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João Augusto Moojen: O Partido e as Manifestações de Junho

“O Partido operário deposita todas suas esperanças nas massas, mas não em massas atemorizadas, que se submetem com passividade e toleram resignadamente à opressão, mas em massas conscientes, que reivindiquem e lutem” V.I Lenine – Os Comunistas e as Eleições”

Por João Augusto Moojen*

Muito se ouve que o Partido deve “ouvir as ruas”, inclusive descrito no ítem 88 de nossas teses. Penso que esta premissa coloca o Partido em condição de coadjuvante nas lutas que virão, como fomos nas travadas com as manifestações ocorridas no mês de junho, e nos mostra uma dificuldade para compreender o que ocorreu nas cidades brasileiras desde o inicio de junho.

Não faltam teorias e conceitos, o que falta é análise política, análise concreta da situação concreta.

Nosso Partido tem o papel histórico de ser a vanguarda revolucionária, com objetivos permanentes, estratégia de ação e nossa afirmação como comunistas.

A voz das ruas que atingiu alto e bom som mostra a emergência de um novo modo de luta política e o esgotamento do atual.

Nas últimas décadas se formatou um modelo de crescimento e de ascensão social onde se obteve algumas conquistas, mas criou muitas ilusões consumistas – naturais do capitalismo, jogando os trabalhadores numa armadilha, da qual eles agora querem se libertar.

Os milhões que foram às ruas ou pelas redes sociais, mostraram um claro indicativo de que as instituições; governo, parlamentos, sindicatos, partidos estão desacreditados, prova disto foi a não aceitação de bandeiras, e não basta a análise simplista de que as manifestações foram encabeçadas pela classe média e pelos que são contra o Governo Dilma.

Não haviam pautas definidas nas manifestações, mas as que predominaram foram avançadas, no campo político o “Fora Rede Globo” e na luta de classes “Que os Ricos Paguem à Conta”. Quem foi para as ruas acumulou esta experiência.

Penso que nossa atuação no movimento foi tímida e com excesso de cautela, havia opiniões internas de que o movimento foi dirigido pela direita e pela mídia, ora camaradas em todo movimento há disputas e quando estabelecemos estruturas de contato com as massas, não fazemos sem riscos, pois somos um organismo vivo em constante luta dos contrários. Porém, mesmo com nossa tímida atuação, conseguimos junto com outros setores avançados, neutralizar a direita e a mídia.

Acredito que temos a obrigação de sermos protagonistas e dar continuidade às ações de rua para avançar na luta, visto que, o Governo Dilma hoje, na sua essência, é de Centro e só vai avançar para esquerda se for com pressão popular. Essa tarefa é nossa e não é pelo fato de estarmos no Governo que não temos que travar a luta de classes também fora das instituições. Lênin assim defendia: “o Partido deve saber combinar acertadamente o trabalho ilegal com o legal”. Nossa ação como Partido revolucionário Leninista não pode estar presente somente na teoria e no discurso.

Nosso Congresso vem em boa hora, onde penso que o principal tema a ser aprofundado é o tema sobre o Partido, quem somos o que queremos e nossa missão histórica, pois não podemos ser um organismo sem rosto, pautado pelas prioridades das ações governamentais e parlamentares, descuidando de nossa estrutura partidária – organismos de base, que hoje, em grande parte, de forma equivocada, estão atrelados a chefes de governo, parlamentares ou líder pessoal.

João Augusto Moojen, é militante do PCdoB de Porto Alegre-RS.