Especialista diz que situação na Síria permanecerá instável

“Obama e Pútin sabem que é importante eliminar esse conflito”, diz o professor Leonid Issaev, titular da Faculdade de Ciência Política Aplicada da Escola Superior de Economia.

Por Faridá Rustámova*, na Gazeta.ru

Tanque do Exército Sírio percorre ruas de Alepo - AFP / EastNews

As tropas do governo de Bashar Al-Assad recentemente impuseram aos rebeldes uma série de ataques significativos, o que pode permitir uma ofensiva contra a área da cidade de Aleppo controlada pelos oposicionistas.

Será que podemos afirmar que o conflito sírio se aproxima de uma mudança radical? A “Gazeta.ru” conversou com um dos principais orientalistas russos, o professor Leonid Issaev, titular da Faculdade de Ciência Política Aplicada da Escola Superior de Economia.

Gazeta.ru – Será que podemos afirmar que agora as tropas do governo estão em vantagem em relação às forças de oposição?

Leonid Issaev – A mudança aconteceu um pouco mais cedo, em maio. Antes disso, durante um ano, a situação não era favorável a Assad.

Em primeiro lugar, isso aconteceu porque a Rússia começou a fornecer armas para Damasco. Isso ajudou bastante as tropas de Al-Assad, que estavam esgotadas. Em segundo lugar, em maio, ficou claro que os EUA já não estão mais interessados no conflito sírio e, como muitos países ocidentais, cansaram-se dele.

O terceiro fator é a situação no Egito, que começou novamente a desviar a atenção da Síria. O conflito sírio foi alimentado por um componente de informação. Falava-se dele, sempre se ouvia algo a seu respeito, ele mantinha-se constantemente na agenda da comunidade mundial. Agora esse reforço começou a desaparecer. O Egito chamou a atenção para si.

Mas os países ocidentais estão discutindo agora se fornecem ou não armas para a oposição Síria. Será que isso vai acontecer e, consequentemente, alterar o equilíbrio das forças?
Não acredito que o equilíbrio de forças irá mudar drasticamente. É claro que os americanos vão tentar cumprir as suas obrigações. Haverá o reforço através do fornecimento de armas também aos combatentes da oposição, mas nem tudo chega ao seu destino, porque uma enorme quantidade de dinheiro está desaparecendo sem a devida explicação.

Aquilo que a Rússia faz para o exército oficial da Síria em termos de fornecimento de armas supera em muitas vezes o fornecimento dos países ocidentais e dos países do Golfo Pérsico. Além disso, o Líbano está tentando combater o contrabando.

Será que os novas vitórias militares de Al-Assad podem dividir a oposição Síria?
Eles estão se dividindo de qualquer jeito. Em primeiro lugar, a desmoralização é muito forte. Além disso, muitos combatentes estão depondo as armas, porque entre os militares que lutam no lado do Exercito Livre da Síria há um número enorme de pessoas que começaram a fazê-lo por ideal. Eles foram para a rua em 2011 porque queriam mudanças para melhor, buscavam a democratização, mas estão vendo que, atualmente, o que está acontecendo no país não é a democratização e sim a degradação.

Pessoas que lutaram pela ideia estão depondo as armas, especialmente após a anistia anunciada por Al-Assad. Tudo isso leva a uma forte dissidência na oposição.

Qual a probabilidade das partes em conflito se sentarem à mesa de negociação? Tanto a Rússia como os EUA apoiam essa ideia?
Para Rússia e EUA, o mais importante é conservar a dignidade, provar que estavam certos. A Rússia, apoiando Al-Assad e os EUA, apoiando o Exército Livre da Síria. Mas Obama e Pútin sabem que é importante eliminar esse conflito

Nem a Rússia, nem os EUA, no entanto, acharam uma maneira de a conferência Genebra 2 beneficiar ambas as partes. A conferência foi adiada e será, penso eu, adiada outras vezes, até que haja um consenso entre o ministro das Relações Exteriores da Federação Russa Serguêi Lavrov e o secretário de Estado dos EUA John Kerry.

Como pode terminar o conflito na Síria? É possível haver uma divisão do país?

O assassinato de Al-Assad representaria uma derrota, pois toda a elite síria se uniu em torno dele. Dessa maneira, a Síria não poderá evitar a guerra civil e a posterior desintegração. Os curdos iraquianos na prática já estão independentes. Os curdos sírios ainda não se separaram, porque têm um acordo de princípio com Al-Assad. Se Al-Assad não existir, então não existirá o acordo.

Constitui-se a impressão de que o conflito está desaparecendo gradualmente, mas a situação na Síria permanecerá instável por muito tempo. Será um conflito latente que se prolongará por muitos anos, com ataques terroristas, possivelmente até com confrontos militares diretos que poderão irromper periodicamente.

Fonte: Gazeta Russa