Filme brasileiro mistura ficção, documentário, arte e ocupação

Coreografias, improviso, orixás, goteiras, criação, arte, solidariedade, intimidade. O clima de Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro mistura linguagens de documentário e ficção para apresentar a vida e a criação dentro da Companhia Rubens Barbot, um dos mais antigos grupos afrobrasileiros de dança contemporânea. Assista o trailer.

Por Xandra Stefanel, especial para RBA

 O diretor argentino Gatto Larsen e o coreógrafo brasileiro Rubens Barbot são companheiros de vida e arte há mais de 40 anos. Eles acabaram de se mudar para um casarão abandonado no centro do Rio de Janeiro que passa a ser, além de moradia, o estúdio de dança da companhia. O dia a dia de uma casa “normal” se mistura com um ambiente de criação artística e o culto aos orixás.

O filme começa com uma coreografia encenada entre luzes e panos translúcidos que dançam ao som de uma poesia sobre a ocupação da cidade pelo homem e vice-versa. Na verdade, Gatto, Barbot e a companhia encenam suas vidas reais em lugares reais. E é isso que Allan Ribeiro capta: a luta do dia a dia para manter vivo esse trabalho, a dança, a religiosidade, as questões raciais e sociais, a interação com uma cidade que exclui os que não têm recursos e o companheirismo que vai além do senso comum.

Eles têm permissão de ficar naquele lugar até que o casarão seja vendido. Mas não há incerteza, foram os búzios que falaram: “Não importa o caminho. Não precisa de dinheiro. Vocês vão permanecer nesta casa”. Mesmo com as visitas constantes de prováveis compradores, a vida e a arte pulsam harmoniosas e inabaladas pela constante ameaça de uma nova mudança. A cada visita, as baforadas de Exu expelem o perigo.

O centro do filme é a relação que os protagonistas têm com a vida e a com arte e a simplicidade com que agregam os artistas ao redor das criações da companhia. O casarão abandonado que aos poucos ganha vida parece servir de metáfora das questões urbanísticas atuais, como se fosse um fragmento da transformação da cidade em algo mais humano e menos comercial. Uma batalha ganha na guerra da especulação imobiliária que faz sucumbir estruturas físicas e humanas.

A companhia cria e ensaia dentro do casarão, mas leva sua arte às ruas, ao espaço genuinamente público. Coreografias feitas em cenários típicos (não turísticos) do Rio de Janeiro são a maneira com que eles se apropriam da cidade: de frente para o mar, os movimentos dos dançarinos estão em plena comunhão com a natureza. Seus corpos negros desenham movimentos que misturam danças e lutas de libertação, numa delicadeza que em nada contrasta com a rebeldia que exprimem em sua criação artística.

Ao mesmo tempo que os personagens/atores encenam para Allan, há momentos que eles se despem de seus papéis e a câmera parece deixar de existir. Talvez isso se explique pelo fato de o diretor não ser um estranho. Ele mantem uma parceria com Barbot e Gatto desde 2006: eles criaram juntos imagens para espetáculos, restauraram e organizaram os antigos arquivos audiovisuais da companhia e realizaram o curta-metragem Ensaio de Cinema, que ganhou diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais.

Assista ao trailer:
Esse amor que nos consome 
Gênero: híbrido (ficção/documentário)
Duração: 80 min.
Diretor: Allan Ribeiro. Assistente de direção: Douglas Soares
Produtora executiva: Ana Alice de Morais
Atores: Gatto Larsen, Rubens Barbot e Companhia Rubens Barbot
Roteiro: Allan Ribeiro e Gatto Larsen
Direção de fotografia: Pedro Faenstein

Fonte: Rede Brasil Atual