Discurso de Kerry endurece posição dos EUA sobre ataque à Síria

Washington procurou endurecer a postura do regime americano contra a Síria nesta segunda-feira (26) após a surpreendente declaração do secretário de Estado do país, John Kerry, alinhado ao argumento do suposto uso de armas químicas pelo governo de Damasco, pretexto para uma intervenção armada.

John Kerry - AFP

Kerry advertiu em um discurso improvisado que "até agora a evidência é irrefutável", sobre a suposta ação com uso de armas químicas contra a população civil, dando a entender que o país daria uma resposta militar em consequência disto.

Nesse sentido, pediu a todas as nações para que se unam e, segundo disse, esclareçam a responsabilidade pelo uso de armas químicas na síria, dizendo que o "que está diante de nossos olhos é real e convincente", embora não tenha mostrado nenhuma prova do que dizia.

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O suposto emprego deste tipo de armamento seria a tal "linha vermelha" estabelecida há meses pelo chefe da Casa Branca, Barack Obama, para decidir se tomaria uma resposta mais dura contra Damasco, que suporia uma intervenção armada.

As palavras do chefe da diplomacia estadunidense foram ouvidas um dia depois que a Casa Branca afirmar que "está quase seguro" que o uso de armas químicas foi feito pelo governo sírio, algo negado de forma veemente pelo governo de Bashar al-Assad.

Os últimos passos dos Estados Unidos em relação à Síria dão fortes sinais de que a opinião pública está sendo manipulada para apoiar um eventual ataque contra o país do Oriente Médio.

Kerry falou com vários colegas diplomatas no sábado (24), como parte da sua tarefa de reunir tudo que puder contra o governo sírio, principalmente o uso de armas químicas – não importando se, de fato, foram usadas pelos bandos armados oposicionistas -, por isso realizou uma série de consultas com os ministros da Jordânia, Turquia, Arábia Sauditae também com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi.

Kerry classificou os ataques de “inegáveis” e “indesculpáveis”. “É real e convincente. É uma obscenidade moral”, disse.

Obama também teve um encontro com sua equipe de segurança nacional e ordenou que se reunam os "fatos" e as "provas" antes de tomar qualquer decisão, tudo isso em meio a indícios de movimentos navais e de tropas do Pentágono estacionadas em áreas vizinhas às costas da Síria.

As declarações de Kerry colocam em choque os Estados Unidos e a Rússia, que na questão tem se posicionado ao lado da Síria. Mais cedo, o presidente russo, Vladmir Putin, havia afirmado, durante ligação ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, que “não havia evidências” de que um ataque desse tipo havia acontecido na Síria

“Não há evidência sobre se um ataque com armas químicas aconteceu ou quem foi responsável”, disse Putin a Cameron, segundo um porta-voz do governo britânico.

Nesta segunda, a Síria autorizou a entrada de uma missão de pesquisadores das Nações Unidas na área onde supostamente teriam sido utilizados armamentos químicos na cidade de Damasco, mas o comboio dos especialistas foi agredido por franco-atiradores dos bandos armados e dos terroristas.

Conselheiros da presidência sugeriram que qualquer decisão leve em consideração o modelo de intervenção em Kosovo, em 1999, realizado sob a proteção do Pacto Militar do Atlântico Norte, o que permitiria agir sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU, segundo afirmou recentemente o diário americano The New York Times.

Em 21 de agosto, grupos da chamada "oposição" armada acusaram o Exército Árabe Sírio de efetuar um ataque com gases tóxicos na zona leste de Damasco.

O governo sírio negou categoricamente as alegações, que qualificou de "manipulação burda" para estimular os desejados planos de uma intervenção militar no país, para derrubar mais facilmente o governo de Al-Assad.

O curso dos acontecimentos lembra o roteiro utilizado durante a invasão e ocupação do Iraque, em março de 2003.

Naquele momento, o então presidente George W. Bush, o vice-presidente Richard Chenney, o chefe do Pentágono, Donald Rumsfeld, e o secretário de Estado, Colin Powell, asseguraram que Bagdá possuía armas de destruição em massa, o que posteriormente se configurou como uma enorme mentira.

Com agências