Publicado 18/05/2013 18:04 | Editado 04/03/2020 17:16

Desde o começo da colonização do Brasil, Portugal foi pródigo em intercambiar a flora de suas possessões, trazendo a jaqueira, a mangueira, o coqueiro, mas não introduziu animais silvestres estranhos à fauna autóctone. Vieram bichos domesticados, como a galinha que Cabral apresentou aos índios, e sobretudo uma dádiva do processo civilizatório do Novo Mundo, o cavalo.
A este equídeo nativo das estepes da Europa e da Ásia a humanidade deve boa parte de suas conquistas e de suas glórias. Deve mesmo a liberdade, como observou o filósofo Karl Marx nos “Manuscritos”, a propósito dos povos nômades. A liberdade de ir mais longe, de palmilhar terras ínvias, de transportar homens e ferramentas que forjariam o progresso.
Desde cedo a equitação se tornou uma técnica, de aplicação utilitária, militar, lúdica ou competitiva. A arte da cavalaria da aristocracia europeia enraizou-se no povo brasileiro na forma de vaquejadas, cavalhadas e rodeios, folguedos de densidade cívica, religiosa e recreativa. Como disse Machado de Assis, encontramos “a amizade no cão, o orgulho no cavalo”. Esporte de competição, o hipismo integra os Jogos Olímpicos, em que o cavaleiro Rodrigo Pessoa, seguindo os passos do pai, o lendário Nélson, já conquistou a medalha de ouro.
Essas considerações vêm a propósito da iniciativa do Ministério do Esporte de preparar a regulamentação da prática dos esportes equestres. A medida faz-se necessária para prevenir as tentativas de limitar o uso do cavalo em competições e até nas festas tradicionais, estigmatizando-as de maus-tratos, como a “farra do boi”. Acenam com interdições sem considerar não só a tradição entranhada na relação cultural e afetiva entre homem e cavalo na formação social, como também na importância do animal como força motriz na economia do Brasil.
*Ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB/SP
Artigo publicado no jornal Diário de S. Paulo.