WikiLeaks: Soldado diz lamentar "danos aos EUA" com divulgações

O soldado estadunidense Bradley Manning, condenado no mês passado por ter passado uma enorme quantidade de documentos à WikiLeaks, disse lamentar as suas ações e ter prejudicado os Estados Unidos. A declaração desta quarta-feira (14) foi a primeira em que Manning lamentou publicamente a ação de maior fuga de informação classificada da história dos EUA, e pela qual foi preso em 2010.

Bradley Manning - AFP

Manning, de 25 anos, foi condenado na semana passada no âmbito da Lei da Espionagem, mas foi declarado inocente do crime de “ajuda ao inimigo” (a informação divulgada pela WikiLeaks poderia ser usada eventualmente pela Al-Qaeda, alegava a acusação), que poderia teria valido uma pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

Assim, enfrenta a possibilidade de uma pena máxima de 90 anos de prisão. “Percebo que tenho de pagar o preço”, disse, na declaração feita ao tribunal, numa sessão para o processo de decidisão da pena, que será anunciada na próxima semana. As condições em que está detido e o processo secreto do seu julgamento são duramente criticados pelos defensores de Manning e observadores internacionais.

“Lamento as consequências não intencionais das minhas ações. Quando as tomei, acreditei que estava ajudando as pessoas, e não a prejudicá-las". A divulgação de documentos secretos sobre a política externa estadunidense, com evidências da intervenção política, entre outros, em outros países, levou à discussão sobre a necessidade de maior transparência dos governos nas relações internacionais.

A declaração seguiu-se a três dias em que a defesa de Manning chamou testemunhas que pudessem ajudar a conseguir uma sentença mais leve para o analista de informação, que fez download de 700 mil arquivos classificados enquanto estava destacado no Iraque e os passou à WikiLeaks, que critica o secretismo.

Na sua declaração, Manning disse que estava a “lidar com uma série de coisas” que embora não fossem uma desculpa para a sua ação, mas sublinhou que não tinha considerado “completamente todos os efeitos alargados" das ações.

Até agora, Manning tinha tentado sempre justificar as suas ações, dizendo que pretendera provocar um debate global sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão. “Quando olho para as minhas decisões, pergunto-me como é que eu pude pensar que poderia mudar o mundo. Era um simples analista.”

Diversos grupos internacionais têm denunciado as práticas dos Estados Unidos de manipulação política, permitida pelo secretismo das suas ações e documentos, assim como os programas de espionagem que também vieram a público recentemente. Além disso, o julgamento de Manning, outra situação sem transparência e denunciada pelo próprio Julian Assange, fundador da WikiLeaks, também tem sido questionado.

Com informações do Público,
Da redação do Vermelho