Lula e Nobel da Paz falam do papel das mulheres no combate à fome

Reconhecer a importância das mulheres, respeitar os conhecimentos locais e estabelecer uma relação de igual para igual. Estas são as características essenciais para desenvolver um efetivo combate à fome e à pobreza para Leymah Gbowee, Prêmio Nobel da Paz.

Lula e Leymah Gbowee - Heinrich Aikawa/Instituto Lula

Gbowee participou nesta quarta (11), ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do encontro “Um mundo sem fome: estratégias de superação da miséria”, realizado pela revista Carta Capital. A mesa debateu “A democracia, a paz e a justiça social no Brasil e na África” e foi mediada pelo ex-ministro Franklin Martins.

Leymah Gbowee disse ser extremamente crítica às pessoas que vêm de fora e querer resolver problemas sem conhecer as realidades locais. Ela ressaltou que conhecer e aproveitar os conhecimentos e habilidades locais é muito importante para entender como o combate à fome pode acontecer na prática. O tratamento de igual para igual, em uma relação de aprendizado mútuo também é colocado por ela como básico para que a sociedade esteja envolvida no processo.

O ponto central da fala de Gbowee foi a importância das mulheres nas políticas de combate à fome por serem elas as mais afetadas por esse problema. Lula começou sua fala reforçando esta opinião e lembrou que o Brasil reconhece o papel das mulheres. Ele disse que este é o motivo de o Bolsa Família ser prioritariamente entregue às mulheres.

Para Lula, a questão da fome não pode ser tratada apenas como números e indicadores. “Eu sempre disse que para acabar com a fome era preciso transformá-la em um problema político”. Sobre a cooperação com o continente africano, o ex-presidente ressaltou que tem uma grande preocupação “que a gente não repita os erros dos colonizadores”. “Nós temos que mostrar como é possível fazer e deixar que eles façam com suas próprias experiências”, ressaltou. “A África sabe muito bem como cuidar do seu nariz. Precisamos dar a eles a oportunidade de resolver seus próprios problemas.”

A democracia também é parte essencial da equação para acabar com a fome, afirmou Lula. “Estou convencido de que com democracia e envolvimento público nas decisões políticas é que encontraremos o caminho”.

Segundo o ex-presidente, esta é uma área que o Brasil pode cooperar com países africanos e falou da importância de pensar a democracia em nível global. “Precisamos levar mais a sério a questão da democracia no mundo globalizado. Precisamos pensar na governança global”.

Papel dos programas sociais

A primeira mesa do encontro contou com a participação da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, e do ex-coordenador sub-regional para a África Oriental e representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Mafa Chipeta. Eles debateram o tema “O papel dos programas sociais no combate à fome e à miséria no Brasil e na África”.


Tereza Campello afirmou que os desafios que se apresentam hoje para o Brasil são muito diferentes daqueles de dez anos atrás. Ela ressaltou que “Pela primeira vez o Brasil cresceu com diminuição das desigualdades” e que esse resultado não foi natural, mas fruto de uma série de decisões.

Um dos dados apresentados pela ministra mostra que a renda cresceu em todo o Brasil na última década, mas que esse aumento foi ainda maior em segmentos sociais historicamente menos privilegiados, como mulheres, negros e pessoas de menor escolaridade. Os resultados são fruto de uma série de programas que foram desenvolvidos pelo governo em várias áreas. O programa Luz para Todos já soma 3 milhões de ligações feitas, a qualificação profissional de inseridos no cadastro único está prestes a comemorar a marca de 700 mil beneficiados e o Bolsa Família já tirou 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

“Espero que, em 10 anos, possa voltar aqui para contar o sucesso da África no combate à fome, como está fazendo o Brasil”, começou Mafa Chipeta, logo após a fala da ministra. Ele ressaltou que o Brasil pode ajudar o continente africano, mas que é preciso pensar que tipo de ajuda o continente realmente precisa. Para ele se trata de uma cooperação na elaboração de políticas de combate à fome e não apenas da doação de alimentos.

Segundo Chipeta, os governos têm um papel crucial no desenvolvimento de políticas sociais, mas isso não pode ser pensado de forma isolada. “Na África, é impossível pensar nas políticas sociais sem discutir crescimento econômico”. Além disso, “inserir essas políticas no orçamento de forma permanente é essencial”, disse Mafa Chipeta, citando o ex-presidente Lula.

Fonte: Instituto Lula