Manlio Dinucci: Um "leão impaciente" para estraçalhar a sua presa

Enquanto os chefes de Estado e de governo do G8 confirmam o seu desacordo sobre o tema sírio, as potências da Otan e os países do Conselho de Cooperação do Golfo realizam na Jordânia as manobras Eager Lion. Trata-se da preparação para um ataque contra a força aérea síria, a partir da Jordânia, para a impedir de sobrevoar uma zona que se transformaria assim no santuário para os jihadistas internacionais.

Por Manlio Dinucci, no Il Manifesto

Contráriamente ao que afirma a Otan, este tipo de operação exige uma autorização do Conselho de Segurança da ONU.

Quando o presidente italiano Giorgio Napolitano se reuniu o ano passado, na Jordânia, com o rei Abdallah II, exprimiu-lhe "a alta consideração com que a Itália vê a vontade de paz e a linha de moderação que sempre foi seguida pela dinastia hachemita".

É seguramente com essa perspectiva que a Itália participou na Jordânia nas manobras Eager Lion [Leão impaciente] sob comando dos Estados Unidos, que foram realizadas de 9 a 20 de junho. Participaram nelas 19 países, movidos pelo "objetivo comum de fortalecer a segurança e a estabilidade regional" ameaçadas – os participantes não têm a menor dúvida – pela Síria de Al-Assad, que utilizaria armas químicas para esmagar a rebelião.

As "provas" disto foram fornecidas pela CIA, a mesma agência que há 10 anos proporcionou a documentação fotográfica – mostrada por Colin Powell ao Conselho de Segurança da ONU – sobre a posse pelo Iraque de 500 toneladas de armas químicas e biológicas, e de laboratórios móveis para a guerra bacteriológica.

Descobriu-se em seguida, como reconheceu o próprio Powell, que não existiam tais armas e que os "laboratórios móveis", na realidade, eram geradores de gás para balões atmosféricos usados para fins meteorológicos. Mas aí toda a jogada estava feita: as "provas" da CIA tinham servido para justificar a guerra contra o Iraque.

Pouco importaria pois que, após ganha a guerra contra a Síria, se descobrisse que na realidade foram os "rebeldes" que utilizaram as armas químicas, como afirmou Carla del Ponte, investigadora do Alto Comissariado para os Direitos Humanos sobre crimes de guerra. Segundo o julgamento inapelável de Washington, a Síria pisou a "linha vermelha" e o presidente Obama decidiu, muito a contragosto, entregar armas aos "rebeldes".

Dissimulando o fato, revelado na investigação publicada no New York Times, (26 de março de 2013), que desde janeiro de 2012 a CIA faz chegar armas aos "rebeldes" através de uma ponte aérea que passa pela Turquia e Jordânia, onde além disso treina as forças que se infiltram na Síria.

É sobre este pano de fundo que se desenrolou a Eager Lion, um verdadeiro exercício de guerra com forças aéreas, aerotransportadas, navais, anfíbias e terrestres em que participam mais de 8 mil homens.

Entre os quais militares italianos, e incluindo provavelmente o 185º regimento de Reconhecimento e Sinalização de Objetivos da Brigada Folgore [relâmpago].

Ombreando com militares imbuídos de uma fé democrática excepcional, como os sauditas, os iemenitas e os cataris. Todos às ordens do Comando Central dos Estados Unidos, cuja "área de responsabilidade" se estende sobre o Oriente Médio e a Ásia Central (incluindo a Síria, Iraque, Irã e Afeganistão], mais o Egito.

O verdadeiro objetivo da Eager Lion salta à vista quando se sabe que, no fim do exercício, o Pentágono deixou na Jordânia os aviões de combate F-16 e os misseis terra-ar Patriot participantes.

Estes somam-se aos Patriots americanos, alemães e holandeses já colocados anteriormente na Turquia, exatamente, na fronteira com a Síria. Tudo está pronto para a declaração de uma "zona limitada de não sobrevôo" de 40 quilômetros, dentro do território sírio, que – segundo funcionários norte- americanos entrevistados pelo Wall Street Journal – serviria para "proteger os campos de treino dos rebeldes e o envio de armas".

A zona de não sobrevôo seria imposta pelos aviões de combate americanos que, decolando da Jordânia ou dos porta-aviões, poderão destruir com os seus mísseis os aviões e as defesas anti-aéreas de Síria sem sobrevoar o seu território. Assim sendo a zona de não sobrevôo "não necessitará de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU".

O custo previsto é de "somente" US$ 50 milhões, (37 milhões de euros), diários que, assegura Washington, seriam pagos também pelos aliados.

Não se sabe ainda quanto terá que pagar a Itália. Mas podemos estar seguros que o governo saberá encontrar o dinheiro, espremendo para tal os fundos públicos e decretando novos cortes nos gastos sociais.

Fonte: Il Manifesto, traduzido pelo Rede Voltaire