Urbano Tavares Rodrigues, exemplo de intelectual comunista

Urbano Tavares Rodrigues, destacado intelectual comunista e figura de cume da cultura portuguesa; Ele despediu-se da vida na última sexta-feira (9), poucos meses de completar 90 anos, que ocorreria no diaa 6 de dezembro

Urbano Tavares Rodrigues

No seu funeral, realizado ao fim da tarde de sábado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, compareceram centenas de pessoas – familiares, amigos, camaradas, admiradores –, que fizeram questão de homenagear o escritor, o homem generoso, o militante comunista. Entre os presentes, contavam-se diversas personalidades da vida política e cultural, com destaque para os representantes da Sociedade Portuguesa de Autores, do qual era membro ativo e em cuja sede o corpo do escritor esteve em câmara ardente, de lá saindo para o cemitério, e do Partido Comunista Português, no qual militava há décadas.

O caixão foi coberto por uma grande bandeira do PCP, respeitando aquele que era o seu desejo, expresso aliás no prefácio daquele que será o seu último livro, Nenhuma Vida (que será editado pela D. Quixote):

«Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhoso adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz.»
 
A delegação do PCP era formada pelo Secretário-geral, Jerônimo de Sousa, e pelos membros da Comissão Política Armindo Miranda e Jorge Pires, mas estiveram também presentes muitos outros dirigentes e militantes do Partido.

Na nota que o Secretariado do Comité Central do PCP emitiu a propósito do seu falecimento, salienta-se que Urbano Tavares Rodrigues «fica na história da literatura portuguesa como um dos seus mais relevantes expoentes», autor de uma vasta obra literária que abarca todos os domínios da escrita: romance, novela, conto, teatro, poesia, crónica, ensaio, jornalismo, viagens. Na sua obra, destaca ainda o dirigente do PCP, «estão presentes os valores humanos que nortearam toda a sua vida – a liberdade, a justiça social, a paz, a solidariedade, a fraternidade».

Intensa atividade política

Urbano Tavares Rodrigues, realça a nota do Secretariado, «desenvolveu uma igualmente intensa atividade política, iniciada muito cedo e muito cedo com ligação ao PCP, e que se prolongou ao longo de toda a sua vida». Em 1949, participou na campanha eleitoral do General Norton de Matos, após o que foi para França onde foi leitor de Português em Montpellier e na Sorbonne, em Paris. Em 1955, regressou a Portugal para assistente na Faculdade de Letras de Lisboa, de onde viria a ser afastado pouco depois, por motivos políticos. Este impedimento de leccionar prolongar-se-ia por alguns anos e não se limita à universidade.

Em Dezembro de 1962, participou em Cuba de um encontro de escritores solidários com a revolução cubana e, no ano seguinte, enquanto membro das Juntas de Ação Patriótica, presidiu à delegação portuguesa ao congresso em defesa da liberdade da cultura, realizado pela Comunidade Europeia de Escritores, em Florença (Itália). No mesmo ano foi preso, acusado de pertencer ao PCP e às Juntas de Ação Patriótica. Foi a primeira de três prisões que sofreu, nas quais foi submetido a brutais torturas pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a polícia política da ditadura salazarista em Portugal).

Em 1966, participou novamente num congresso promovido pela Comunidade Europeia de Escritores, durante o qual denunciou a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores e a situação do escritor angolano Luandino Vieira, preso no Tarrafal, na ilha de Santiago (Cabo Verde).

Ao longo daquela década, Urbano Tavares Rodrigues participou ativamente em ações do Conselho Mundial da Paz e do Conselho Português para a Paz e a Cooperação, então semiclandestino em Portugal. Esta ligação ao movimento da Paz leva-o a Bruxelas, em 1971, onde participou nos trabalhos preparatórios da Conferência de Helsinque sobre a Paz e o Desarmamento.

Ativista destacado da Oposição Democrática, Urbano Tavares Rodrigues participou em várias campanhas «eleitorais» e foi membro da Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro (Portugal) em 1973. Após a Revolução de 25 de Abril, teve uma intervenção ativa no processo revolucionário e na luta em defesa das conquistas da Revolução, diz ainda o PCP, acrescentando que o escritor integrou o Setor Intelectual da Organização Regional de Lisboa e foi candidato a deputado pelo círculo da Emigração.

Fonte: Avante!