Egito prepara-se para mais protestos e EUA devem suspender apoio

Com centenas de mortos da quarta-feira (14) ainda por sepultar, o Egito prepara-se para um novo dia de protestos nesta sexta (16), depois de a Irmandade Muçulmana ter apelado aos seus manifestantes que saiam à rua para uma “Sexta-feira de Raiva”. Desafiando as críticas internacionais ao massacre desencadeado pela operação policial contra os acampamentos islamistas, o Governo interino avisou que a polícia tem autorização para usar balas reais.

Egito - Khaled Desouki/AFP

O último balanço oficial confirma que mais de 600 pessoas morreram desde quarta-feira (14) no Egito, a maioria no Cairo, onde a polícia usou balas reais para dispersar os apoiantes do presidente deposto Mohamed Morsi, que desde o início de julho ocupavam duas praças no leste do Cairo.

Depois disso, a violência espalhou-se a várias partes da capital e também a diferentes cidades, com confrontos que opuseram os islamistas às forças de segurança e aos apoiantes do Governo interino, tutelado pelo Exército.

O estado de emergência e o recolher obrigatório (imposto entre as 19h00 e as 6h00) asseguraram uma acalmia da situação nas últimas 24 horas, apesar de manifestações em Alexandria e no Cairo terem terminado com o incêndio de edifícios governamentais.

Porém, a violência pode regressar após as orações semanais desta sexta-feira, depois de a Irmandade ter chamado os seus milhões de apoiantes às ruas para uma nova “Sexta-feira de Raiva”, nome pelo que ficou conhecido o mais sangrento dos dias de protesto que antecederam a queda de Hosni Mubarak, em 2011.

“Apesar da dor e lamento pela morte dos nossos mártires, os últimos golpes criminosos aumentaram a nossa determinação para acabar com eles”, lê-se em um comunicado do movimento islamista que, depois de ter vencido os escrutínios realizados desde 2011, luta agora pela sua sobrevivência.

Gehad El-Haddad, porta-voz da Irmandade e um dos poucos dirigentes que ainda não foi detido, admite que os protestos poderão fazer regressar a violência, mas afirma que “depois das detenções e mortes, as emoções estão demasiado elevadas para serem comandadas por alguém”.

O risco é maior face ao apelo lançado pela Frente de Salvação Nacional, coligação de partidos liberais que apoiou a deposição de Mursi pelo Exérctio, em 3 de julho, que pedido aos seus manifestantes para saírem também à rua, noticiou a BBC.

Alguns bairros organizam-se para impedir a passagem dos manifestantes pelas suas zonas e os cristãos coptas, a principal minoria do Egipto, organizam-se para impedir que mais igrejas sejam atacadas .

Conselho de Segurança exige “máximo de contenção”

Reunido de emergência para analisar a situação no Egito, o Conselho de Segurança da ONU apelou na madrugada desta sexta-feira ao fim da violência e ao “máximo de contenção” de parte a parte.

“A posição dos membros do Conselho é que é importante que termine a violência no Egito e que as partes tenham o máximo de contenção”, anunciou a embaixadora da Argentina, país que detém atualmente a presidência rotativa do órgão da ONU. A reunião foi pedida pela França, Reino Unido,  Austrália e Turquia.

Maria Cristina Perceval sublinhou que esta não é ainda uma declaração oficial do Conselho de Segurança sobre os incidentes no Egito, mas um primeiro comentário. A embaixadora da Argentina não deixou de lamentar a “perda de vidas humanas”, sublinhando que só com o fim da violência haverá lugar para a “reconciliação nacional”.

A primeira reação do Conselho de Segurança à intervenção da polícia egípcia, na quarta-feira, contra apoiantes do deposto presidente Mohamed Morsi, sucedeu ainda a dos Estados Unidos na crítica suave e atrasada contra a violência que se registrou na capital do Egito.

A influência e conviência dos EUA com os sucessivos governos egípcios (ainda antes de Mubarak e sobretudo durante a sua gestão) é emblemática, e baseia-se em considerações geoestratégicas de "estabilidade" em uma região que consideram crucial. O apoio norte-americano traduz-se fundalmentalmente em armamentos e financiamento militar, que passa de 1 bilhão de dólares anualmente.

Atualizada às 10h30

Com informações do Público,
Da redação do Vermelho