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Ronald Freitas: Uma opinião

Parte 1
Um partido político é um organismo vivo que só será vitorioso em sua razão de ser, conquistar o poder, se responder adequadamente os desafios políticos, econômicos, sociais e culturais, que a sua época coloca. Esse é o desafio que está posto ao PCdoB na busca de atingir seu objetivo estratégico. Construir no Brasil o Socialismo, como etapa de transição a uma sociedade superior: O Comunismo.
Por Ronald Freitas*

Como está explicito no programa e estatutos do PCdoB, aprovados no 12° Congresso, para atingir tal objetivo, o PCdoB, luta atualmente pela implantação de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, instrumento por meio do qual, acumularemos forças para caminhar rumo ao socialismo. Essa estratégia, e suas correspondentes táticas, derivam de minuciosa e criteriosa analise das condições em que se dão, hoje, no Brasil e no mundo, a luta política.

Quebra de Paradigmas.

O fim da União Soviética e do bloco socialista que em torno dela gravitava, no final do século passado, ao lado de inúmeras consequências geopolíticas, configurou na esfera mundial, uma correlação de forças, onde o sistema capitalista passou a ser hegemônico, e simultaneamente foram quebrados paradigmas em torno dos quais, várias forças comunistas e revolucionárias se referenciavam na sua pratica política.

O PCdoB, que naquele então, já desenvolvia uma política que tinha como centro, basear-se nas condições concretas de como a luta de classes se desenvolvia no Brasil, não se deixou abater diante de tão expressiva derrota. Analisou com coragem os acontecimentos ocorridos na ex-URSS, tirando daí importantes lições, e acima de tudo, reafirmando sua identidade comunista, sua luta pelo socialismo e pelo comunismo.

Das lições que tirou talvez a mais prenhe de consequências, é a de que não existe modelo único de luta revolucionária, e de construção do socialismo. E de que não existe um centro unificador e centralizador da ação dos Partidos Comunistas no mundo.

Considero que o fim da URSS, e a compreensão de que não existe modelo único de se alcançar e construir o socialismo levou a quebra de vários paradigmas: teóricos; políticos; organizativos e econômicos, que orientaram a luta dos comunistas em todo o mundo por décadas, e que ainda hoje, impactam de forma significativa na práxis política de nossa corrente.

Mas a não existência de caminho e modelo único de socialismo, não é sinônimo da não existência de referenciais teóricos, e acúmulos práticos, que balizem a ação dos comunistas nas mais variadas condições nacionais e sociais, que desenvolvam suas atividades. Mas a quebra de paradigmas acima citada, nos leva e enfrentar desafios em vários terrenos, que se não forem corretamente superados, tornarão muito mais espinhosa e difícil à luta por atingirmos os objetivos acima postos. Buscando contribuir com o debate sobre essa matéria, elenco alguns desses desafios que julgo necessário serem superados para sermos vitoriosos em nossa luta.

Partindo da posição de que Marx e Engels são os pensadores políticos maiores, que lançaram os fundamentos de nossa teoria e pratica. Que Lênin, foi o genial aplicador e desenvolvedor para as circunstancias em que atuou das bases teóricas lançadas por Marx e Engels, e como consequência conduziu a revolução Russa de 1917 à vitória. Além do reconhecimento das contribuições destacadas que deram à nossa causa, revolucionários como, Mao Tse Tung, Ho Chi Min, Fidel e outros, de 1917 até os dias atuais, considero, muita coisa mudou no terreno da luta revolucionária, que estão a exigir respostas teóricas a altura.

Para nós comunistas brasileiros, entendermos mais profundamente os fundamentos da sociedade brasileira. Sua complexa estrutura produtiva. As características essências do nosso Estado Nacional. O papel das diferentes classes e agentes sociais, que nele atuam com destaque para os operários e demais trabalhadores. Um maior e aprofundado conhecimento das elites econômicas e culturais do país. Constitui um desafio de natureza teórica e política, que está a exigir um sério esforço.

No terreno da política, dentre os vários desafios que temos enfrentado a partir de uma postura de busca de soluções que façam o país avançar no rumo do progresso social, do socialismo, destaca-se a atual posição de participarmos do governo central da republica, participando de uma ampla frente de centro – esquerda, sem sermos força hegemônica. Essa participação é uma resposta ousada aos desafios que a luta de classes nos colocou no processo político real que se desenvolve desde o fim da ditadura militar em 1985. Chegamos a essa conclusão em 2003, na 9ª Conferencia, mas ela já vinha sendo gestada desde 1985, na medida em que nos comprometíamos com a participação nas disputas eleitorais, como um instrumento destacado de nossa atuação política. Com a vitória da corrente política que elegeu Lula em 2002, da qual fomos e continuamos a pertencer, o problema se colocou de forma concreta, deveríamos participar diretamente do Governo, ocupando cargos de destaque no aparato do estado ou não? Debateu-se a matéria e realizou-se a 9ª Conferência Nacional, onde se decidiu que devíamos participar.

Essa participação que já se desenvolve por dez anos, tem colocado novos desafios. Um deles é o de ver ampliada a ‘base de sustentação do governo’ com forças de centro-direita, e nem por isso nos afastarmos do governo. E como nossas teses ao congresso registram essa participação, tem sido uma política exitosa.

Esse fato foi, e é indiscutivelmente uma posição singular no universo da atuação dos partidos comunistas, e se constitui em uma resposta política ousada, dada pelo Partido, diante das particularidades da luta política em nosso país.

Mas a partir dessa atuação, se colocaram vários desafios que estão a exigir uma mente aberta e focada no futuro para que possamos potenciar as oportunidades políticas que se abrem. Não podemos ficar prisioneiros de não correr riscos que a história registra de outras situações assemelhadas. As condições em que o PCdoB, desenvolve sua atual política, baseada no tripé de: participação institucional; atuação nas lutas sociais e na luta de ideias, são muito diferentes daquelas em que outros partidos comunistas, viveram em meados do século passado.

A formulação das atuais políticas do Partido são respostas que o Partido dá, aos desafios que a busca de concretizar sua estratégia coloca, baseado nas suas análises das condições da luta de classes do Brasil atual. Políticas elaboradas sim, com base nos nossos mestres acima citados, mas elaboradas com base, e não aplicações automáticas de certas experiências históricas.

* Ronald Freitas é secretário nacional  Institucional do PCdoB e Membro do comitê central.