Poemas para a palestina
Os poemas aqui reproduzidos serão lidos no recital Palestina em poesia, prosa, imagem, som, que ocorrerá nesta quarta-feira (18), a partir das 20h, no Club Homs, em São Paulo (SP). Endereço: Avenida Paulista, 735, São Paulo (SP). Compareçam!
Publicado 13/09/2013 14:48

Salmo para a Palestina
Marcelo Ariel
não afunda;
Ama.
Uma rosa de cristal
não morre:
Brilha.
Uma rosa de luz
não compreende:
Vive.
Você ouvirá
todas as rosas
cantando seu nome
Palestina
No jardim
que antes estava
fechado para ti.
Palestina
A folha secando
na areia
não será mais
a morte,
mas o êxtase
da fusão
com o céu
que tu agora chamas
de chão,
Palestina
Será como um oração
este calor
desenhando um arco
em volta do teu coração
Uma auréola
de alegria e paz
ao redor
de qualquer rosto
Palestina
Amar qualquer rosto
será mais
do que amar uma Nação,
Erramos quando pensamos
Que o amor estava
Ali, o amor é este lugar
É qualquer rosto vivoe está aqui,
Não é o deslocamento do azul do céu,
Palestina
Não é o sangue derramado
não é o dinheiro, esta onda que avança
por dentro do sangue de inúteis desertos
até o fundo do oceano,destino de todo o ouro
e depois sobe.volta
até a absurda praia dos ossos.
Palestina
Eis o triunfo do amor
Secando o mar de sangue .
Teus mortos
Verão o Sol frio como a Lua
Incipit parodia
Do mais real do que o sonho.
Palestina
Cesse de cantar a canção do impossível
para a aragem
do campo das beatitudes,
que se apague
da mente dos poetas
este canto,
onde Querubins sem braço
com a cabeça enfaixada
brincam com Azrael,
O Poeta do povo
dirá
ao pisar no teu Solo:
Sentimos o nascimento
Dos braços,
A queda
Das asas
E a das folhas
Da árvore do bem e do mal,
Agora nos consola
Saber
Que a palavra
Mais sublime
Não ilumina o suficiente,
Que uma língua tocando a outra
Não ilumina o suficiente
Somente o olhar dos animais pacíficos
Pastando nos teus campos
Palestina
Como a morte
E o amor
Iluminam
este silêncio
Dos mortos
Para sempre.
Fósforo branco
Cláudio Daniel
Talhos retalhos de torsos retorcidos
ossos negrume carcaças.
Corpos enfileirados peles requeimadas
de carne sucata
nos campos de refugiados
em Sabra e Chatila.
Esta é a hora do morticínio.
Farpas fiapos nacos de membros retesados
e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca termina.
Nenhum Kaddish para os filhos da escrava Agar
nenhuma lágrima para Ismael.
Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos
e o escuro escuro.
Esta é uma história
exilada da história,
que eu e você não devemos saber:
por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.
É preciso calar
a matraca dos jornais;
sim, é preciso fechar os livros, fechar para sempre os livros
e condenar os mortos à perene desmemória
(em algum sítio
mefistofáustico
de Tel Aviv,
que moveu a macabra máquina da morte,
a estrela de David
se converte
em nova suástica).
Porém, eu e você não nos calamos,
eu e você não iremos esquecer,
eu e você somos o cedro do Líbano, a oliveira da Palestina,
o pão fresco nas mesas da Síria.
Houve aqui uma página infame da história,
mas eu e você recusamos o silêncio,
recusamos o esquecimento,
recusamos o perdão.
Gaza da morte
Khaled Fayes Mahassen
Gaza
Fronteiras fechada
saídas cerradas
Gaza da morte
Gaza da morte
quem faz a sorte?
A lua é triste,
a vida é triste
o sol! O sol é muito triste,
a Morte!
Ah! A morte é triste.
Gaza da Morte,
Aos olhos do mundo
casa caída
vida destruída,
criança que morre
na gaza da morte
Aos olhos do mundo
ao protesto surdo.
Oh!
O grito forte
da Gaza da morte.
Sorte?
Paz! Que Paz?
Paz com braço forte
com espada que corte
com povo unido
com governo unido
e o mundo decidido
a mudar a sorte
Gaza
Gaza da morte
Gaza da morte
Gaza
Gaza da morte.
Mudará , mudará a sorte!
Chora alma
Emir Mourad
Grita , chora alma
De pilhas de cadavares
Sobressai o cheiro fecundo
A rosa mais perfumada
De corpos que regam
O futuro que não chega
A injustiça consentida
De um mundo hipócrita
De tão falso
De tão cruel
Seguem os massacres
Sangue jorra
E minha alma chora, grita
Que venham as Intifadas
Sigamos a jornada
Amada Palestina
Voltaremos
Recuse, resista
Israel Azevedo
de onde
tudo
ou nada
jaz
não mais
a guerra
palatável
à própria
carne.
Do ventre do Sinai
Celso Vegro
Colunas de sal
erguem-se do morto mar,
ressequindo corações
que milenarmente
se empilham nas muralhas de Jerusalém.
O menorá cospe chumbo em repetições,
submergidos nas areias do rancor.
Fanáticos bárbaros delirantes
lêem na Kabala
o autêntico nome D’ELE:
GRANADA!
A hirta ordem social grangrenada
assoma viúvas, orfandades e crimes,
semeia esqueletos
e desgraças do destino humano.
A Prometida Terra Devastada
sucumbe seus últimos vestígios de vida,
acampados em agonizantes destroços.
Insanidade e medo,
mobíliam a lacuna
duma inteligência ausente.
Recado, do mundo, ao hóspede
Célia Abila
interrogo:
Covardia escondida em tanques
de sessenta e cinco toneladas,
lava roupa suja de sangue
em triste ensaio macabro.
Holocausto não calou inferno?
Pensamento atravessado de fausto,
encadeado em carnificina indecente
na espoliada Palestina;
herança de um povo abnegado
que tem incerta a paz das casas
de mulheres, crianças e velhos
na trilha pavorosa de intrigas.
Céu e inferno relembram
os laivos dos judeus em movimento
nacionalistas cínicos do horror;
sionismo arcaico à procura
de um cômodo segundo lar.
África, Chipre, Congo
Argentina! Tanto faz.
“Judeus nascidos na França
são franceses da mesma forma.”
O nome de Mahatma Gandhi
veio à tona em voz rouca.
Homens com ” duplo lar”,
onde vão lavar suas roupas?