mundial do Comércio, a luta pela reforma e ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, assim como as contradições econômicas e geopolíticas no âmbito do G 20, que reúne as vinte maiores economias do mundo.

Estes processos se desenvolvem em meio ao agravamento dos conflitos de classe, das contradições entre os países da África, Ásia e América Latina e o imperialismo e da incidência das contradições interimperialistas, estas dentro de uma dinâmica em que se alternam a cooperação e a rivalidade.

*José Reinaldo é jornalista, especialista em Política Internacional, editor do Portal Vermelho