União Africana cria força de intervenção

A criação de uma força militar de intervenção rápida foi uma das conclusões da 21ª Cimeira da União Africana (UA), realizada no princípio da semana em Addis Abeba [capital da Etiópia e sede da UA].

Meia centena de chefes de Estado reunidos na capital etíope propuseram também o autofinanciamento dos projetos da organização. “Todo o apoio que vem de fora é bem-vindo, mas devemos contribuir para financiarmos as nossas atividades”, resumiu o primeiro-ministro da Etiópia e presidente em exercício da UA, Hailemarien Desalegn.

Sobre a força de intervenção, ela é “necessária e urgente”, para que haja capacidade de resposta rápida aos conflitos num continente ainda marcado por golpes de Estado, rebeliões armadas e guerras civis. Os líderes africanos pretendem, nos seus países, impedir que se chegue ao poder por métodos antidemocráticos. “Não vamos permitir mudanças anticonstitucionais nos estados membros”, sublinhou a presidente da Comissão Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, citada pelo Jornal de Angola.

Interessante, nesta cimeira que assinalou o 50º aniversário da organização, foi a condenação do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, imposto pelo Ocidente para julgar adversários mais incómodos.

“Os objectivos do TPI – combater os crimes e a impunidade – estão a ser invertidos, degenerando numa “caça às bruxas” contra os dirigentes africanos”, criticou Desalegn, acusando o Tribunal de Haia de ‘perseguir os líderes africanos’.

Sobre as comemorações dos 50 anos da Organização da Unidade Africana, hoje União Africana, prevaleceu a ideia de que, depois de os ‘países fundadores’ terem lutado pela liquidação do colonialismo e do apartheid e garantido as independências dos países de África, é chegada a hora dos atuais líderes “fazerem a sua parte” para a “soberania econômica do continente”.

Na declaração por ocasião do meio século da OUA/UA, os chefes de Estado renovaram o compromisso de promover a paz, a estabilidade, a democracia e o desenvolvimento em África.

Guerra alastra no Shael

Enquanto em Addis Abeba os dirigentes africanos faziam planos para mais desenvolvimento económico, falavam de paz e anunciavam uma força militar de intervenção rápida, a guerra alastrava no Sahel.

O conflito no Mali, agravado pela invasão militar francesa apoiada pelo Ocidente, chegou ao vizinho Níger. Um grupo islamita levou a cabo dois ataques, um contra um quartel em Agadez, a principal cidade no Norte do Níger, e outro contra uma mina de urânio em Arlit, explorada pela multinacional francesa Areva, construtora de centrais nucleares. As ações provocaram dezenas de mortos e feridos entre agressores e defensores e foram reprimidas com a participação de tropas especiais francesas deslocadas do Mali.

O grupo jihadista “Os que assinam com sangue”, chefiado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, ameaçou continuar a guerra contra a França e outros países que têm “mercenários” no Mali.

Numa ação anterior, em Janeiro, o grupo, ligado à “Al-Qaeda no Magreb Islâmico” tinha sequestrado trabalhadores de uma exploração de gás em In Amenas, no Sul da Argélia, obrigando a uma intervenção do exército argelino que causou dezenas de mortos.

O presidente do Níger, Mamadu Issufo, declarou agora que os autores dos ataques em Agadez e Arlit “saíram do Sul da Líbia» e planeavam também ações no Chade, outro país da região com tropas no Mali. E considerou que a situação no Mali é uma consequência da crise na Líbia, "agora o principal foco de desestabilização no Sahel”.

Recorde-se que a Líbia foi vítima de uma violenta agressão da Otan, instrumento do imperialismo norte-americano, para derrubar o regime de Muhamar Khadafi. O governo fantoche colocado em Trípoli pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França controla hoje a capital, as zonas petrolíferas e pouco mais. A Líbia transformou-se num santuário de grupos islamitas, armados pelo Ocidente, que atuam livremente no Sul desértico e nos países vizinhos – no Mali, na Argélia, no Níger…

Níger onde os Estados Unidos colocaram tropas especiais e instalaram no início deste ano uma base militar (em Niamey, a capital, com planos de a transferir para Agadez) a fim de lançar operações com drones.

O Pentágono, através do Africom (o comando militar estado-unidense para África) anunciou que vai utilizar aviões não-tripulados “Predator” em missões de espionagem para “apoiar uma série de missões regionais de segurança em países amigos”. Mas, segundo o The New York Times, os drones no Níger poderão vir a ser armados com mísseis, “se a ameaça se agravar”…

Fonte: Jornal Avante!