O limiar do cinema como arte e linguagem contra o racismo
Se o racismo nos Estados Unidos ainda é visível, imagine na década de 1920, quando ainda era aberto e legalizado… Isso não impediu que o filho de ex-escravos Oscar Micheaux dirigisse, em 1919, The Homesteader, o primeiro longa-metragem americano feito por um negro. O filme, baseado em um livro de própria autoria, conta sua experiência como proprietário de terras em Dakota do Sul, no estado de Minnesota, e inaugura o movimento do cinema negro americano.
Publicado 15/08/2013 16:39

O diretor que fez 42 filmes em trinta anos ganha agora retrospectiva no Brasil. Desde terça-feira (13) e até dia 25 de agosto, Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial exibe 27 títulos no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Serão 10 obras de Micheaux, seis do cineasta e ator Spencer Williams e outros cinco filmes hollywoodianos (Magnólia, O Cantor de Jazz, Imitação da Vida, Uma Cabana no Céu e Aleluia!).
Abaixo o preconceito
Nascido em 1884 na cidade de Metropolis, em Illinois, Oscar Micheaux era um dos 13 filhos de um casal de ex-escravos. Mudou-se para Chicago aos 17 anos e trabalhou como carregador. Depois comprou terras em Dakota do Sul e decidiu que voltaria para Chicago para montar sua própria produtora de filmes e editora.
Na Micheaux Films and Book Co, além de dirigir, ele fazia roteiro, produzia e distribuía suas próprias obras. Foi assim que se tornou um dos maiores produtores do movimento conhecido como Race Pictures, caracterizado por filmes de baixíssimo orçamento produzidos por e para negros entre as décadas de 1920 e 1950, auge da segregação racial nos Estados Unidos.
Seus filmes eram a ferramenta que usava para combater o racismo promover a conscientização dos afroamericanos . “Uma das grandes tarefas da minha vida tem sido ensinar que os homens de cor podem ser qualquer coisa”, disse uma vez. E dava o exemplo, como proprietário de terras e cineasta dono de uma produtora/editora.
Em 1915, D.W. Griffith lançou O Nascimento de Uma Nação (que também será exibido na mostra), sobre a vida de duas famílias durante a Guerra da Secessão e a reconstrução dos Estados Unidos. O filme de grande sucesso na época mostra os negros (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de preto) como pessoas estúpidas, preguiçosas e sexualmente agressivas, estereótipos hollywoodianos terrivelmente comuns.
Em resposta, Micheaux fez uma de suas obras mais marcantes: Dentro de Nossas Portas (Within Our Gates), de 1920, que conta a história de Sylvia Landry, uma jovem negra que ajuda a levantar fundos para uma escola que foi palco de um terrível acontecimento no seu passado.
Como o nascimento do Race Movies, os negros tinham, enfim, a possibilidade de falar sobre por e para si mesmos sobre temas diversos, como o casamento entre raças, linchamentos, cinebiografias de afroamericanos famosos, jazz, blues etc.
Também faz parte da mostra O Sangue de Jesus (The Blood of Jesus), sobre um ateu que, acidentalmente, mata a esposa batista.
Mostra Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial
Quando: de 13 a 25 de agosto, de terça a domingo
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, SCES Trecho 2, conjunto 22, Brasília (DF)
Quanto: grátis, com distribuição de senha uma hora antes do evento
Informações: No site ou (61) 3108-7600
Fonte: Rede Brasil Atual