Universidade Estadual da Paraíba inaugura campus em prisão 

Em uma iniciativa inédita no país, foi inaugurado na tarde desta terça-feira (20), o Campus Avançado Dom José Maria Pires, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), instalado dentro do presídio do Serrotão, em Campina Grande (PB). A unidade de educação idealizada pela UEPB oferecerá uma nova perspectiva de ressocialização para o sistema penitenciário da Paraíba, uma vez que serão oferecidos cursos de formação desde o ensino regular , técnicos e, posteriormente, universitários. 

Universidade Estadual da Paraíba inaugura campus em prisão - UEPB

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, apontou a obra como revolucionária e destacou que a presença da UEPB dentro do presídio inicia um novo modo de oferecer educação com ressocialização.

“A ousadia da UEPB é tamanha que estamos iniciando um processo de mudança de mentalidade na sociedade. O diálogo passa a ser feito a partir da academia, que rompe seus muros e começa a pisar em um terreno muito difícil. Isso só está sendo executado porque há um sentimento de mudança. Estamos seguindo os mesmos passos e eu tenho certeza que um momento como esse será eternizado na história da Paraíba”, ressaltou.

Para o reitor da UEPB, professor Rangel Junior, esse trabalho nasce com um cunho pedagógico muito importante, já que desde o início foram inseridos dentro do contexto do Campus Avançado, os apenados que trabalharam na construção das dependências físicas do local.

Para ele, a perspectiva de futuro são as melhores possíveis, visto que desde o trabalho físico até a frequência dos cursos que serão oferecidos, todos irão crescer a partir da iniciativa que a Universidade ofereceu.

“Isto será algo permanente. A UEPB, a partir de agora, se fará presente dentro do Presídio do Serrotão até que o sistema carcerário não se faça mais necessário, o que deve ser uma meta de toda a sociedade. Vários professores das áreas de Tecnologia, Saúde e Humanas estarão ministrando aulas que transformarão ainda mais a vida dessas pessoas. Também ocorrerão outras atividades dentro do Campus com nossos alunos, a exemplo de projetos de pesquisa que poderão se transformar em projetos de extensão”, disse o reitor, enumerando alguns dos benefícios trazidos pelo Campus Avançado.

A unidade já começou a funcionar com o curso de informática básica para os apenados. Nas próximas semanas, será implantado o curso “Gestão Penitenciária e Direitos Humanos”, destinado a agentes penitenciários que atuam na unidade prisional. Paralelo a essa atividade, será ministrado um curso preparatório para o exame supletivo e, também, será iniciada a oficina de leituras.

Homenagem a Marlene Alves

Diversas personalidades que contribuíram de alguma forma para o êxito do Campus Avançado foram homenageadas durante a solenidade de inauguração, entre elas a ex-reitora da UEPB, professora Marlene Alves (na foto ao lado do reitor Rangel Júnior). Ela disse que a educação e a cultura são instrumentos de ressocialização, com o poder de transformar a vida dos apenados que, a partir de então, passarão a desenvolver atividades acadêmicas, pedagógicas e culturais dentro do presídio.

Também participaram da solenidade de inauguração o secretário de Administração Penitenciária da Paraíba, Walber Virgulino; o diretor do Presídio do Serrotão, Manoel Eudes Osório; a diretora do Presídio Feminino, Alinne Cardoso; o juiz da Vara de Execuções Penais, Fernando Brasilino Leite; a deputada estadual Eva Gouveia, além da professora Aparecida Carneiro, coordenadora do Campus Avançado.

Estrutura do Campus

O projeto do Campus Avançado foi uma iniciativa da UEPB em parceria com a Vara de Execuções Penais, Secretaria de Estado da Administração Penitenciária e Direção do Complexo Serrotão. O projeto integral é constituído de três espaços. No presídio feminino, foram construídos dois galpões com diversas finalidades e usos.

No primeiro galpão, existe uma sala multiuso, uma biblioteca, uma sala de costura (mini fábrica para confecção de bolsas, cintos e outros artefatos), seis celas berçários, uma sala para atendimento médico e sala de espera. No segundo galpão, há quatro apartamentos (tipo suíte) para visita íntima, uma brinquedoteca e uma caixa de areia.

Já no presídio masculino foi construído escritório de prática jurídica (Escritório Modelo de Advocacia) com três parlatórios, uma sala de advogados, uma sala para videoconferência, uma sala para arquivos, dois banheiros (masculino e feminino) e uma sala de espera. Além disso, está em construção o galpão-fábrica de pré-moldados.

Ainda no presídio masculino foi feita reforma e ampliação do galpão-escola, com a construção de oito salas de aula, uma copa, dois banheiros, um mezanino com biblioteca e espaço para acervo, ambientes de leitura e área para apresentação de vídeos.

Custos

Todos os tijolos das paredes foram produzidos pelos presidiários, com cimento e areia adquiridos pela UEPB em suas compras gerais. Parte do material utilizado na obra foi adquirida da mesma forma. A mão de obra para as construções foi constituída em 70% de presidiários, que terão os dias de trabalhos revertidos em redução de pena, na proporção de três dias de trabalho por um dia a menos de pena. Os estudos também contribuirão para a redução da pena, na medida de um dia a menos de pena para cada 12 horas dedicadas à educação.

Os custos da obra foram diluídos nas ações gerais da Universidade, tendo um valor total calculado na ordem de R$ 1,3 milhão. Segundo o professor Rangel Junior, “no conjunto do processo, a UEPB contou com apoio fundamental da direção do Complexo Prisional, nas pessoas dos diretores de cada presídio (feminino e masculino) e também dos agentes penitenciários. Da mesma forma, o juiz Fernando Brasilino, da Vara de Execuções Penais, é um dos grandes responsáveis pelo nascimento do projeto e um dos mais destacados parceiros e entusiastas do mesmo”.

Da Redação em Brasília
Com informações da UEPB