Adir Campos: A importância da flexão tática
Reforma e revolução, tática e estratégia, são binômios articulados dialeticamente, notadamente como quantidade e qualidade, possibilidade e necessidade. Em termos concretos, da transição do capitalismo para o socialismo, e deste, para o comunismo.
Por Adir Campos*
Publicado 14/10/2013 15:12 | Editado 13/12/2019 03:30
A dificuldade de se entender essa transição e as flexões táticas que se precisa fazer na luta política decorre, sobretudo, da ignorância de se pensar dialeticamente, pois é daí que se desdobram os equívocos em políticas divorciadas da realidade. Afinal, é a própria realidade que é dialética, e não a ideia que fazemos dela.
A consequência disso é a formação do oportunismo de direita nas fileiras do Partido, que leva alguns a perder de vista o próprio objetivo do Partido – a transformação radical da sociedade –, bem como o oportunismo sectário de esquerda, que tambem faz perder de vista o objetivo do Partido, que se traduz na incompreensão da mediação necessária que se precisa fazer entre a atuação imediata e de longo prazo, ou seja, como e por que acumular forças, e de que forma se dá, de fato, a transição do capitalismo para o socialismo.
Muita incompreensão se deu no seio dos comunistas desde a vitória da revolução de 1917. Acreditava-se que aquele movimento aceleraria a revolução mundial. De fato, não foi pouco o que os bolcheviques fizeram, não só internamente (uma grande e poderosa nação), mas tambem mundialmente, semeando, da China aos EUA, por toda a Europa, América e África, organizações forjadas no marxismo-leninismo e durou mais de 73 anos. Não é pouca coisa.
Entretanto, a principal causa do fracasso se deveu a incompreensão da transição – transição essa, diga-se, que se inicia já com a primeira crise de superprodução de 1825 e as primeiras lutas operárias de 1830 e 1848 na Europa. Essa incompreensão tem tudo a ver com a atuação do Estado em uma economia de mercado, da articulação dos Estados dirigidos politicamente pelos comunistas e dos Estados dirigidos pela burguesia. Parece que há certo consenso que a China está compreendendo essa relação melhor e, como disse um economista, “parece que os chineses leram O Capital melhor que os russos”.
Ora, a compreensão profunda do Capital de Marx é essencial para a correta política, principalmente para a ação tática, pois retira muitas deformações idealistas – e um certo moralismo pequeno-burguês – na hora de os comunistas se verem diante da burguesia, fazendo as necessárias composições para governar.
Não devemos temer governar com a burguesia e com ela fazer acordos, desde que tenhamos clareza dos limites e das necessidades concretas que a ação política determina. Nesse sentido, deve ficar claro a própria natureza da política, que é, na essência, uma forma de compor as diferenças para poder governar. Em uma sociedade de produtores de mercadorias, a política é a forma de agir organizada desses mercadores. Não inventamos isso, não podemos ignorar isso.
O que devemos ter claro e bastante claro – é que, de acordo com a explicação científica dada por Marx ao capital e sua célula a mercadoria e o dinheiro esse modo de produção desaparecerá não por causa da mera vontade dos homens, indignados com seus horrores e injustiças, mas porque nas entranhas do capital se oculta à contradição de sua existência histórica.
O capital e a sociedade de mercadores estão em processo acelerado de desaparecimento por causa daquilo que Marx cunhou como “lei da queda da taxa de lucro” e que decorre da “elevação da composição orgânica do capital”, e que, em apertadas palavras, significa que, com o desenvolvimento da maquinaria, da ciência e da tecnologia aplicadas na produção, decresce a parte do capital capaz de criar uma taxa de lucro suficiente para repor os meios de produção e a força de trabalho.
A compreensão correta desse fenômeno espetacular é o segredo do entusiasmo que sentimos em fazer política, pois temos absoluta convicção que o capital tem, quer queiram ou não os seus ideólogos, um limite histórico de existência e terá que desaparecer. Saudações a todos que lutam e dão a vida por essa grande causa.
*Adir Campos é militante do PCdoB Uberlândia.