Europeus suspendem exportações militares para o Egito

O governo espanhol anunciou a suspensão de todas as licenças de exportação militares para o Egito, ao condenar o "uso excessivo de força" contra civis. O anúncio seguiu a medida britânica, que suspendeu 49 licenças de exportação militar ao país africano, de acordo com uma notícia do portal Middle East Monitor, desta quinta-feira (29). Entretanto, o “código de conduta” dessas exportações definido pela União Europeia ainda é aplicado de forma parcial.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Simulação militar da Espanha - Pablo Lanza

As exportações de material bélico ou afins, com uso militar, é condenada frequentemente por movimentos sociais e analistas políticos europeus que acompanham a escalada da violência em países como Israel e, recentemente, o Egito (desde a deposição do presidente Mohammed Mursi pelo Exército, em 3 de julho), sobretudo pela responsabilidade dos governos europeus e norte-americano no assunto.

O governo do Reino Unido afirmou, quando anunciou a suspensão de 49 licenças de exportações de materiais militares ao Egito, que não quer ver bens britânicos usados na atual tensão interna no país, com confrontos que já causaram a morte de centenas de civis.

As licenças suspendidas incluem partes extras para helicópteros, aviões militares, programas de software e ferramentas de comunicação para tanques, de acordo com o portal Middle East Monitor. A União Europeia tem legislação, procedimentos específicos e “códigos de conduta” sobre a exportação de armas, mas a sua aplicação ainda é extremamente parcial.

O secretário britânico para o assunto, Vince Cable, disse que “como resultado dos eventos recentes no Egito, concordamos com nossos parceiros da União Europeia sobre o avanço na suspensão de todas as licenças de exportação de materiais que poderiam ser usados pela repressão no país”.

Cable, citado pelo Middle East Monitor, explicou que a razão da medida: “Ao agirmos em conjunto, enviamos um sinal claro de que condenamos a violência no Egito”.

O papel do Complexo Militar-Industrial nas agressões internacionais e na escalada das tensões tem ficado cada vez mais evidente, a partir do estudo de importantes institutos de pesquisa e grupos ativistas que se dedicam à observação do comércio mundial de armas e outros recursos que podem ser usados militarmente ou na repressão interna.

Entretanto, o comércio de armas e outros materiais usados pelas Forças Armadas é mantido virtualmente irrestrito com países da região como Israel, que não apenas reprime e ocupa os territórios palestinos, como é ele próprio um dos maiores Exércitos do mundo, com exportações próprias de veículos, aeronaves, mísseis, sistemas de vigilância e munições para todo o mundo, através de empresas como a Rafael.

De acordo com organizações espanholas de observação do comércio mundial de armas, como a Nova e o Centro de Estudos J.M. Delàs de Justiça e Paz, que publicaram um relatório específico sobre o comércio de armas entre Espanha e o governo israelense, “Israel converteu-se em um dos Estados mais militarizados do mundo e produtor de um dos sistemas mais avançados no setor militar e de segurança”, como produto da manutenção de um conflito de mais de 60 anos.

Ainda assim, as relações comerciais com a Europa neste setor mantêm-se praticamente inalteradas, ainda que o desenvolvimento da indústria militar israelense seja feito, segundo defensores de direitos humanos do próprio país, através da experimentação na repressão e agressão contra os palestinos e o vizinho Líbano.