Luiza Helena Amorim – Museu: O pires na mão da cultura

Por *Luiza Helena Amorim

Quanta história é possível caber dentro de um museu? Pergunta difícil de se responder! Não mais do que o lugar-comum do questionamento: por que a cultura está sempre com o pires na mão? Muitas vezes, sem remorso, entregamos dia a dia nossa história às traças, fechamos os olhos para o que pode ser significativo também para as gerações que virão. Quem seremos se não preservamos nossa história, esta que todos os dias acontece nas ruas, e a que está dentro de museus ou das salinhas improvisadas Brasil afora?

Iniciativas nascem e morrem todos os dias e neste jogo de preservar ou abandonar, perdemos nossa essência, ficamos sofredores de uma amnésia sem volta. Em maio comemora-se o Dia Internacional dos Museus e, mais do que bater palmas para as iniciativas realizadas por instituições durante a Semana Nacional dos Museus, eu fico pensando com meus botões para além do “oba oba” momentâneo que se possa ter nesta data. Somos meros reféns do efêmero e da falta de recursos?

Conheci o Museu Regional dos Inhamuns, no município de Tauá, na companhia de sua fundadora, d. Dolores Feitosa, e de um grupo de arqueólogos visitantes que, passeando pelas salas, me mostraram um pouco sobre o que é possível se dizer sobre cada fragmento de história ali preservado. Fiquei encantada com o trabalho e, mais ainda, com a maneira apaixonada com que a equipe da Fundação Bernardo Feitosa cuida do acervo e faz do museu um organismo vivo, cujas ações extravasam as paredes e vão para onde o público está. Ali está também, dia a dia, sendo calado pelo amor, o sentimento de frustração. Para d. Dolores, 89 anos, é cada vez mais difícil levar adiante o trabalho iniciado pelo marido, dr. Joaquim Feitosa, há mais de 20 anos. E não é por falta de vontade, e, sim, pela dificuldade financeira para manter a estrutura, pagar funcionários e o consequente engavetamento de projetos de ampliação do espaço. Onde está a importância dada à educação patrimonial?

A Região dos Inhamuns merece um olhar mais acurado que lhe garanta a preservação da história que está no museu e a que ainda está nos sítios arqueológicos a ser descoberta. A ideia da implantação do turismo científico tão propalada pela Fundação Bernardo Feitosa, que já organizou workshops sobre o tema, está posta. Que os olhos dos possíveis apoiadores se abram antes que o braço da Fundação e de tantas outras iniciativas valiosas, como esta, se cansem.

*Luiza Helena Amorim é jornalista e escritora

Fonte: O Povo

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