Países do Oriente Médio divergem sobre situação política do Egito

Em meio à crise que se instaurou no Egito desde a deposição do presidente Mohamed Mursi, em 3 de julho, e ao clima de violência que se acentuou nos últimos dias, com a morte cerca de 600 pessoas, os países do Oriente Médio têm opiniões diversas sobre o conflito. Enquanto Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos apóiam o Exército, Turquia, Irã e Catar defendem a Irmandade Muçulmana, à qual Mursi pertence. 

Protestos no Egito - Reuters

No mês passado, dias após a saída de Mursi do poder, os Emirados Árabes Unidos deram um claro sinal de apoio às novas autoridades egípcias, oferecendo U$S 3 bilhões em apoio à economia do país.

Nesta quarta-feira (14), o governo emiratense pronunciou-se, através de um comunicado liberado pela agência de notícias estatal WAM, em que “reafirma sua compreensão das medidas soberanas tomadas pelo governo egípcio depois de ter exercido ao máximo o autocontrole”.

Segundo a declaração, o fato “lamentável” é o de que “grupos políticos extremistas têm insistido na retórica de violência, incitamento e perturbação dos interesses públicos”.

Já o rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, declarou apoio aos egípcios “contra o terrorismo” e considerou a situação uma "tentativa fracassada de golpear a união do Egito", sem, no entanto, fornecer maiores detalhes. Por meio de comunicado, o monarca afirmou que “o Egito é capaz de superar a crise” e manifestou “tristeza” pela violência em sua “segunda pátria”.

Ele também se opôs a qualquer intervenção estrangeira no país por “atiçar o fogo da discórdia” e destacou que "os que intervêm [no conflito egípcio] devem voltar à razão". Segundo ele, a estabilidade do Egito e do mundo muçulmano e árabe se contrapõe "aos que incitam o ódio".

Na direção diametralmente oposta está o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que cobrou maior intervenção dos países do Ocidente no Egito e, nesta quinta (15), pediu a realização de uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para tratar do massacre no país.

A Turquia enfrentou sua própria violência interna no mês passado, com a repressão extrema pelas forças do Estado contra manifestantes por todo o país.

"Aqueles que permanecem em silêncio frente a este massacre são tão culpados como aqueles que realizaram. O Conselho de Segurança tem que se reunir rapidamente", reivindicou em entrevista coletiva.

O órgão da ONU reuniu-se às pressas na cidade de Nova York e pediu o fim da violência no Egito, manifestando “preocupação” com a situação e o grande número de mortos.

Erdogan também acusou o Ocidente de “hipocrisia” por não defender a democracia igualmente em todos os lugares. “Na verdade, se os países ocidentais não começarem realmente a agir sobre esse assunto… Eu acredito que a democracia começará a ser questionada em todo o mundo”, disse, segundo o jornal turco Hurriyet Daily News.

Segundo outro jornal turco, o Today’s Zaman, o primeiro-ministro comparou a situação dos egípcios à dos palestinos. “Estou dizendo aos países ocidentais: vocês ficaram quietos sobre a Palestina, sobre Gaza e estão fazendo o mesmo com o Egito. Depois disso, como vão continuar falando de democracia e direitos humanos? Como vão continuar falando de valor humanístico com pessoas sendo mortas na sua frente?”, teria questionado.

O presidente do Irã, Hassan Rohani, também apoiou os manifestantes e pediu ao Exército egípcio que não suprima as massas. “O grande povo do Egito é um povo à procura de liberdade. Não o suprimam. O caminho das pessoas é o caminho da democracia e do islã. Todo o mundo deveria respeitar a vontade dos egípcios”, declarou.

O Irã, que historicamente teve poucas relações com Cairo, tinha um bom relacionamento com o governo de Mursi e considerava a Irmandade Muçulmana uma parte do “despertar islâmico” na região.

Por sua vez, o Catar, grande apoiador da Irmandade Muçulmana, também condenou a violência e instou os egípcios a retomarem o diálogo para lidar com a crise. “O Catar acredita que o meio mais seguro e garantido para resolver a crise é o caminho pacífico por meio do diálogo entre as partes que têm que viver juntas em um sistema político e social pluralista”, afirmou uma autoridade por meio de comunicado divulgado pela agência QNA.

Na Jordânia, centenas de pessoas se manifestaram nesta sexta (16) após a oração muçulmana do meio-dia no centro da capita,l Amã, para protestar contra o assassinato de seguidores de Mursi. O protesto foi liderado pelo secretário-geral do braço jordaniano da Irmandade Muçulmana do Egito, a FAI (Frente de Ação Islâmica), Hamza Mansur, e outros dirigentes opositores.

O governo jordaniano, entretanto, declarou apoio às autoridades egípcias em sua busca pela restauração da estabilidade e esforços para reforçar a supremacia da lei. O ministro Nasser Judeh, em declarações à agência estatal Petra News, também destacou o apoio da Jordânia à vontade do povo egípcio de renunciar ao terrorismo e a todas as tentativas de interferência externa no país.

Em represália ao massacre, a Irmandade Muçulmana convocou uma “sexta-feira de raiva” no Egito. Segundo  emissora árabe Al Jazeera, nos confrontos desta sexta entre os manifestantes islâmicos e o Exército, a quem o governo permitiu usar armas letais, morreram pelo menos 90 pessoas. 

Com Opera Mundi