Sauditas anunciam-se como garantidores do Exército egípcio

Chefe da diplomacia saudita, o príncipe Saud al-Faisal respondeu às retóricas dos Estados Unidos e da União Europeia sobre a eventual suspensão do apoio ao Egito, após a escalada da violência entre policiais, Exército e manifestantes, desde a destituição do presidente Mohammed Mursi, no começo de julho. A Arábia Saudita, segundo o príncipe, vai cobrir financeiramente o desfalque causado por qualquer sanção.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Saud al-Faisal - An7a

Logo após a destituição de Mursi pelo Exército, em 3 de julho, fato pelo qual os analistas vêm se digladiando pelos termos a serem empregados e as análises políticas a serem feitas no contexto macrorregional, a Arábia Saudita adiantou-se ao fazer frente a uma medida que os EUA e a Europa ainda não tinham tomado.

O reino, de sete vizinhos bastante diversos, emergiu como principal apoiador do governo interino, cujo presidente, nomeado pelo Exército, é Adly Mansour. O apoio chegou na forma de US$ 5 bilhões iniciais, complementados em um pacote de mais US$ 4 bilhões do Kuait e US$ 3 bilhões dos Emirados Árabes Unidos, todos vizinhos.

A “assistência financeira” foi enviada ainda antes de os Estados Unidos anunciarem a “suspensão” do apoio ao Exército egípcio, especificada apenas com o adiamento indefinido dos exercícios militares conjuntos, e não da ajuda de US$ 1,3 bilhão de dólares anualmente, desde 1987 (como previsto no acordo de paz que os EUA mediaram entre Israel e Egito, em 1979).

O pacote saudita-kuaitiano-emirado de 28,6 bilhões de reais destina-se ao confronto do governo interino contra os islamitas, apoiadores do presidente deposto, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana. Isto, impulsionado por um país governado pela lei islâmica (sharia), através da monarquia.

Além do pacote, a Arábia Saudita também já afirmou que compensará qualquer ajuda que deixe de ser dada pelos EUA ao Egito, o que os norte-americanos ainda não anunciaram. Perder a influência e o pé de apoio no Oriente Médio não está na agenda geoestratégica estadunidense, sobretudo ao tratar-se de um vizinho de Israel.

O general Abdel Fatah al-Sisi, chefe das Forças Armadas, foi adido militar do Egito em Riad (capital saudita), o que pode colaborar para as boas relações entre os países. A ligação dos militares egípcios com os Estados Unidos, por outro lado, sempre foi evidenciada, não apenas com o apoio financeiro recebido, mas também com a formação militar-acadêmica.

"O reino coloca-se ao lado do Egito e contra todos aqueles que procuram interferir nos assuntos domésticos do Egito", disse o rei saudita Abdullah bin Abdul Aziz Al-Saud, na semana passada.

A afirmação era a sua resposta às declarações tímidas dos EUA (que pediu ao governo interino do Egito a suspensão do “estado de emergência”, decretado há duas semanas, e o fim da violência na rua) e da União Europeia, que apesar de condenar a violência e ameaçar com uma “revisão das relações”, mantém a mesma retórica norte-americana. Como manda a regra.