"O movimento segue vivo, forte e altivo", diz candidata à UNE

Está aberta a contagem regressiva para o 53º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) que ocorrerá em Goiânia, Goiás, entre 29 de maio e 2 de junho, onde, entre outros pontos, será decidido qual o novo presidente da entidade para os próximos dois anos. Desta vez, a chapa Movimento Bloco na Rua traz uma mulher como candidata, a estudante de Letras da USP Virgínia Barros, que concedeu entrevista exclusiva à Rádio Vermelho.

Virgínia Barros, a Vic, no estúdio da Rádio Vermelho / foto: divulgação Vermelho

O nome de Virgínia Barros foi confirmado na última quarta-feira (1º) pelo Movimento. De Garanhuns, Pernambuco, Virgínia, mais conhecida como “Vic”, foi presidenta da União dos Estudantes de Pernambuco, entre 2009 e 2011, onde liderou um movimento que conquistou a gratuidade para os estudantes da Universidade de Pernambuco, que, apesar de ser pública, cobrava mensalidade. Na ocasião, Vic era estudante da Faculdade de Direito do Recife, na Universidade Federal de Pernambuco, instituição tradicional do movimento estudantil, tendo, inclusive, um Diretório Acadêmico (DA) que atuou na fundação da UNE.

“Não tem como não ingressar no movimento estudantil estando na Faculdade de Direito do Recife. Logo que ingressei no curso já me envolvi, participei do DA e do DCE [Diretório Central dos Estudantes]”, lembra.

Eleita como secretária de Comunicação na chapa de Daniel Iliescu, atual presidente da UNE, a liderança estudantil pernambucana, que também é militante da União da Juventude Socialista (UJS), precisou se mudar para São Paulo para cumprir os compromissos nacionais da entidade. Em 2012, ela coordenou a “Caravana UNE Brasil + 10”, que convidou estudantes de diversas regiões brasileiras a refletirem sobre os desafios que o Brasil tem para o próximo período.

“Tive a oportunidade de conhecer 17 estados do país nesses dois últimos anos e pude entender um pouco mais sobre a complexidade que é o Brasil”, recordou a estudante, que conclui que a juventude está engajada no rumo de seu país. “Mas, acho que o estudante brasileiro olha, hoje, o Brasil com mais esperança, com mais confiança e com mais possibilidade de intervir nos rumos do país”, completa.

Para Virgínia Barros, cabe não somente aos estudantes, como também a todo o conjunto do povo brasileiro, “refletir como garantir uma nova arrancada para o desenvolvimento do nosso país”. No entanto, ela frisa que a entidade não pode perder de vista seu principal objetivo, que é lutar por uma nova universidade, mais inclusiva. Ela lembrou que atualmente somente 15% da juventude do país ingressam no Ensino Superior.

Questão de gênero

O movimento Bloco na Rua, de acordo com a estudante, já é o maior organizado para o 53º Congresso da UNE, reunindo milhares de estudantes de todo o país, sendo o único movimento hoje que está presente nos 27 estados brasileiros. “É um movimento bastante diverso, plural, que empodera as mulheres, que valoriza a juventude da periferia, que representa a juventude que está na universidade e, ao mesmo tempo, briga pela juventude que está fora e que quer entrar”, descreve a candidata.

Questionada sobre a importância de ser uma candidata à Presidência da entidade, Vic comemora a indicação, mas, lembra que em seus 76 anos de história, a UNE só teve até hoje quatro mulheres no cargo. “Ser mulher e postular a Presidência da UNE é algo muito significativo para a entidade. Porque nos 76 anos da história da entidade tivemos apenas quatro mulheres que tiveram a oportunidade de presidi-la”, declara.

Atualmente, elas são maioria na universidade. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2010, 57% das matrículas são feitas por mulheres. E dos que conseguem concluir os estudos no Ensino Superior, 60% são do sexo feminino.

“Ainda que sejamos maioria na universidade, nos espaços de poder dentro do campus ainda somos minoria. E a nossa participação ainda é muito pequena diante do potencial e presença das mulheres. Nosso movimento identifica que esse é um problema que precisa ser superado. A gente vem batalhando para colocar mulheres nos espaços de poder, inclusive, para servir de inspiração. É fundamental que a gente naturalize a presença da mulher nos espaços de poder”, afirma a candidata.

Ela lembra que existe um espaço na entidade para debater as questões de gênero, como discriminação e machismo dentro e fora do campus. A cada dois anos acontece o Encontro de Mulheres Estudantes da UNE (EME). A mais recente edição, o 5º EME, ocorreu entre 29 e 31 de março na cidade de Camaçari, na Bahia.

Uma das campanhas prioritárias da UNE é por mais políticas de assistência estudantil, dentro da universidade, que, além da moradia e restaurante, por exemplo, reivindica creches dentro dos campi. “Muitas de nós abandonam os cursos por não ter com quem deixar o filho em casa e por isso a creche é fundamental”, lamenta.

Desafios

Entre os principais desafios da próxima gestão, Vic não titubeou: “Segue a luta pela destinação de 10% do PIB [Produto Interno Bruto], 100% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-sal para educação”. Com emoção, lembrou-se do dia em que os 10% do PIB para a Educação foram inclusos no texto do projeto que institui o novo Plano Nacional de Educação (PNE). “Já conquistamos alguns avanços na atual gestão, como no dia 26 de junho do ano passado, durante uma ocupação que fizemos na Câmara dos Deputados, garantimos a aprovação de 10% do PIB na Comissão Especial do Plano Nacional de Educação. Foi um momento senão o mais emocionante, um dos mais emocionantes desta gestão”, conta.

Ela reforça que somente com mais recursos para o setor haverá possibilidade da educação brasileira se conectar aos desafios do país. “Esse é o principal papel da universidade: produzir conhecimento voltado para o desenvolvimento econômico e social do país. Mas para isso precisamos de mais recursos”, enfatiza.

Outras bandeiras que a entidade deverá focar nos próximos dois anos são a luta contra a desnacionalização da universidade, com a aquisição de instituições privadas por empresas de capital aberto, que tem diminuído a qualidade do ensino; e a implementação de uma política de cotas sociais nos estados, como em São Paulo, onde atualmente estudantes e movimento negro formam uma trincheira para que a proposta do governo Alckmin, o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp), não seja implantado com o texto atual, que exige a realização de um curso de dois anos para os cotistas, chamado college. Os militantes classificam a proposta como limitada e segregacionista e exigem a adoção da política federal aprovada em 2012, a Lei de Reserva de Vagas.

“O movimento estudantil hoje segue vivo, forte e altivo. Se relaciona com as diversas organizações da universidade. Hoje, a UNE é maior do que era há alguns anos. O último congresso, por exemplo, chegou a mais de 90% dos estudantes. E eu reparo que aonde eu chego o jovem quer intervir na realidade. Hoje, no Brasil e no mundo, são diversas as formas de participação política da juventude”, recorda Vic.

Saiba mais sobre o 53º Congresso da UNE aqui.

Deborah Moreira
Da Redação do Vermelho

(matéria alterada em 7/5/2013)

Ouça a íntegra da entrevista no Programa Resistência: