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Jairo Junior: Ser governo

As teses apresentadas ao 13º Congresso do Partido coroam de forma exitosa o esforço do comitê central e de suas comissões de trabalho, de contribuir para o importante debate que ora inicia-se.
Por Jairo  José Junior*

O texto é um bom ponto de partida para este fundamental evento da vida partidária. Não encará-lo como mera obrigação estatutária e buscar, sobretudo desenvolver os documentos através de um debate vivo e participativo, indo além do que está escrito.

Ao estudá-las resolvi, dentro das minhas limitações teóricas e intelectuais, destacar três aspectos, que apresentarei nos artigos a que tenho direito de acordo com as normas estabelecidas.

“Balanço do Decênio: Governos Lula e Dilma”

Nesta parte a tese apresenta um balanço equilibrado e com grau de consistência razoável dos 10 anos de governo dirigidos pelo PT.

Com razão destaco: “O partido defende”, para a coalizão governista, uma relação na qual predomina a unidade, mas refuta o “seguidismo” preservando sua independência política com relação ao governo “e continua “… julga que a crítica é indispensável ao próprio governo para corrigir descaminhos e a mobilização do povo é a força motriz indispensável às mudanças”“. O que vejo, é que nem sempre ocorre desta forma. Não quero simplificar o exercício de tal constatação, pois considero que o dia a dia é repleto de armadilhas e condicionantes que a toda hora coloca a prova tal atitude.

A definição é justa o esforço do núcleo dirigente central partidário é visível e meritório. Ser governo, não deve ser confundido com governismo. Pois um, considera a preservação da independência crítica o outro diz “amém” a tudo que do governo vem. Os governos no geral querem e adoram os seguidistas.

O termo “seguidismo” grafado entre aspas na tese nos permite uma reflexão sobre como tem sido na prática nossa participação no governo e se ela tem de fato nos conduzido, no seio da frente ampla que participamos ao crescimento partidário e de nossa influência onde ela é necessária aos nossos objetivos estratégicos que é entre os trabalhadores e o povo.

Considero imperativa a participação no governo que nós ajudamos a eleger. A sociedade não entenderia se nós assim não procedêssemos. Além disso, não seria correto nós emprestarmos nosso apoio e participação durante as campanhas e não durante o exercício dos mandatos. A questão se impõe ao nosso partido como fruto, portanto, de um conjunto de circunstâncias.

Mas será que nós estamos sendo suficientemente independentes e sendo reconhecidos como tal pelos trabalhadores e o povo? Claro que as limitações impostas por um ambiente onde somos via de regra amplamente minoritário, por vezes nos força a assimilarmos o “modus operandi” predominante.

A resolução do 9º Congresso diz “… nós nos propusemos nestas funções barrar as consequências brutais do neoliberalismo que deixou sequelas e práticas perversas impede que se consumissem danos irreversíveis a democracia, aos direitos sociais do povo e ao patrimônio econômico da nação” e vaticina “sempre buscando elevar a luta social e educar politicamente o povo”.

Nós sabemos que a universalização é concreta não deve diluir-se em matizes peculiares a cada caso, contudo, é importante avaliarmos de forma franca, transparente e corajosa, se o partido nestes dez anos em questão, não se deixou levar, aqui e acolá, por posições, que em nome da unidade ampla nos afastou, mesmo que momentaneamente dos objetivos buscados.

Esta não é, repito uma movimentação fácil. É preciso, que tenhamos (e nem sempre temos) mecanismos de aferição que a todo o momento nos ajude a controlar a ação e quando necessário corrigir rumos daqueles que em nome do partido assumem funções nos governos.

A nossa linha política exige a interação entre as frentes de luta teórica, luta social e luta institucional. A participação em governos, a conquista de governos e/ou cargos no executivo não é a nossa única tática. As vitórias neste campo são muito importantes, mas não nos aproximará automaticamente dos objetivos estratégicos.

Um projeto verdadeiramente coletivo, transformador, em consonância com as aspirações populares precisa encontrar nas nossas participações, estímulo e reforço.
Não ser “seguidista” é, principalmente, construir no âmbito do governo e das frentes que participamos referências individuais e principalmente coletivas que aos olhos do povo apareçam como diferença positiva num ambiente que é muito criticado pela sociedade.

No que pesa a tentativa da direita e das elites de tentar tirar proveito do ambiente crítico que se vive no país. É inegável que existe uma insatisfação popular e dos setores médios com o que eles entendem sendo descaso, lentidão, e até irresponsabilidade dos que governam. As passeatas de Junho demonstraram isso. Nós devemos compreendê-las como, no geral, positivas. E é neste contexto que devemos debater este balanço com a militância e com o povo.

No ambiente dos governos que participamos é necessário, ainda mais que antes, privilegiar a construção de uma ampla base de massas, construir redutos sólidos em apoio a nossa corrente de opinião e pensamento seja no esporte, na cultura, no turismo, meio ambiente, etc.

Construir e fortalecer uma base social que reforce o PCdoB, enquanto projeto coletivo. Geralmente nós trabalhamos as lideranças que participam do governo para se tornarem candidatos. Só que nem sempre são eleitos, e isso termina por limitar o alcance de nossa participação.

Resgato por fim, um trecho (mais um) da intervenção ao 9º Congresso, primeiro a tratar desta questão de forma resolutiva: “devemos ressaltar que tal participação deve ocorrer nos marcos dos princípios e normas do nosso partido, do desenvolvimento de sua identidade própria e de seu fortalecimento”. Mais a frente continua o texto-“… devemos ser autorizados pelo partido a essa participação, prestar-lhes contas deste trabalho, submetê-lo ao crivo partidário e também da base social de apoio…” e por fim conclui – “… se a participação em governo fragiliza o trabalho da direção partidária, é pouco provável que avancemos em nossos objetivos”.

*Jairo José Junior membro da Comissão Política Municipal-SP