Fração LGBT do PCdoB se reúne e fortalece luta por direitos

Fortalecer as bandeiras LGBT, atrair novas filiações de lideranças do meio e ampliar o número de candidatos identificados com a pauta. Essas foram algumas das deliberações da Reunião Ampliada da Fração LGBT do PCdoB, que aconteceu na sexta-feira (26), na sede do Partido, em São Paulo (SP). “O PCdoB se identifica como um partido que abriu suas portas para essa discussão sob a perspectiva dos direitos humanos”, declarou a coordenadora da Fração LGBT, a deputada estadual Angela Albino (SC).


Fração LGBT reunida na sexta-feira (26) / fotos: divulgação

O objetivo da Fração é aproveitar o grande encontro dos comunistas em novembro, reunidos no 13º Congresso do PCdoB, para apresentar um documento aos camaradas presentes convocando-os a participarem da luta LGBT. “O movimento LGBT é o que mais leva multidões às ruas atualmente e nós comunistas estamos presente nessa luta, sob o ponto de vista dos direitos humanos. Vamos fazer um chamado a todo o Partido a contribuir e fortalecer a organização da luta LGBT, que é uma luta de todos”, completou Angela, que também é presidenta do PCdoB em Santa Catarina.

Ela sugeriu como proposta para a reunião os seguintes pontos a serem tratados: balanço; a participação da Fração e a contribuição ao pensamento partidário dentro do processo do Congresso do Partido, em novembro; e a organização interna da ação institucional da Fração. Para discutir esses pontos, estiveram presentes representantes de seis estados estiveram presentes para discutir as questões relacionadas à luta LGBT: Denilson Pimenta Júnior, de São Paulo (SP); Deco Ribeiro de Campinas, SP; Carmem Lúcia Luiz, de Florianópolis (SC); Andrey Lemos, de Aracajú (SE); Nanci Rodrigues (RJ) e Cláudio dos Anjos, de Nova Iguaçu (RJ); Flávio Alves, de Mogi das Cruzes (SP), Maurim Teixeira, Manaus, (AM); e o mais novo filiado ao PCdoB Toni Reis, que foi presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais ( ABGLT) e é atual secretário de Educação da entidade. Também participou da discussão o secretário-adjunto de Movimentos Sociais do Partido, Edson França.

“Foi um encontro importante para fortalecer o posicionamento do Partido, que vem correspondendo com o movimento de forma correta. A vinda de lideranças importantes como Toni Reis é uma demonstração desse fato. Do ponto de vista institucional estamos muito bem, além de nossa atuação ser bastante reconhecida nos movimentos sociais”, disse Edson França ao Vermelho.


Da esquerda para a direita, Flávio Alves e Cláudio dos Anjos, durante reunião da Fração LGBT

Durante o balanço, os participantes lembraram momentos históricos da formação da fração, há cerca de seis anos, das conquistas e dificuldades. “Em 2007 fui chamado para uma primeira reunião nacional, no Rio de Janeiro, quando o responsável pelos Movimentos Sociais do Partido era o Ricardo Alemão. Mas era junto com a Bienal da UNE, o que atrapalhou um pouco. Fomos somente eu e a Carmen Lúcia, liderança de Belford Roxo. E a partir dali o movimento foi surgindo, com a autocrítica porque desde 1995 está previsto no regimento do Partido essa bandeira de luta”, lembrou Claudio dos Anjos, professor de informática que trabalha com inclusão digital e está no partido desde 2004, quando atuou na União Nacional dos Estudantes (UNE) e na União da Juventude Socialista (UJS), em Nova Iguaçu (RJ).

Conquistas

Um dos pontos destacados durante o encontro foi a atuação dos comunistas no Congresso Nacional. A deputada federal Manuela D’Ávila (RS) é um dos principais nomes entre os parlamentares que, ao lado de Jean Wyllys, tornou-se uma das principais defensoras de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais do país. Como relatora do projeto de lei que instituiu o Estatuto da Juventude, Manuela teve um papel fundamental para assegurar no texto, sancionado pela presidenta Dilma no dia 5 de agosto, a livre orientação sexual.

“Manuela D’Ávila, Angela Albino, entre outros, demonstram que essa é uma luta de todos, não somente de quem é LGBT. E durante todas as votações que giram em torno do tema, toda a bancada do Partido vota fechada e comprometida com a causa”, lembrou Edson.

Todos os presentes concordaram que, por conta da atuação da legenda, é possível e necessário um empenho maior do Partido para acompanhamento de todas as ações sobre essa temática. “Nós da Fração entendemos que é possível avançar e saímos uma grande unidade e com o desafio de fortalecer a luta nos estados, além de nacionalmente”, completou o secretário-adjunto de Movimentos Sociais, que também milita pela causa LGBT, além de ser um forte representante do movimento negro, à frente da União de Negros pela Igualdade (Unegro).

Outro desafio do PCdoB assumido pelos integrantes da Fração é a elaboração de um pensamento político e de uma política que considere os direitos LGBT e a luta pela transformação, sempre dialogando com o compromisso do desenvolvimento do país.

Uma das questões que mais suscitou o debate foi o enfrentamento ao conservadorismo, que vem avançando em diversos espaços de poder, como o Congresso Nacional, representado por uma bancada religiosa extremamente conservadora. Todos os presentes “O crescimento do fundamentalismo religioso é uma reação conservadora a esse processo de conquistas que a sociedade brasileira vem acumulando nos últimos anos, do ponto de vista dos direitos humanos”, avaliou Edson França.

Além de ir para às ruas e mobilizar a todos no combate à homofobia, algumas tarefas foram assumidas para que se alcance um número maior de candidatos comunistas que defendam os direitos LGBT. Um deles será o de identificar lideranças LGBT nos 27 estados brasileiros e filiá-los ao Partido, independente se sairão ou não candidato. Depois, identificar os que têm maiores condições de se candidatarem e estabelecer uma pauta comum de defesa dos direitos LGBT para as eleições e pautar as bandeiras a todos os candidatos e aliados do Partido. Por fim, é preciso empoderar os candidatos da Fração não somente com a militância comunista, mas também junto aos movimentos sociais.

Novo fôlego

Entre os presentes estava Toni Reis, que acumula um histórico de luta LGBT, e que recentemente se filiou ao Partido. Durante o encontro estadual do PCdoB do Paraná, em meados de setembro, foi eleito secretário de Movimentos Sociais.

“Eu vendo de fora tenho uma avaliação muito positiva sobre a atuação do partido e digo que estão todos de parabéns porque vocês souberam dialogar com as pautas, está introjetada essa questão no partido e por isso mesmo entrei no partido. Inclusive, muitos militantes do movimento têm me procurado para se manifestarem favoravelmente a minha vinda ao PCdoB. Identifico-me com o partido por conta da organicidade, temos um comitê central, temos uma estrutura que nos possibilita o centralismo democrático”, pontuou Toni Reis durante a reunião.

Para o militante que luta contra a homofobia, a legenda inicia uma nova fase de fortalecimento e amadurecimento da luta LGBT, fundamentado em mais de 90 anos de história. “É um partido que luta pelas liberdades, tem uma experiência semelhante à de pessoas como eu, que precisaram viver algum tempo na clandestinidade para ser aceito posteriormente. E acredito que tudo favorece para que os comunistas saiam do armário”, declarou Toni, usando um bordão do movimento LGBT para reforçar que o Partido deve assumir integralmente a luta LGBT.

Toni enfatizou a importância de fortalecer a Fração a partir da produção de teses para a Tribuna de Debates, que é um espaço aberto de debate das teses do 13º Congresso do PCdoB. Para os interessados, as contribuições podem ser enviadas para o email [email protected].

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho

(matéria alterada às 10h59 em 4/10/13)