Angel Guerra Cabrera: Um livro clássico sobre a Revolução Cubana
O livro El Moncada, la respuesta necesaria do historiador Mario Mencía (Cruces, Cuba, 1931), é um interessantíssimo relato que se lê como um romance. Sua estrutura cinematográfica e a fluidez de sua prosa facilitam a compreensão deste transcendental capítulo histórico.
Por Angel Guerra Cabrera*
Publicado 23/08/2013 21:03
Isto é válido não só para Cuba, pois existem semelhanças que inevitavelmente evocam situações que hoje os movimentos populares antineoliberais enfrentam na América Latina e Caribe. Esta edição do Escritório de Publicações do Conselho de Estado de Cuba, ampliada e modificada em relação à primeira edição de 2006, confirma o irredutível compromisso do autor com os fatos históricos tal como se vão revelando em suas diligentes pesquisas, em simultâneo com a originalidade de suas interpretações.
Com quatro décadas dedicadas à pesquisa sobre esta etapa da história de Cuba e numerosos títulos publicados, Mencía nos explica que nos anos posteriores ao triunfo da Revolução Cubana surgiram mitos e tergiversações reducionistas sobre o movimento insurrecional. Predominava a ideia esquemática do “foco” guerrilheiro nas montanhas formado por um grupo de heróis iluminados, que apenas com o apoio do campesinato das montanhas e uma série de ações armadas isoladas do resto da população, tinha derrotado a tirania. Esta visão passava por cima da pluralidade dos sujeitos políticos e das classes e camadas sociais que fizeram parte do processo da guerra revolucionária em Cuba ou dos acontecimentos que levaram à sua eclosão, as multifacéticas e complexas evoluções e etapas que atravessou, a diversidade de cenários – cidades, prisões, montanhas, exílio – em que se produziu e as distintas formas de luta que lhe foram inerentes, cada uma segundo exigiam as circunstâncias, por mais que num dado momento a principal fosse a luta armada.
Mas, de modo algum foi a única. Esgotadas as vias legais e políticas como forma principal de luta, o propósito principal da ação armada era o impulso à organização, conscientização e crescimento do movimento revolucionário e de massas em escala nacional, que exigia a realização de um intenso trabalho político e propagandístico pela vanguarda. Tratava-se de construir um movimento de massas capaz de aportar o suficiente suporte político e logístico a essas próprias ações para conduzi-las à vitória do movimento revolucionário, objetivo estratégico supremo. Isto, enfrentando condições extremamente adversas tanto pela precariedade dos recursos econômicos, de comunicação e militares dos revolucionários, como também pelo contexto geopolítico desfavorável.
Embora Mencía retifique sua própria visão anterior sobre Washington como orquestrador do golpe de Estado de Batista, sublinha o crescente apoio que este e seu regime sempre receberam dos meios de difusão estadunidenses, assim como da Casa Branca, do Pentágono e da CIA. Sobre estes temas tive o privilégio de manter um frutífero intercâmbio nos últimos dias com o autor, meu amigo e companheiro de muitos anos.
Mencía decidiu centrar-se na investigação sobre esta etapa da história de Cuba depois que através da investigação sobre os movimentos guerrilheiros na América Latina na década de 1960 se deu conta da ignorância existente sobre ela até na ilha e o dano que isto estava provocando em outros países irmãos, incluído um alto custo em sangue.
Isto o levou em 1972 ao estudo do golpe de Estado de 10 de março de 1952, o dinâmico processo político que se seguiu, o surgimento de Fidel Castro nessa conjuntura e sua liderança, que considera imprescindível. Igualmente, as características do Movimento 26 de Julho por ele encabeçado, a análise dos fatos que conduziram o chefe revolucionário à decisão de levar a cabo o ataque ao quartel Moncada e a criatividade e a paixão com que transformou esse revés em um acelerador das condições subjetivas para a revolução.
Se no começo do livro vemos uma luta estudantil dinamizadora de todo o espectro revolucionário, também observaremos o protagonismo das mulheres, os obstáculos que os velhos partidos políticos com retórica insurrecional põem, embora, paradoxalmente, servirão para nuclear futuros combatentes, a incursão da classe operária e das camadas médias. Perfila-se, enfim a ampla e abrangente estratégia fidelista que conduzirá à articulação de todas as forças revolucionárias até levá-las à vitória de 1959.
*Angel Guerra Cabrera é jornalista cubano residente no México e colunista do diário La Jornada.
Fonte: Cubadebate
Tradução do Blog da Resistência