Ex-negociador de Israel: "Detesto acordos interinos"

Yossi Beilin foi um dos iniciadores do Processo de Oslo, que levou à assinatura dos “Acordos de Oslo”, no início da década de 1990, entre israelenses e palestinos, com a mediação dos Estados Unidos. Em meio à retomada das negociações, 20 anos depois, Beilin diz, em entrevista ao jornal israelense Ha’aretz: “Detesto acordos interinos”, assim como diversos observadores céticos e palestinos já habituados à volatilidade do “processo de paz” e à falta de compromisso israelense com uma solução final.

Em 1993, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), presidida por Yasser Arafat, e Israel, cujo primeiro-ministro era Yitzak Rabin, assinaram a Declaração de Princípios, em que os palestinos, principalmente, cederam em diversos pontos antes negados, como forma de demonstrar “comprometimento com a paz”.

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Entretanto, o processo não resultou em uma solução, e a segunda intifada (levante popular dos palestinos contra a ocupação israelense) eclodiu, afastando outra vez as partes, em 2000. Beilin foi dispensado do meio político israelense, que tinha se movido à direita, após o assassinato de Rabin por um judeu extremista contrário ao processo e diversos outros acontecimentos.

Agora, com a retomada das conversações de paz, em Washington, desde o jantar desta segunda-feira (29) entre os representantes israelenses, palestinos e estadunidenses, Beilin se pergunta o que é que o Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, direitista, “diz a si mesmo quando se olha no espelho”.

Beilin diz estar contente com a retomada das negociações, mas “preocupado com o que perdemos”, questionando a inação de Netanyahu desde que voltou ao cargo de primeiro-ministro, em 2009, e reeleito neste ano.

Sobre o caminhar do processo, diz detestar acordos interinos e torcer pela possibilidade de um acordo permanente, assim como os palestinos. Entretanto, diz que “a perspectiva de sucesso para este processo é muito, muito limitada. É quase impossível, não totalmente impossível. Mas pode haver um ponto no processo em que as partes se deem conta de que estão mais perto uma da outra do que pensaram. Isso é quase um desejo, porém”.

Além disso, diz que os israelenses deveriam dizer aos seus representantes que “este ano, vocês não são permitidos falhar. O preço é mais alto se falharem do que se não fizerem nada”.

Entre os grandes erros cometidos no passado, diz, estava o de ignorar e marginalizar “minorias” que se opunham veementemente à solução de dois Estados. Segundo o artigo, Beilin referia-se à negligência de Rabin com relação aos colonos israelenses vivendo em territórios palestinos.

Além disso, o Hamas, partido que governa a Faixa de Gaza palestina, também deve ser incluído na equação, afirma Beilin. Todas as questões relacionadas com Gaza devem ser abordadas. “Uma das mais importantes lições de Oslo é levar em consideração as minorias”, os grupos contrários ao processo, explica.

Com Ha'aretz,
Da redação do Vermelho