Apologia ao crime no Facebook

Uma página do Facebook de Brasília, “Escola do Crime 121”, recebeu mais de 9,3 mil “curtidas” e sete mil comentários a respeito do link. O artigo 121, do Código Penal, trata de homicídio simples.

A descrição da página revela o teor do conteúdo: “Fuja da escola com o caderno e o livro, vamos para o crime cometer homicídio”. Entre os integrantes do grupo, há menores de 13 a 17 anos, inclusive meninas. Os adolescentes conversam sobre drogas, armas e até discutem a ação policial. “Hoje em dia morre um polícia e nasce 10 ladrão (SIC). Vida do crime é assim”, diz um menor.

Em uma das fotos, adolescentes seguram arma de fogo. O menor de idade que ostenta o revólver em punho não se preocupa em esconder o rosto. Ele veste o uniforme de uma das escolas da rede pública do Distrito Federal. Ao lado, a mochila aberta fornece indícios de que a pistola estava escondida ali.

Um dos rapazes da foto, de 17 anos, teria sido morto há duas semanas, segundo um dos responsáveis pela página. Ele teria participado de um roubo e o valor não teria sido dividido corretamente. Já outro menor, na mesma foto, estaria cumprindo medida socioeducativa.

A imagem é publicada com o recado “que venha o oitão da PM ou uma doze engatilhada, sete palmos, pt carregada (SIC)” . A foto ganhou 11 comentários, entre eles “Para ser bandido tem que saber ser (SIC), “Vcs é de mais pode crê (SIC)” e “Crime não é creme” (SIC).

Durante o dia pelo menos mais de 20 postagens são feitas na página. Há fotos de armas calibre 38 e 40, munições, revólveres carregados, dinheiro, joias, celulares e drogas. Tudo sem preocupação em ocultar informações pessoais. Entre as mais diversas imagens há adolescentes de uniforme de escolas da rede pública do DF, carregando armas e usando drogas.

Na capital, cerca de cem pessoas teriam relação com a intitulada Escola do Crime 121. Um rapaz conta que a página foi criada em razão das atitudes da polícia. “É uma pressão aos policiais, porque queremos respeito. Eles são contra a gente, se nos encontram na rua batem na nossa cara e chegam na casa da mãe da gente já quebrando a porta”, afirma.

O menino conta que este ano a polícia já teria ido três vezes à casa em que mora com a avó. “Eles vão, mas nunca nos acham porque a gente passa a manhã, a tarde e a noite na rua. Saio de casa para ir à escola, mas fico com o pessoal mesmo por aí”, relata.

Quanto à família, o adolescente não esconde a preocupação da avó. Por outro lado, explica que gosta da adrenalina da rua. Ele diz que um dos responsáveis pela página já cometeu cinco atos infracionais relacionados a homicídio. “Eu tenho 157 (roubo a mão armada). Minha mãe sabe dos envolvimentos, né? Mas eu não moro com ela. Minha avó dá conselhos, mas no grupo todo mundo se respeita”, aponta. E completa: “Andamos em gangue. Não deixa de ser uma vida de risco, porque, apesar do respeito, se alguém der mole, perde”, aponta.

O adolescente destaca a participação de meninas na Escola do Crime 121. Segundo ele, o objetivo é atrair as adolescentes para o grupo. “O principal é colocar as meninas para chamar atenção. Elas gostam disso. Pretendemos continuar com a página”, afirma.

O delegado-chefe da Divisão de Comunicação Social da Polícia Civil, Paulo Henrique de Almeida, explica que o link da página foi encaminhado na quarta-feira à Divisão de Inteligência Policial (Dipo). “Existem outras páginas similares no DF. Costumeiramente a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) já faz esse trabalho”, diz.

Segundo Almeida, o delito cometido pelos adolescentes é ato infracional análogo à apologia. Maiores de idade podem ficar presos de três a seis meses por este crime. “A Divisão de Inteligência vai investigar além da apologia ao crime. Pode ser que se chegue a uma conclusão de tráfico de drogas, associação ao tráfico, porte de arma, formação de quadrilha e até aliciamento de menores”, aponta.

A PM também investiga denúncias parecidas. O Batalhão da Rotam recebe até 40 relatos anônimos semanais. A maioria se refere ao porte ilegal de arma de fogo, consumo e tráfico de drogas. Em 76% dos casos as denúncias se confirmam. “Quando recebemos a denúncia, tratamos o crime e mandamos a equipe de inteligência verificar veracidade do fato. Em alguns casos distribuímos a informação para outras unidades da PM, como batalhões da própria região”, ressalta o comandante da Rotam, tenente coronel Leonardo Sant’Anna.

Especialista em perícia digital, Laerte Peotta explica que a partir do link a polícia investiga as informações, e dependendo do caso, solicita a quebra de sigilo telemático à Justiça. “Com autorização, a corporação tem acesso ao número do computador, o IP. Assim, a polícia consegue localizar os responsáveis ou administradores da página”, diz.