Publicado 03/06/2013 09:15 | Editado 04/03/2020 16:28
As raízes das desigualdades regionais no Brasil têm a ver fundamentalmente com a formação do mercado interno. Ora, “desde o final do século XIX e até os anos 1950, se não até data posterior, a industrialização capitalista, a generalização do mercado capitalista no Brasil restringiu-se praticamente a São Paulo, como resultado de sua dinâmica cafeeira e das transformações que ela engendrou e multiplicou” (PAULA, João Antônio de. O mercado interno no Brasil: conceito e história. In: História econômica & história de empresas, V.1, 2002, p. 35).
Um fato foi decisivo para a hegemonia paulista: se o café teve o seu apogeu com a mão de obra assalariada, o açúcar chegou a ele com a mão de obra escrava. Diferente do Nordeste, onde, além do açúcar, praticamente não havia para o algodão e a pecuária extensiva remuneração em dinheiro, o trabalhador em São Paulo tinha o poder de compra que fez surgir lá o mercado interno e os seus bem conhecidos desdobramentos.
Por isso, a nossa Federação já nasceu pensa e desequilibrada. E assim continua. Para Paulo Bonavides, até o presente, houve duas frentes conjugadas de combate para erradicar as desigualdades regionais: uma no campo político-constitucional, e a outra no campo econômico e administrativo. Ambas malograram. Mais recentemente, entrou o campo social, que apenas alivia a pobreza.
Em 1981, o Centro Industrial do Ceará (CIC), em parceria com o BNB, a Sudene e o Jornal do Brasil, realizou o seminário “O Nordeste no Brasil: Avaliação e Perspectivas”, que reuniu figuras expressivas do País e do exterior e concluiu que as alternativas viáveis para o desenvolvimento integral e duradouro da Região se encontravam no campo político. 32 anos depois, o mesmo CIC, louvado nessa lição, teve a iniciativa de, juntamente com a Fiec, criar o “Integra Brasil: Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo”, um movimento que visa construir e implementar um plano estratégico de ação política que ataque estruturalmente as desigualdades regionais no país.
O Integra Brasil, após percorrer os estados do Nordeste e neles receber o apoio do setor produtivo, inaugura nesta terça-feira, dia 4, em Fortaleza, na Fiec, o primeiro de quatro workshops; ele vai tratar de aspectos político-institucionais. Os outros três, em Salvador, Recife e Rio de Janeiro, cuidarão, respectivamente, da situação atual, de aspectos estratégicos e da visão externa do Nordeste. Haverá, ainda, uma mesa-redonda em Campina Grande sobre as desigualdades intra-regionais e o seminário de 27 a 29 de agosto, no Centro de Eventos em Fortaleza, que discutirá os aspectos econômico, social, urbano, ambiental, educacional, científico-tecnológico, cultural e político, culminando com a estratégia de desenvolvimento regional.
Isso feito, terá começado de fato o movimento, com a elaboração e a operacionalização do citado plano de ação política, de caráter afirmativo, assertivo, longe do velho e enganoso discurso da súplica e da miséria que tanto desserviço tem prestado ao povo nordestino.
*Cláudio Ferreira Lima é economista
Fonte: O Povo