Gutemberg Dias: O movimento e seus movimentos

Por Gutemberg Dias*

Passei alguns dias sem usar da folha branca e das letras sobre ela. Acho que foi por preguiça, mas, também, acho que foi por falta de inspiração. No fundo, creio que a culpa por ter passado alguns “muitos” dias sem escrever foi por essa ultima explicação, ou seja, inspiração.

Nos últimos meses o Brasil vem sendo palco de inúmeras manifestações que, por sinal, tiveram sua raízes aqui no nosso querido Rio Grande do Norte com a chamada “Revolta do Buzão”, orquestrada nas redes sociais e materializada nas ruas da capital potiguar meses atrás.

Essas manifestações me deram um novo ânimo, no que cabe a escrita, veja bem. Quando do “Fora Collor” eu era um estudante secundarista e estava intimamente envolvido nos movimentos estudantis. Naquela época fomos às ruas com um objetivo claro de forçar o impeachment do então presidente do Brasil, Fernando Collor de Melo, que naquele período específico, desagradava gregos e troianos na terra dos Guaranis. Fomos às ruas por um motivo definido.

Durante as manifestações, que a grande imprensa entregou nas mãos do movimento do “Passe Livre”, senti novamente aquele fervor das massas, mas sou sincero em dizer que senti a falta de um motivo para lutar. Os vinte centavos ou coisas do gênero, trato aqui e alhures como apenas uma metáfora que deu asas a imaginação dos manifestantes e não enxergo esse movimento “Passe Livre” como algo real.

A irrealidade desse movimento passa pela falta de uma articulação concreta dos motivos que levaram tantas pessoas às ruas de nossas cidades. Lembro que nas entrevistas, cartazes, faixas e gritos de guerra, o mote principal não era o passe livre. Muitos que estavam empunhando essas peças de luta cobravam um Brasil sem corrupção, melhores condições de saúde, uma educação pública de melhor qualidade e por aí vai, ou seja, as pessoas estavam cobrando tudo aquilo que costumamos cobrar do governo quando estamos reunidos entre amigos. Nesse caso específico as cobranças ganharam eco e as ruas do Brasil.

Tenho a absoluta convicção que o povo nesse momento, mesmo sem o rumo correto das reivindicações, está com a chave do congresso e, sobretudo, do destino do Brasil em suas mãos. O recuo dos parlamentares em relação a temas de grande interesse popular é uma prova cabal. Trocando em miúdos, os nossos políticos estão com medo das grandes movimentações, pois desde muito tempo o que faz a mudança acontecer em qualquer nação é a vontade do povo e não de seus políticos.

E agora, vamos fazer mais manifestações? Acredito que não podemos mais parar até termos conseguido as mudanças que se avizinham. A Reforma Política, Reforma Tributária, Reforma Urbana, Reforma da Educação e tantas outras é o caminho de nossas lutas. É claro que, naturalmente, esse momento de agitação tende a arrefecer, mas existem várias formas de lutas que podem manter essa chama acessa e viva no consciente e inconsciente coletivo. Bem como, no pensamento de todos os nossos representantes na esfera política.

É isso, apoio e me sinto rejuvenescido com o povo nas ruas. Somos fortes e nossa força tem que ser a mola mestre das mudanças que tanto almejamos. Temos que sempre nos lembrar que um mais um é sempre mais que dois, pois o eco de nossas ações se multiplicam de forma exponencial e, por isso, temos que nos juntar a esse coro que clama por um Brasil mais digno e igual para seu povo.

Viva esse Brasil guerreiro!

*Gutemberg Dias
Geógrafo e Mestre em Ciências Naturais
Presidente Municipal do PCdoB Mossoró/RN