A especulação financeira e o preço do dólar

Analistas econômicos veem a especulação financeira no centro das apostas na alta do dólar. Ela é alimentada pela perspectiva de aumento dos juros nos EUA (acenada pelo Fed)

Por José Carlos Ruy (*)

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A ação do Banco Central (BC) no câmbio começa a dar resultados e acua a especulação que levou à disparada do dólar. Na quinta feira (22) o valor da moeda estadunidense fechou em queda de 0,78%, forçada pela forte venda promovida pelo BC no mercado livre de câmbio. Na sexta-feira (23) o recuo acelerou ainda mais, com queda de 3,23%, sendo o dólar cotado a R$ 2,353 para venda. Foi a maior diminuição do dólar desde 23 de setembro de 2011.

Na semana, confirmando o alerta do ministro da Fazenda Guido Mantega aos especuladores de que perderiam dinheiro se apostassem na alta do dólar, a moeda estadunidense teve redução de 1,78%, indicando a reversão da valorização que ainda se mantém na faixa de 3,1% no mês e 15,1% no ano.

Nesta segunda feira (26) a tendência de baixa prossegue, em resposta ao anúncio do BC de que vai fazer leilões diários de swap cambial (venda da moeda norte-americana no mercado futuro), no valor de US$ 500 milhões cada, de segunda-feira a quinta-feira, e um leilão todas as sextas-feiras, até o fim do ano, para venda de US$ 1 bilhão das reservas internacionais com compromisso de recompra futura.

A oscilação do valor do dólar ocorre em um quadro que combina a expectativa de mudanças econômicas nos EUA com a ganância da especulação. E as avaliações são contraditórias. Por exemplo, para o professor professor de economia internacional André Nassif, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o valor do dólar ainda está muito baixo. Para ele, a cotação de equilíbrio seria entre R$ 2,70 e R$ 2,90, muito acima da cotação atual.

A taxa de equilíbrio é definida como aquela que é neutra para exportadores, importadores e produtores domésticos, sem dar incentivo a nenhuma das partes. “Na última década, o país assistiu à sobrevalorização do real, que prejudicou as vendas externas, principalmente de produtos industriais, e estimulou as importações”, declarou Nassif.

Ele explica que o processo piorou com a crise econômica nos países ricos, quando houve redução dos juros e valorização artificial de moedas nos países ricos, levando à queda do dólar em todo o mundo, e provocando dificuldades para a indústria de países como o Brasil.

Hoje, pensa ele, esse processo está mudando, e a perspectiva de recuperação dos Estados Unidos e de parte da Europa, gera a expectativa de redução dos estímulos à economia (sobretudo nos EUA) e de aumento nos juros, que pode inverter o fluxo dos recursos no mundo, cujo alvo voltaria a ser os países ricos, e não as economias emergentes, como ocorre durante a crise econômica.

Na opinião do professor, entretanto, embora seja positiva no médio e longo prazos, uma desvalorização do real não pode ser abrupta, pois isso “gera inflação e traz transtornos para qualquer economia”.

Ele lamentou, sobretudo, a perda da oportunidade de, durante a crise mundial, o Brasil estabelecer controles sobre o fluxo cambial. Naquele momento, em que o dinheiro internacional jorrava em direção aos países emergentes, teria sido possível a introdução da quarentena de capital, quando os especuladores internacionais são obrigados a manter o dinheiro parado no país por determinado período. “Com o controle de capitais, os investimentos financeiros não estariam saindo tão rápido do Brasil”, disse.

Outro economista que avaliou o quadro foi Alex Agostini, da consultoria Austin Rating. Para ele, a alta do dólar nos últimos meses ocorreu em níveis irreais e refletiu a especulação financeira, que assanhou as perspectivas de ganhos com base na turbulência internacional. Para ele, a alta do dólar está descolada dos fundamentos da economia brasileira. “O que está por trás da alta do câmbio é o rearranjo da disputa pela rentabilidade do capital internacional, mas uma desvalorização nesse nível não tem fundamento. Se pegarmos a economia brasileira, do início de maio para cá, vemos que não mudou muita coisa. Os fundamentos da formação da taxa de câmbio estão os mesmos”, disse.

Para ele, os problemas internos da economia brasileira, com acusações de manobras fiscais e maquiagem das contas públicas, ajudam a empurrar o dólar ainda mais para cima. Mas, pensa ele, esse não foi o principal fator para cotação do dólar ter subido 15% em 2013. Os problemas não são novos, diz ele. Mas as reservas internacionais do Brasil “continuaram a subir mesmo no período em que a contabilidade do governo passou a ser questionada. O principal motivo é mesmo uma disputa pelo capital internacional, que faz os investidores retirar o dinheiro aplicado no Brasil nos últimos anos”, explicou.

Ele vê um forte componente especulativo por trás da desvalorização das moedas dos países emergentes, entre elas o real. E enfatiza que o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, ainda nem começou a retirar os estímulos monetários para a economia dos Estados Unidos. “É uma série de interpretações de declarações de Bem Bernanke [presidente do Fed] e de diretores da instituição que está provocando instabilidade no sistema financeiro internacional. A própria ata da reunião do Fed [divulgada na última quarta-feira (21)] não informa nem quando o Banco Central americano vai começar a agir. Só diz que pode ser no fim do ano”, disse.

Com informações da Agência Brasil