Lula: A América Latina pode ser o grande farol da esquerda

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por mais de trinta minutos na abertura oficial do 19º Foro de São Paulo, que ocorreu na noite desta sexta-feira (2) na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no Centro da capital paulista.

Eliz Brandão, da redação do Vermelho

Saudado por mais de mil participantes do Foro, Lula, de forma espontânea falou sobre diversos temas. O ex-presidente começou seu discurso em espanhol. Ele retratou o amadurecimento das discussões do Foro e relembrou sua participação na primeira reunião em que se criou o Foro, em julho de 1990, quando foram convidados partidos de esquerda e movimentos sociais e revolucionários da America Latina e do Caribe para discutir alternativas às políticas dominantes e promover a integração social, econômica, política e cultural da região.

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Para o ex-presidente, as discussões do Foro são fundamentais, pois tratam de temas pertinentes ao cenário político de cada época e ainda revisam o crescimento da esquerda na América Latina, que vem ocorrendo, segundo Lula, devido às trocas de experiências, como forma de acelerar o processo de integração.

Citando a importância de Hugo Chávez para a América Latina, Lula lembrou que o líder venezuelano participou com grande entusiasmo da luta pela integração latino americana.

Lula explicou que  nos anos 1980 a esquerda não acreditava que se podia chegar ao poder pela via eleitoral. “Eu me lembro da esperança que a gente tinha na vitória dos revolucionários de El Salvador, na revolução sandinista. No início dos anos de 1990, Chávez ainda não podia participar porque não tinha sido eleito, mas depois disso, a história se encarregou de provar que a democracia, a partir da participação das massas, é a melhor fonte para a esquerda chegar ao poder em qualquer país do mundo. E Hugo Chávez chegou ao poder pelos braços do povo venezuelano”, enfatizou.

O ex-presidente brasileiro proferiu ainda que o Foro é o  grande responsável pelas conquistas da esquerda. “Posso dar todo o crédito a este Foro. Grande parte do mundo não admite a chegada de um homem de esquerda ao poder. Discordam da chegada ao poder dos progressistas. Mas nós chegamos”.

Lula mencionou Cuba e sua importante contribuição enquanto nação soberana. “Devemos muito aos cubanos, sempre nos ensinaram que o exercício, a convivência pacífica era a única forma para obtermos avanços em nosso continente. Temos a obrigação de não deixar que haja retrocesso”.

Democratização da comunicação

No âmbito da organicidade do evento e sua evolução, Lula falou da importância da comunicação e do aproveitamento das novas formas de se compartilhar com um número maior de pessoas, que é o caso da internet. “A internet é o nosso canal, porque a gente pode chegar a milhões de pessoas, temos que assumir a responsabilidade e levar a coisa a sério, nós precisamos criar o nosso instrumento de comunicação e nós podemos fazer, nós precisamos ser mais comunicativos, nós não podemos mais continuar da forma tradicional”, falou apontando um jornalzinho para a plateia.

“Nós temos que melhorar a nossa forma de comunicação, ela é conservadora ainda. Em vários países ela continua conservadora e não podemos só ficar reclamando, temos que aproveitar a chance de criar melhor mecanismo de comunicação”, ressaltou Lula.

Manifestações

Lula ponderou sobre as manifestações que ocorreram com grande intensidade e com uma enorme participação popular. “Nós sabemos que estes movimentos que ocorreram, como a Primavera Árabe e o que aconteceu aqui no Brasil, foi uma surpresa para todos nós”. Para o ex-presidente, estas ações devem servir de exemplo. “O que ocorreu não está escrito na cartilha”, ressaltando que a esquerda tem que se renovar de acordo com as mudanças que vão ocorrendo a todo o momento.

“Nestas manifestações que aconteceram teve de tudo, a maioria é coisa boa, mas são coisas que o Rui Falcão, em nome do PT, e o Renato Rabelo, em nome do PCdoB, já 'cansaram' de falar”, disse ele, acrescentando que a juventude de esquerda também sempre levantou suas bandeiras de luta abordando temas que foram reivindicados nas manifestações de junho.

Integração

Segundo Lula, o Foro é importante para aprofundar e evoluir nas questões que envolvam cada país, discutindo, trocando informações e experiências. Lula retratou ainda que a integração não deve ocorrer apenas por interesses financeiros, mas substancialmente por interesses políticos, discutindo com as autoridades políticas e com os movimentos sociais de cada país. Para avançarmos do ponto de vista da integração, precisamos cuidar da política interna, mas reservar um tempo para cuidar da política da integração, visitar cada país, conhecendo sua realidade, reiterou.

De acordo com ele, “está na hora de se construir um consenso entre as esquerdas da América Latina e para isso, o Brasil deverá ser protagonista, pelo fato de ser a maior economia do continente, o país tem a responsabilidade de facilitar para que as coisas possam acontecer e consolidar a integração”.  “A América Latina pode ser o grande farol da nova esquerda que nós precisamos criar no mundo”, observou.

Finalizou o ex-presidente: “Nós podemos evoluir e não ter medo daquilo que acreditamos. O Foro de São Paulo, com tudo que falta ser feito, é a melhor coisa que criamos neste continente latino-americano. Está na hora de construirmos o consenso dos países da América Latina. Nós poderemos criar um novo jeito de governar. O Chávez conseguiu, Rafael Correa está fazendo. Nós continuamos porque estamos lutando por democracia e é assim que vamos continuar crescendo. É muito triste o Chávez não estar aqui hoje, ele era uma figura diferenciada, repetiu Lula, Chávez era diferenciado até quando divergia. Mas eu quero me despedir de vocês declarando aberto o 19º Encontro do Foro de São Paulo” encerrou Lula.