Israel manipula negociações para anunciar expansão de colônias

Não foi surpresa o anúncio deste domingo (11) feito pelo ministro de Habitação e Construção de Israel, Uri Ariel, do partido sionista Lar Judeu, sobre a construção de 1.200 unidades habitacionais em colônias judias nos territórios palestinos da Cisjordânia e de Jerusalém Leste. Quase como uma contrapartida, entretanto, o governo israelense divulgou uma lista de 26 prisioneiros palestinos a serem libertos, no contexto da retomada das negociações.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Ministro israelense Uri Ariel - AP Photo/Sebastian Scheiner

Há poucos dias, a Administração Civil de Israel, que controla também grandes porções do território palestino, anunciou a construção de 878 novas unidades habitacionais na Cisjordânia, embora a suspensão da construção tenha sido um pedido central da Autoridade Nacional Palestina (ANP) para a retomada das negociações, cujo anúncio foi mediado pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

A construção de quase 2.000 casas na Cisjordânia e em Jerusalém Leste foi anunciada nas últimas semanas, enquanto o acordo, ainda sem grandes detalhes, para a volta à mesa de negociações foi anunciado há apenas duas semanas, através de uma reunião de dois dias entre as delegações de Israel e da ANP em Washington.

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Há a possibilidade de um acordo para a troca de territórios entre palestinos e israelenses, para que as colônias judias, construídas de forma ilegal e expandidas na ocupação do território palestino, sejam parte de Israel. Entretanto, este ponto não é consensual entre as partes e, ainda menos, entre os diferentes grupos internos à política de cada uma delas.

A negligência dos Estados Unidos sobre o assunto, intercalada em períodos de pedidos tímidos para o congelamento da construção nas colônias e períodos de silêncio total, foi patente em todo o desenvolvimento e ocupação israelense dos territórios palestinos, e neste momento em que a demonstração de comprometimento, através de medidas de contenção, a situação não é diferente.

A combinação das notícias sobre a retomada das negociações com as que se referem à construção nas colônias reflete o exemplo perfeito da completa descrença não só palestina, mas também de partes da sociedade israelense e internacional preocupadas com o tema sobre a vontade real de Israel em resolver o conflito, cuja única solução é o estabelecimento da Palestina independente.

De acordo com um artigo do principal jornal israelense, Ma’ariv, deste domingo, uma autoridade estadunidense disse que Israel notificou os Estados Unidos sobre a nova rodada de planos para as colônias, e apresentou-a como um projeto de “estímulos e afastamentos” (como é conhecida a “jogada” no âmbito das negociações em geral), que também inclui a libertação dos 26 prisioneiros palestinos, alguns detidos há quase 30 anos, o que não representa qualquer proporcionalidade.

Não é demais relembrar, além disso, que em outras ocasiões em que libertou prisioneiros palestinos (já detidos de forma arbitrária, irregular e em condições que violam gravemente os direitos humanos), a autoridade israelense recapturou e prendeu os mesmos palestinos, muitas vezes apenas alguns dias depois da sua libertação, sob as mesmas condições ilegais, nos parâmetros internacionais.

Por isso, o desenvolvimento dos planos internos para as negociações tem sido condicionado de forma determinante pelas demonstrações claras, por parte das autoridades israelenses, e mais uma vez, de um completo descompromisso com uma solução em que a Palestina seja finalmente estabelecida como um Estado independente e soberano, já que, havendo esta intenção de alguns dos próprios negociadores israelenses, eles não contam com o apoio de importantes grupos políticos neste sentido.

Mais uma vez, a falta de consenso político interno e de maior pressão da sociedade israelense (que em grande parte é alarmantemente mal informada sobre a posição palestina e as políticas do seu Estado na ocupação, segundo observadores nacionais), assim como uma pressão maior dos Estados Unidos, podem definir o fracasso desta que é a 11ª tentativa de negociações definitivas entre Israel e a ANP em 20 anos.