Ditadura chilena: Caso da morte de Neruda ainda não foi resolvido

O advogado chileno Eduardo Contreras, demandante no caso de Pablo Neruda, questionou nesta quinta-feira (30) o trabalho do Serviço Médico Legal sobre as análises dos restos do poeta, depois da exumação realizada no passado mês de abril. Segundo o jurista, ainda não foram submetidos a provas de DNA, a fim de determinar se a sua morte foi natural ou provocada, no contexto da ditadura de Augusto Pinochet (1973-90) no Chile.

"Já disse isso em todos os tons, esse exame deve ser feito porque não certeza de que as amostras que foram periciadas correspondem a Neruda", remarcou Contreras ao diário Emol.

Os restos foram exumados no passado 8 de abril, e a urna em que estavam foi extraída da tumba localizada num extremo da casa-museu de Neruda em Isla Negra, a 110 quilômetros a noroeste da capital Santiago do Chile, donde também repousa a sua viúva Matilde Urrutia.

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Para Contreras, a atitude da Medicina Legal "demonstra uma falta de seriedade e de rigorosidade científica". A ausência do exame de DNA, enfatizou, poderia fundamentar o caso de as primeiras perícias a que foram submetidos os restos serem “perfeitamente objetáveis”. O advogado afirmou que continuará insistindo para que se concretize a sua solicitação.

Neruda militou no Partido Comunista toda a sua vida e chegou a ser membro do Comitê Central, senador e candidato à presidência da República.

O advogado Rodolfo Reyes, sobrinho de Neruda, também foi parte querelante do processo, que busca descobrir se a causa da morte foram substâncias estranhas subministradas ao seu organismo.

Em resposta à petição, no fim de fevereiro, o juiz Mario Carroza ordenou que se levasse a cabo o processo, aberto muitos anos depois, cuja versão dominante indicava que o poeta morreu em consequência de um câncer de próstata.

Antes da exumação, Contreras disse à Prensa Latina que não se trata de estabelecer que Neruda padecia de um câncer, realidade que ninguém nega, mas de descobrir a existência de substâncias nocivas que podem provocar o desenlace.

O processo judicial foi iniciado em 2011, logo depois de o chofer de Neruda, Manuel Araya, revelar que uma “estranha” injeção foi aplicada no abdômen do poeta, enquanto estava internado na clínica Santa María.

Neruda assuntou-se e chamou a sua esposa Matilde, e também comunicou-se com Araya, que se encontrava neste na casa de Isla Negra por encargo do poeta, na véspera da viagem que tinha previsto para sair ao exílio no México, em 24 de setembro de 1973, o dia anterior à sua morte.

Logo após o falecimento de Neruda, Araya foi preso e enviado ao Estádio Nacional, à época transformado pela ditadura em um centro de tortura e morte. Anos depois, o testemunho do chofer apareceu em uma reportagem na revista mexicana Proceso, escrito pelo jornalista chileno Francisco Marín.

As revelações de Araya desmentiram o ditame dos médicos, que certificaram que o escritor havia morrido por uma "caquexia cancerosa".

Fonte: Prensa Latina
Tradução da redação do Vermelho