Famílias acampam na GO-040

São quase 1,4 mil pessoas, que vieram de Mairipotada, à espera de serem assentadas pelo Incra

Sem Terras na GO-040 - Sebastião Nogueira - O Popular
Cerca de 370 famílias montam, há uma semana, acampamento nas proximidades da G0-040, entre Aparecida de Goiânia e Aragoiânia, no entroncamento que dá acesso ao município de Guapó. Elas viviam, há três anos e seis meses, em Mairipotaba, em outro acampamento, e já foram cadastradas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em Goiás (Incra-GO), para serem incluídas em assentamentos.

“O cadastro foi concluído há um mês e, na ocasião, o Incra nos pediu 40 dias para finalizar a vistoria das terras para as quais seremos transferidos. Saímos de Mairipotaba e viemos para cá por causa da distância e da maior facilidade para conseguir emprego, enquanto esperamos pelo assentamento”, explica o líder do grupo, Melquizedeque Santiago, cujo sobrenome batiza o acampamento.

No local, além das barracas de lona e de madeira, está sendo erguido um espaço para orações, onde, segundo Melquizedeque, todos se encontram, independentemente da crença religiosa. As famílias – o que representa cerca de 1,4 mil pessoas, pelos cálculos do líder – são oriundas de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo e viviam de aluguel; sonham, há três anos, com um pedaço de terra para desenvolver a agricultura familiar.

De acordo com Melquizedeque Santiago, a mudança de município não trouxe prejuízo para a educação das crianças e adolescentes do acampamento: “O ônibus passa todos os dias e os leva para a escola. Conseguir vaga no interior é mais fácil, não tem aquela burocracia toda que a gente vê na capital”, comenta.

Morada antiga

Pouco acima do Acampamento Santiago está o Acampamento Sol, onde outras famílias também esperam pelo assentamento. Zilda Maria Benedito Anastácio, de 61 anos, é uma das mais antigas no local, ao lado do marido e de duas netas. A família vive ali há cerca de seis anos.

“Nesse tempo, o Incra já transferiu algumas pessoas e eu fui ficando. As terras eram no Norte e eu não queria ficar longe dos meus filhos”, conta a mulher, que trabalha com reciclagem de lixo e também diz estar no cadastro do Incra. Um dos filhos dela vive em um lixão; outro, na cidade de Mairipotaba. Sorridente, com uma das netas pela mão, Zilda confessa que, embora tenha consciência de que precisa ser assentada logo com a família, gosta da vida que leva sob a barraca de lona: “Já me acostumei tanto; meu filho briga comigo, mas eu acho bom”, declara ela.

Recém-chegada do Estado do Maranhão, Maria Cícera Bezerra Carvalho, de 35, é vizinha de Zilda no Acampamento Sol. Ela se alojou no local há quatro meses, com o marido e quatro filhos. “Ainda não temos cadastro para assentamento, mas vamos esperando”, afirma Cícera.

Em comum, os dois acampamentos às margens da rodovia têm na solidariedade entre as famílias moradoras uma de suas principais características. Zilda Anastácio conta que Melquizedeque Santiago, quando chegou, na semana passada, perguntou se poderia ficar no local. “Não é ir chegando e montando acampamento; a gente tem de respeitar o direito do outro”, frisa Melquizedeque.

Fonte: O Popular