Luciano explica os conceitos-base das teses do 13º Congresso

 Para uma plateia atenta, o então presidente do Comitê Municipal do PCdoB do Recife, Luciano Siqueira, pontuou seu discurso de abertura da 13ª Conferência, no sábado (28), com orientações e analogias.

 Segundo ele, a intenção "avivar a memória dos camaradas que participaram das assembleias" e fazer com que eles pudessem " entender melhor a qualidade e o tamanho das mudanças que nós fizemos e quais são os desafios que se colocam neste instante".

Leia abaixo a íntegra do discurso.

"Primeiro, nós temos consciência de que atuamos na capital do Estado, cidade polo da Região Metropolitana, que reúne 14 municípios e é palco, acrescentando Goiana mais recentemente, desse grande impulso ao desenvolvimento econômico que vem acontecendo em Pernambuco, com reflexos em todo o Estado e repercussões na Região Nordeste e até no conjunto do país.

O Recife é a capital e a cidade polo nesses ambiente de transformações econômicas e sociais. Concentra o Recife também os núcleos decisórios da política, da economia, e aqui também estão abrigados as principais instituições dedicadas à construção do conhecimento, da ciência, da tecnologia, das ideias inovadoras destinadas a transformar a realidade concreta. E é também o Recife, a cidade do Pernambuco que continua cumprindo o papel que historicamente sempre cumpriu de irradiar influência política e eleitoral para o conjunto do Estado.

Ora, se nós estamos tratando do Recife e com todo respeito aos pequenos municípios do Agreste, do Sertão, é evidente que este debate do 13º Congresso tem tudo a ver com o que nós fazemos aqui no dia a dia. Por quê? Porque o que acontece no Recife é parte das transformações que acontecem no Brasil há dez anos, objeto principal de debate em nossas teses e sobre o quê camarada André Tokarski vai discorrer.

Ingredientes básicos

Muitas vezes nós nos impacientamos. Ora, porque os frutos das conquistas obtidas nesses dez anos, neste ou naquele aspecto da vida em nossa cidade não se fazem de maneira totalmente concreta ou então com muita distorção, muita desigualdade, como há no Brasil. Nos impacientamos também porque certos avanços em plano nacional ainda não ocorreram e nós temos consciência de que é necessário realizá-los.

Por isso, que nós destacamos como elementos das teses que, a exemplo dos ingredientes de uma feijoada, nós vamos todos aqui deglutir, uma feijoada primorosa, mas que para que nós tenhamos plena consciência do valor dessa feijoada e até mesmo ter a compreensão do porquê ela tem aquele sabor especial, nós temos consciência de que faz parte dessa feijoada alguns ingredientes que não estão explícitos, mas que se não existissem nós não poderíamos ter pleno prazer de consumi-la. Estou chamando de ingredientes alguns conceitos que o partido formula, desenvolve, que permite que ele faça a análise que está fazendo. Um dos conceitos é o de ciclos históricos.

Na 9ª Conferência Nacional do partido, ocorrida alguns poucos meses depois da posse do presidente Lula, em 2003, nós dizíamos que a assunção de Lula à presidência da República, a constituição pela primeira vez na História do Brasil de um governo democrático, sob a liderança de forças de esquerda abre a possibilidade da ocorrência de um ciclo novo de transformações econômicas, sociais, políticas, institucionais, culturais, que podem vir a ser um novo ciclo de transformação na História do Brasil.Não dizíamos que iria ser, nós dizíamos que havia a possibilidade.

Ciclo é um período de tempo, que ao cabo dele nós olhamos para trás e verificamos que muitas coisas aconteceram de maneira concentrada, sob a influência de determinados fatores que não existiam antes, passaram a existir e contribuíram para que aquelas coisas acontecessem.

Momento de transição

O segundo conceito muito importante, que muita gente não entende, muitos aliados nossos não entendem, e revelam grande impaciência com o que acontece. É o conceito de transição, que em várias reuniões eu mesmo dizia: 'É uma espécie de travessia'. Quando Lula assume a presidência de República encontra o Brasil organizado sob a orientação neoliberal. Se governava para o capital financeiro, de costas para a nação, para o povo.

De Lula em diante nós queremos substituir o que encontramos por um novo projeto de país, que vai sendo construído ao mesmo tempo em que nós estamos lutando para implantá-lo e a mudança de uma coisa para outra completamente diferente, em tudo na vida, acontece mediante uma transição, uma travessia, que não é calma, não é tranquila, é uma luta dura entre o velho que queremos superar e o novo que ainda está chegando, ainda está sendo construído.Essa transição, portanto, é o que ainda está em curso há dez anos no país e nós precisamos levar isso em conta. Tem avanços, tem recuos, é uma peleja permanente.

Correlação de forças

O terceiro conceito importante que é ingrediente da "feijoada" é a tal da correlação de forças. Ora, se o que nós queremos fazer no Brasil, com Lula, com Dilma, com essas forças que estão juntas, é substituir aquela situação anterior por uma nova é preciso ter força para isso e quem perdeu a eleição para Lula e depois perdeu para Dilma continua com força, tem partidos relativamente fortes, tem a mídia unânime e a favor e contra nós. Então, a toda hora pesa o jogo de cabo-de-guerra, onde uns puxam para um lado e outros para o lado contrário e, se o nosso lado vai tendo força a transição se acelera, avança, se enfraquece a transição é lenta e limitada.

Isso, nós temos de ter na cabeça porque Lula se elegeu duas vezes presidente da República e naquelas duas eleições a maioria dos deputados e senadores não votou em Lula, votaram em Serra, e para ter maioria na Câmara e no Senado foi preciso muito acordo, muito jogo de cintura. Dilma se elegeu com maioria na Câmara e no Senado, mas quando se coloca uma lupa para ver que maioria é essa vê que é uma maioria que em maior parte é meio conservadora, quer mudar, mas não quer mudar tanto. Então, a correlação de forças tem muita importância.

O quarto conceito, o quarto ingrediente importante dessa "feijoada", é a tática . Já discutimos muito isso entre nós e sabe que quem quiser ir daqui até para o Alto José Bonifácio vai saber se vai de ônibus, de carro, a pé, de bicicleta, tem um caminho para chegar até lá. Na luta política o nosso partido aprendeu há muitos anos que lutar sozinho não é bom. É se isolar e se enfraquecer. Nós procuramos sempre unir forças.

Então, a tática do partido, a tática que nós defendemos para essas forças que querem mudar o Brasil é uma tática ampla, de juntar todos os que podem se juntar conosco e ao mesmo tempo aguerrida no sentido de juntar aqueles mais avançados para empurrar a transformação para frente. E a tática tem tudo a ver com as forças que estão lutando, a qualidade das forças que se aliam a nós, as forças que estão contra nós e uma coisa decisiva, com quem está o povo, qual é o nível de consciência e organização do povo.

Povo nas ruas

Ligado a isso tem o quinto ingrediente muito importante que nós discutimos em nossas assembleias de base é a presença de povo nas ruas e sobre isso o que o partido defende é sublinhado nas teses. Nós queremos cada vez mais povo na rua. Quando 1 milhão de pessoas foram às ruas no dia 20 de junho, em 105 cidades, mesmo de maneira dispersiva, espontânea, desorganizada, e mesmo com a infiltração daqueles baderneiros nós pensamos: 'Saudemos essas manifestações porque nós precisamos de força organizada na rua que pesa para melhorar a correlação de forças, pesa para pressionar o Congresso Nacional no sentido de que a transição avance'.

No mundo de hoje, o Brasil é uma das 20 economias mais importantes do mundo, é o país mais importante da América Latina, cada vez mais o que acontece no mundo tem a ver com o que acontece aqui e o que acontece aqui pode influenciar o curso dos acontecimentos no mundo. Por isso, um elemento essencial, que está no nosso Programa do partido e as teses destacam, é a questão do esforço que o Brasil faz pela unidade, pela integração do subcontinente sul-americano.

Por isso, nós destacamos como elemento muito importante a parte internacional, o que acontece no mundo, para o bem ou para o mal, para ajudar a transição ou para atrapalhar a transição, que é objeto da segunda tese.

Do Recife,
Audicéa Rodrigues