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Renato Arthur: Partido: Reflexo de ações e forma organizativa

Parte 3
Como este é o meu último artigo, dos três possíveis, quero concluí-lo apresentando minhas preocupações sobre a questão que considero de extrema importância, a visão de partido, sua prática a as ações consequentes em sua conduta na aplicação da política, interna e externamente; certa formulação me chamou a atenção.
Por Renato Arthur Nascimento*

Em um artigo apresentado à Tribuna de Debates um camarada trata da questão partidária. Fala em “corporativismo exacerbado”, em “xenofobia partidária”, opondo claramente duas visões de partido. Aquela, que ele defende ser a de um partido mais aberto e arejado, em sintonia com o momento atual, onde falaria mais alto a “democracia”, um partido “administrado” para o crescimento. Em oposição à visão leninista de partido, de caráter revolucionário, que trava a luta política, porém, com uma preocupação quanto à forma e à sua organização interna, onde o Centralismo Democrático tem o seu peso maior, contrário ao democratismo desta visão mais “aberta”.

Se esta dicotomia entre a amplitude e o leninismo for vista como corporativa e exacerbada, onde o Partido deve rebaixar sua posição frente às necessidades administrativas, então assumo esta formulação como a minha visão de partido. Pois quero que meu Partido seja um condutor da luta de massas e não um partido desfigurado, a reboque das massas, dependente de questões alheias à sua linha política, com uma prática distante daquela que considero a mais correta. Serei então mais um membro do “corporativismo exacerbado”.

Mas, como a História sempre nos dá pistas para seguir em frente, vamos pensar no que e como se deu o processo revolucionário na Rússia, com Lenin a frente do Partido. Além dos bolcheviques, existiam outros partidos que dividiam o campo revolucionário, além dos partidos de direita. Mas vamos nos concentrar naqueles que estavam mais próximos nas ações revolucionárias.

Os mencheviques, que não se pautavam pela mesma visão organizativa e política, em oposição ao Partido. E os socialistas revolucionários, representantes de parcelas expressivas de camponeses e que também tinham uma prática política diferenciada. Lembro aqui um detalhe importante, quase nunca comentado, principalmente por seus seguidores. Trotsky era menchevique e aderiu aos bolcheviques em um momento mais próximo da revolução. E, mesmo durante os momentos iniciais, ainda não fazia parte do Comitê Central bolchevique.
Destes dois partidos, certamente muitos aderiram aos bolcheviques após a vitória da Revolução. E com esta adesão levariam consigo as suas práticas e uma outra visão de partido, mais “aberta”, mais “ampla”; mas Lenin e Stalin, posteriormente, iriam defender o caráter revolucionário do Partido, na defesa de sua organização e prática política.

Deveríamos então dizer que tanto Lenin quanto Stalin se pautaram pelo “corporativismo exacerbado”, em oposição a esta “visão mais ampla de democracia partidária”? Ou que sofriam de “xenofobia partidária”?

Como sindicalista, embora hoje quase aposentado, sempre lutei pela visão da luta sindical pelo viés revolucionário, oposto à visão economicista, que influencia uma parcela significativa do movimento sindical, pois para muitos companheiros a luta sindical, estrita, prescinde da luta política. Algo que Lenin deixava bem claro em seus escritos sobre os sindicatos.

A posição mais “ampla”, “aberta”, seria a prática economicista em oposição à visão revolucionária? Já que uma atingia a massa de trabalhadores no que ela tem de mais sensível, o bolso? E a outra preparava os trabalhadores para uma luta incansável contra o sistema capitalista. Seria este um confronto entre o “corporativismo exacerbado” de Lenin frente os interesses “maiores” daqueles que não se pautavam pela Revolução?

Tenho visto com reservas companheiros que utilizam um texto de Lenin contra Lenin. Citar o livro “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo,” como argumento de defesa em oposição aos que defendem o Partido pela sua forma de organização leninista, não é atacar Lenin?

No item 105 das teses do congresso encontramos a citação do Leninismo Contemporâneo, que é uma expressão que deverá ser mais bem compreendida, já que tem possibilitado uma visão de negação do caráter revolucionário de nosso partido para alguns militantes e dirigentes. Como se esta deveria ser a “grande novidade” a ser implementada. Porém, a ressalva contrária a esta posição se encontra no mesmo item, ao colocar que: “O desafio é firmar a concepção de permanência de princípios e identidade comunista, renovação de concepções e práticas com base em um caminho próprio para o socialismo, e abertura para ampliar as fileiras partidárias e falar a toda a sociedade.” Trabalhar a dialética do movimento revolucionário brasileiro, mas a partir da permanência de princípios e identidade comunista, reafirmo aqui. Mas com o devido cuidado, para evitar desvios, seja à esquerda ou à direita em nosso caminho para a Revolução.

Por fim, gostaria de fazer minhas as palavras do camarada Clovis Calado, que em seu artigo sobre a leitura correta do livro Esquerdismo…, de Lenin diz:

“Portanto, é necessário – mais do que nunca – reforçar o papel combativo do Partido, tornando-o próximo das massas trabalhadoras, com uma linha mais justa e um incansável trabalho ideológico, formando combatentes revolucionários para a luta. Sem isso, o Partido se transforma em Partido Comunista apenas nas palavras.”

*Titulo Original:A Visão de partido: Reflexo de suas ações e forma organizativa.

*Renato Artur Nascimento é militante do PCdoB São Luis, Maranhão.