George Câmara: Petrobrás: do Brasil ou S.A.?

Aniversário de 60 anos da Petrobrás, 03 de outubro de 2013. Uma história inquestionável de sucesso, a confirmar a engenhosidade do ser humano.

E mais: a comprovar a extraordinária capacidade do povo brasileiro, na política e na técnica. Desde a luta para sustentar a tese da existência de petróleo em território nacional, às mobilizações patrióticas da campanha “O Petróleo é Nosso!” Os “malucos” tais como Monteiro Lobato dialogando com os “teimosos” do porte de Euzébio Rocha. Lado a lado com as forças mais avançadas da sociedade brasileira. Contra os vendilhões da pátria e a mídia de então. Nas palavras de Barbosa Lima Sobrinho, foram os partidários de Tiradentes contra os de Joaquim Silvério dos Reis.

Vencidas essas etapas ao custo de muitas prisões, mortes, perseguições e até o suicídio do Presidente Getúlio Vargas, novas batalhas e o novo desafio de enfrentar não apenas os entreguistas, a serviço do capital estrangeiro. Agora, travar a luta com a própria natureza e buscar petróleo onde muitos jamais imaginavam sequer a sua existência. Assim em águas profundas, assim na camada do pré-sal. Outra vez a dupla tarefa: comprovar a existência e demonstrar a capacidade de explorar essa riqueza, em condições tão adversas.

Em duas décadas, muito mais do que duas grandes descobertas: a demonstração do que acontece quando se coloca o Estado a serviço da nação e do seu povo. Mesmo que a duras penas. Enfrentando, nessa caminhada, inimigos que outrora se curvaram à coroa portuguesa e/ou ao império inglês. E que hoje afirmam: “esqueçam o que escrevi”. Gente que ainda considera o Brasil como um quintal daqueles que espionam até mesmo o Palácio do Planalto. E a Petrobrás. Do tipo que cultua a subserviência e prefere dirigir a palavra, preferencialmente, em inglês ou, como no passado, em francês.

Como foi possível remar contra a maré e edificar essa obra chamada Petrobrás, orgulho do povo brasileiro? Sem dúvida, combinando a boa política com a boa técnica. Ao sangue das pessoas que tombaram na luta contra os dominadores, somam-se a inteligência e o espírito desbravador de uma valorosa categoria de trabalhadores. Colegas de ontem e de hoje que forjaram a ferro e fogo e que continuam a fazê-lo com tamanha capacidade técnica, colocando a Petrobrás como campeã mundial em setor tão complexo, diante de concorrentes tão fortes.

Esforço coletivo que tornou essa empresa um poderoso instrumento de nosso país e de nosso povo. Instrumento de nossa ciência, de nossa tecnologia, de nossa afirmação em plano mundial frente à concorrência. Portanto, um verdadeiro objeto de afirmação de nossa soberania. E de nossa brasilidade.

Sua trajetória, porém, a fez passar de objeto a sujeito. Sujeito de nossa história. Posto que alcançou não como uma empresa, uma “S.A.” Por mais que seja uma empresa de sucesso inquestionável. Seus acionistas que o digam. Sujeito porque se confunde com o nosso conceito de nação.

Ao se colocar, sob a orientação de um governo progressista e comprometido com o futuro do povo brasileiro, a serviço do desenvolvimento, da geração de riquezas e valorização do trabalho, no combate às desigualdades regionais, a Petrobrás sai da condição de objeto para o patamar de sujeito. Muito mais do que uma empresa, uma vez que seu maior acionista é o povo brasileiro.

Financiar os investimentos no pré-sal ao preço de abandonar as demais regiões do país torna a Petrobrás uma simples S.A., um mero objeto. Porém fazê-lo sem abdicar do papel que lhe reservou a história, como peça chave para o desenvolvimento do nosso país, a torna fiel ao que merece o povo brasileiro: a Petrobrás é Brasil!

 

*George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (08/10/13) www.georgecamara.com.br
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