Cuba: a mídia ante o desafio da imparcialidade
Salim Lamrani, professor da Universidade de La Reunión e jornalista especialista de Cuba, acaba de publicar um novo livro em Ediciones Estrella, com um título eloquente: Cuba: a mídia ante o desafio da imparcialidade. Este livro de 230 páginas se divide em nove capítulos.
Publicado 07/10/2013 18:30
Tem um prefácio do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor do famoso livro As veias abertas da América Latina. Lamrani, como bom historiador e investigador, sempre enriquece seu trabalho com abundantes fontes, com mais de 350 notas neste livro. Entrevista:
André Garand: Salim Lamrani, falemos sobre seu último livro:
Salim Lamrani: Este livro se baseia no seguinte postulado: Em todo o Ocidente, o fenômeno de concentração da imprensa em mãos do poder econômico e financeiro converteu-se em uma realidade inegável. Em geral, os meios informativos, vinculados ao poder do dinheiro e que defendem a ordem estabelecida, são confrontados pelo desafio da imparcialidade, sobretudo quando se trata de Cuba. É difícil para eles apresentarem de modo objetivo uma nação cujo projeto de sociedade desafia a ideologia dominante. Além disso, Cuba é, por definição, um tema midiático que suscita críticas e controvérsias e, regularmente, acende as paixões.
Que temas abordas no livro?
Meu livro tenta responder às seguintes perguntas: Como os meios apresentam a realidade cubana? De que modo abordam problemáticas tão complexas como os direitos humanos, o debate crítico, a emigração, o índice de desenvolvimento humano e as reações com os Estados Unidos? Acaso desempenham seu papel de quarto poder? Acaso são capazes de emancipar-se do poder político, do poder do dinheiro e oferecer uma visão plural da sociedade cubana? Pois, uma imprensa livre e independe é essencial em toda democracia e se acompanha de um dever de verdade de informação para com os cidadãos.
Por que os meios são tão críticos com Cuba?
Cuba, desde o triunfo da Revolução e a chegada de Fidel Castro ao poder é um tema de debate vivo e animado. Há uma razão essencial para isso: o processo de transformação social iniciado em 1959 mudou a ordem e as estruturas estabelecidas; colocou em julgamento o poder dos dominantes e propõe uma alternativa de sociedade onde –apesar de todos os seus defeitos, suas imperfeições e suas contradições, que convém não minimizar- o poder do dinheiro já não é o rei e onde os recursos são destinados à maioria dos cidadãos e não para uma minoria.
Eduardo Galeano, famoso escritor latino-americano, redigiu o prefácio de seu livro.
De fato, Eduardo Galeano redigiu um texto incisivo, cheio de humor sarcástico, tão característico de seu estilo, sobre Cuba e os meios. Aproveito a oportunidade para expressar-lhe minha gratidão por associar seu nome e seu prestígio ao meu trabalho. Aproveito também essa tribuna para agradecer publicamente a Estela, jornalista espanhola, que me ajudou nessa tarefa.
A capa do livro tem uma citação de Jean-Pierre Bel, nosso Presidente do Senado, que lhe agradece por seu trabalho. Diz o seguinte: "Obrigado por esse olhar sobre Cuba, tão útil”. É um maravilhoso reconhecimento, não?
O Presidente Jean-Pierre Bel é um grande amigo de Cuba. Bom conhecedor da América Latina. Defensor da liberdade de expressão e da pluralidade de opiniões. Procede de uma família de resistentes comunistas e é um grande admirador da Revolução Cubana. Leu alguns de meus livros e me mandou uma pequena mensagem. Expresso-lhe o meu sincero agradecimento.
Uma citação de Robespierre, a quem você dedica o livro, introduz seu trabalho. Por que esta eleição?
Robespierre falava sobre passar a "verdade de contrabando”, pois tinha a convicção profunda que triunfaria. Compartilho esta fé.
Maximilien Robespierre é o patriota mais puro da história francesa. É a figura emblemática da Revolução, o defensor da soberania popular. Desde o início, compreendeu que o poder do dinheiro era o principal inimigo do povo, da república, da Pátria. Por isso, a ideologia dominante vilipendia tanto seu legado. Suas aspirações à liberdade e à justiça social continuam vigentes.
Vivemos uma época bastante curiosa. Glorifica-se aos inimigos do povo; despreza-se seus defensores. Vejamos como exemplo a cidade de paris: não há uma só rua que leve o nome de nosso Libertador, uma só estátua de Robespierre, enquanto que o traidor Mirabeau tem uma ponte e Adolphe Thiers, o carniceiro da Comuna, que fuzilou a 20 mil patriotas em uma semana, goza de um parque e uma estátua. O dia 22 de setembro, dia da proclamação de nossa República, nem sequer é celebrado na França.
Tem alguma mensagem para os membros de France-Cuba?
France-Cuba é uma associação que respeito e admiro por sua inquebrantável solidariedade com o povo cubano. Trata-se da primeira associação francesa de solidariedade com Cuba e só podemos render-lhe tributo e homenagem ao professor Paul Estrade, seu fundador, e felicitar a todos os que dão continuidade à sua obra.
Aproveito a ocasião para transmitir aos membros de France-Cuba minha saudação solidária. Nos encontramos sempre em conferências e debates e conheço suas qualidades humanas, sua hospitalidade e seu espírito combativo. Com certeza terei a oportunidade de vê-los de novo e falar sobre meu novo livro.
Serviço:
Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité
Prefácio de Eduardo Galeano
Paris, Editions Estrella, 2013
230 páginas
18€
Solicitações ao autor: lamranisalim@yahoo.fr
Na livraria veja aqui.