Alívio do bloqueio a Gaza e plano de paz são retóricas ocidentais

A representante da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton pediu, nesta quinta-feira (20), na Faixa de Gaza, o "alívio" do bloqueio militar israelense ao território, antes de o secretário de Estado dos EUA John Kerry viajar à região para apresentar um “plano de paz”. Em outro sentido, o Hamas encontra-se com o Hezbolá para avaliar a resistência e a situação regional e exige da UE a retirada do partido da lista de organizações terroristas.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Ashton - AFP

“Quero compartilhar o nosso compromisso, queremos ver as passagens entre as fronteiras abertas e que a situação econômica melhore na Faixa de Gaza”, declarou a diplomata europeia durante a sua visita, quando reuniu-se com o comissário-geral da Agência da ONU para Trabalhos e Assistência aos refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), Filippo Grandi.

Leia também:
Diplomatas europeus pedem atitude contra ocupação israelense

UE anuncia ajuda a Gaza e pede fim do bloqueio israelense

“Escolhi estar aqui para ressaltar a situação em Gaza, e para dizer que apoiamos o trabalho da UNRWA, que queremos ver um futuro para a população de Gaza”, acrescentou.

Ashton também apreciou as medidas da UNRWA e prometeu que a UE seguirá sendo “o apoio mais forte” da agência da ONU. Falta ainda, de acordo com documentos recentes de oficiais da organização que trabalham na região, uma postura mais firme da UE contra a ocupação e os abusos sofridos pelos palestinos diariamente.

Além disso, a assistência oferecida por líderes ocidentais à sobrevivência do povo palestino (que continua sob a ocupação militar de Israel e sujeita à violação dos direitos humanos diariamente) é frequentemente interpretada como uma forma de exercer pressão sobre a liderança palestina, principalmente com relação à representação e à posição nas negociações com o regime israelense.

Desde 2007, a Faixa de Gaza é bloqueada pelo regime israelense, o que provocou uma queda preocupante nos níveis de vida da população, o aumento do desemprego e a pobreza disseminada. A indústria pesqueira, por exemplo, antes forte na região, sofre impactos diretos, já que o espaço marítimo para a pesca foi extremamente reduzido e os pescadores sofrem a violência cotidiana da guarda costeira israelense.

O regime de segregação de Israel nega a quase 1,7 milhão de pessoas em Gaza os seus direitos fundamentais, entre eles a liberdade de circulação, trabalho com salários adequados, a assistência sanitária e a educação adequada.

Negociações e âmbito regional

O Hamas, partido no governo da Faixa de Gaza, e o Fatah, predominante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Executivo da Autoridade Palestina, encabeçam um processo de reaproximação e construção de um governo de unidade nacional, depois de terem entrado em confronto direto em 2006-2007.

Neste sentido, o Hamas, através do porta-voz Fawzi Barhum, em um comunicado dirigido a Catherine Ashton, sublinhou que o movimento dedica-se a defender os palestinos, e por isso exigiu que o bloco retire o Hamas da lista de organizações terroristas, na qual foi incluído em setembro de 2003.

“O movimento defende o seu povo, acredita na democracia e na abertura ao mundo e tem conflito apenas com o ocupante israelense”, assegurou Barhum, que também pediu que Ashton atuasse pelo fim do bloqueio israelense à Faixa de Gaza.

Já o secretário de Estado norte-americano John Kerry, de quinta (27) a sábado (29), ou seja, por dois dias, vai à Jordânia e depois a Israel e à Palestina, para encontrar-se com os líderes locais, na tentativa de retomada das negociações de paz, anunciada desde o começo do ano.

O “processo de paz”, como chamado pelos mediadores ocidentais, está congelado há pelo menos três anos, mas Kerry diz estar conduzindo uma estratégia “discreta”, enquanto líderes palestinos já demonstraram ceticismo com relação à eficácia da proposta, embora tenham se comprometido com ela.

Já em âmbito mais regional, representantes do Hamas e do partido de resistência islâmica do Líbano (Hezbolá), também atuante histórico na resistência contra a agressão isralense, reuniram-se no Líbano nesta semana, para abordar a situação atual da região.

Durante o encontro entre duas autoridades do alto nível do Hezbolá e um grupo de responsáveis do Hamas, as partes revisaram os principais objetivos que o mundo muçulmano encara, a guerra contra a Síria e seus efeitos na região, a resistência e outros temas.