Cisjordânia: UE adia rotulação de produtos das colônias judias

A pedido dos Estados Unidos, a União Europeia resolveu adiar a decisão de rotular produtos advindos dos territórios palestinos ocupados por colônias judias, na Cisjordânia. A notícia foi veiculada neste domingo (19) pelo jornal israelense Haaretz, que citou diplomatas e oficiais europeus em Jerusalém.

Oficiais palestinos jogam fora produtos israelenses - AFP

De acordo com os oficiais europeus, a questão deveria ser levada adiante nesta semana, no Conselho de Relações Exteriores da União Europeia (UE), mas foi adiada para o final de junho. Há um ano, os chanceleres dos 27 Estados membros da UE decidiram tornar obrigatória a legislação europeia sobre os produtos provindos dos assentamentos, ou “colônias” judias em território palestino. Os produtos deveriam ser assim rotulados em toda a UE.

Por vários meses, nenhum membro da UE colocou em vigor tal decisão. Mas em fevereiro, a chefe de Relações Exteriores da união Catherine Ashton enviou uma carta aos seus colegas, pedindo a entrada em vigor da legislação sobre o assunto.

Em abril, os chanceleres de 13 Estados membros, incluindo a França, o Reino Unido e a Holanda responderam a Catherine, demonstrando apoio à rotulação clara dos produtos, mas pediram que ela delineasse diretivas claras e as enviasse ao Conselho de Relações Exteriores para aprovação.

No mês passado, os oficiais europeus, liderados pelo representante europeu para o Oriente Médio Christian Berger, discutiram o assunto e a possibilidade de submeter as regulações ao Conselho nesta semana.

Socorro dos EUA

Um alto-oficial em Jerusalém disse que Israel havia pedido que a administração dos EUA ajudasse a deter ou ao menos adiar a decisão da UE, e que pediu até mesmo a intervenção do secretário de Estado norte-americano John Kerry no assunto.

O secretário e outros altos-oficiais dos EUA pediram a Catherine e à sua equipe, assim como a vários Estados da UE que congelassem a medida, e de acordo com dois diplomatas europeus, os estadunidenses disseram que a decisão, nesta altura, prejudicaria os esforços de Kerry para reavivar as negociações entre Israel e os palestinos.

A postura tem menos a ver com uma precaução do que com uma clara ameaça, uma vez que passa a mensagem de que as “tentativas” estadunidenses para retomar as negociações (só postas num impasse constante pelos próprios israelenses) seriam infrutíferas caso a medida europeia entrasse em vigor.

Kerry iniciou diálogos com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o presidente palestino Mahmoud Abbas em 23 de março, há quase dois meses, tempo exato pedido à Autoridade Palestina por Kerry como um período de “congelamento das medidas unilaterais” (como o pedido de reconhecimento levado à ONU), para “dar uma chance ao processo de paz”.

Neste período, entretanto, Israel não congelou as construções de colônias judias em territórios palestinos, nem a detenção arbitrária de palestinos ativistas, ou mesmo de crianças, além de todas as outras medidas opressoras dignas de uma ocupação militar sobre todo um povo. Netanyahu comprometeu-se a apenas “limitar” a construção de habitações para judeus na Cisjordânia, mantendo a sua recusa a qualquer comprometimento em prol das negociações ou dos próprios direitos do povo palestino.

Kerry pediu aos dois lados uma extensão de dois a três semanas para o prazo de retomada dos esforços pelas negociações, o que tanto Netanyahu quanto Abbas aceitaram.

Os EUA disseram à Europa que Kerry planeja apresentar uma proposta de retomada das negociações em junho. Os estadunidenses, por isso, pediram à UE o adiamento da decisão até o fim de junho, com o que os europeus concordaram.

A UE está frustrada pela lentidão do processo de paz, e seus Estados membros, mesmo aqueles aliados a Israel, querem fazer algo sobre os assentamentos, de acordo com as fontes citadas pelo Haaretz. Um exemplo foi o chanceler tcheco, Karel Schwarzenberg, que disse ser muito difícil para os “amigos de Israel na Europa defenderem as suas políticas para os palestinos”, e que os planos de construção de colônias são “repulsivos”.

Um oficial israelense disse que o adiamento da decisão europeia foi condicional para o progresso das conversações com os palestinos. A menos que um grande avanço seja alcançado nas negociações do próximo mês, a UE instruirá os seus 27 membros a rotularem os produtos das colônias na Cisjordânia.

Entretanto, a postura dos EUA e da UE tiraram dos palestinos aquilo que poderia ser uma vantagem de pressão nas negociações, instrumento que Israel possui em abundância e que, por isso, consegue exercer uma pressão estrutural contra os palestinos em todas as ocasiões em que negociaram, inclusive com a mediação de potências como os EUA e a UE, que poderiam ter um papel mais efetivo com relação à postura de Israel.

Com Haaretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho